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Vegetação nativa na bacia do rio Santo Antônio

11 de Fevereiro de 2015, por Instituto Rio Santo Antônio

Falamos na reportagem passada sobre a expansão das plantações de eucalipto nos municípios que drenam a bacia do rio Santo Antônio. Vejamos, por outro lado, alguns dados oficiais do remanescente de vegetação nativa em nossa região. Essas informações fazem parte do Monitoramento da Flora Nativa, realizado entre 2005 e 2007 no âmbito do Inventário Florestal de Minas Gerais, fruto da uma parceria entre o governo de Minas e a Universidade Federal de Lavras (Carvalho; Scolforo, 2008).

A bacia do rio Santo Antônio está localizada no bioma Mata Atlântica. A formação florestal nativa predominante faz parte da região fitoecológica Floresta Estacional Semidecidual. Destaca-se a existência de uma mancha (enclave) de Cerrado dentro da área da bacia. A título de localização geográfica local, essa mancha de Cerrado é visível entre os povoados dos Pintos, do Ribeirão e do Cajuru. Ressalta-se que, atualmente, o maior remanescente florestal nativo da bacia do rio Santo Antônio está na Serra das Vertentes, se estendendo do povoado do Ribeirão até o Barracão/Floresta. A preservação desta área é muito importante para a manutenção da biodiversidade em nosso município.

Conforme dados apresentados no estudo, em 2007, Minas Gerais possuía uma cobertura florestal nativa que cobria 33,51% de sua área, em especial no centro-norte do Estado. Na área de atuação do Comitê de Bacia Vertentes do Rio Grande (bacia do rio das Mortes) e na bacia do rio Santo Antônio (afluente do rio das Mortes) restavam, respectivamente, 14,37% e 8,90% da vegetação nativa original. Esses dados evidenciam o elevado grau de antropização/degradação em nossa região e em especial no rio Santo Antônio.

Em relação às fisionomias dessa vegetação nativa, o destaque também é para a floresta estacional semidecidual (Mata Atlântica), que cobriam 7,88% dos 8,9% de vegetação nativa da bacia do rio Santo Antônio. Analisando separadamente os municípios de Coronel Xavier Chaves, Lagoa Dourada, Resende Costa e Ritápolis, conservavam respectivamente 9,93%, 8,91%, 7,45% e 8,67% da vegetação nativa. Percebe-se que o destaque negativo é para Resende Costa, que possuía 92,5% de sua área já bastante alterada pelas intervenções antrópicas. Em Minas, apenas 96 dos 853 municípios possuíam percentual de vegetação nativa menor que o de Resende Costa.

Nos últimos meses estamos vivenciando a diminuição das chuvas e consequentemente da vazão das nascentes e dos cursos d’águas. Você já se perguntou qual a relação entre a água e a vegetação nativa? Eis algumas respostas: a vegetação diminui o escoamento superficial (a enxurrada), que provoca o arraste de sedimentos e de terras para os cursos d’água, causando assoreamento e diminuição de sua qualidade; a matéria orgânica (vegetação em decomposição) segura a água por mais tempo sobre o solo favorecendo a infiltração, que é um processo lento.

Bom, já falamos que os aquíferos da região de Resende Costa possuem pouca água armazenada, uma vez que essa ocupa fraturas e fendas abertas em rochas ígneas e metamórficas, que possuem baixíssima permeabilidade. Em outras palavras, nossos cursos d’águas dependem da pluviosidade (chuva), uma vez que temos pouca água armazenada no subsolo. Assim, destaca-se que a degradação da vegetação das áreas de recarga contribui ainda mais para essa dependência. Dessa forma, ratifica-se a importância da preservação das áreas de recargas, onde há infiltração e permanência de água no solo, sendo essas principalmente as áreas com cobertura florestal nativa.

 

Por fim, segundo Stela Goldenstein: “Outra questão distingue este bem (água enquanto recurso): a produção e acumulação de água são processos fortemente dependentes de condições meteorológicas e também da proteção de vastas florestas. A água não nasce em árvores, mas sem árvores, não há água, já se disse. O valor econômico das florestas (terra, árvores, biodiversidade) que garantem a presença de água onde nos organizamos para captar é objeto de grandes discussões, ainda a amadurecer. Como incluir essa importante variável, a criação e manutenção de florestas, na definição do valor da água, de forma a melhor formar seu preço? Ainda são incipientes os mecanismos de pagamento/retribuição aos proprietários rurais pela proteção que podem fazer às florestas.”

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