O solo é este meio natural terrestre onde nasce a vida, animal e vegetal; é o meio, também, onde se termina a vida – Alain Ruellan
Fernando Chaves
Dos recursos naturais indispensáveis para o homem, um em especial não recebe o devido reconhecimento. Trata-se de um recurso tão importante quanto a água, o ar ou as florestas. No entanto, poucos têm ciência da sua complexidade e do seu valor para a vida.
O solo é a mais fina e externa camada da crosta terrestre. Nele se desenvolve a vida, nele estão alicerçadas nossas casas. Uma das funções desse precioso recurso é filtrar as águas que alimentam os lençóis freáticos, além de produzir alimento, fornecer matérias-primas diversas e digerir dejetos animais e matéria morta.
O solo surge do desgaste das rochas, sob a ação das chuvas, dos ventos, de microorganismos e de outros seres vivos. É um recurso que se renova num ritmo muito lento. Por outro lado, os solos são sensíveis às atividades humanas e podem degradar-se rapidamente, perdendo potencialidades e deixando de exercer suas funções ecológicas.
A deposição de esgoto, a pavimentação urbana e o cultivo agropecuário excessivo ou sem planejamento são algumas das formas de degradação e perda de solo. Mas ele pode degradar-se também em consequência da erosão, causada ou não pelo homem.
A erosão é um processo natural de transformação do relevo, ela é parte do ciclo de renovação dos solos. O processo erosivo desagrega e fragmenta o solo, por meio da ação das chuvas, dos ventos e do relevo. Alguns fatores aumentam a ocorrência e a intensidade da erosão, como declividade do terreno, presença ou não de proteção vegetal no solo, propriedades do solo e cultivo inadequado. O aumento da erosão acarreta a perda de terras agricultáveis, prejudica o abastecimento do lençol freático, contribui para o assoreamento de rios e para a diminuição da oferta e da qualidade da água.
Em Resende Costahá uma grande ocorrência de voçorocas, um dos tipos mais graves de erosão. Também conhecidas como barrancos, as voçorocas são sulcos, rachaduras, escavações abertas no solo, geralmente pela ação das chuvas. Se o solo é comparado à pele do planeta, as voçorocas são feridas abertas no solo. Uma explicação para a grande ocorrência do fenômeno em Resende Costa é a fragilidade de grande parte do nosso solo, que tem alto teor de silte e baixa fertilidade natural, além do cultivo agropecuário com baixa tecnologia.
A região oeste do município, banhada pela bacia do rio Santo Antônio, é a que tem maior concentração de voçorocas, representando um prejuízo ambiental e econômico significativo. Os sedimentos que a chuva retira dessas voçorocas contribuem para o assoreamento do rio Santo Antônio e afluentes. Além disso, as voçorocas representam perda de solo agricultável, isto é, perda econômica.
Em dossiê técnico produzido em 2007 por Analuce Araújo de Abreu para o CETEC-MG (Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais), consta o diagnóstico de que “o rio Santo Antônio é grande contribuinte para o assoreamento da represa de Furnas”. Segundo o dossiê, “ficou constatado que havia pelo menos 754 focos de erosão, além de alta taxa de sólidos em suspensão na bacia do rio Santo Antônio, sendo que as voçorocas eram o tipo de erosão dominante da área”.
Existem medidas de prevenção à erosão e técnicas de controle e estabilização das voçorocas. O planejamento da atividade agropecuária, observando a vocação do terreno, o tipo de solo, a declividade e o impacto do cultivo visado pode preveni-las. Evitar queimadas, pastoreio excessivo e o desmatamento são medidas importantes. Quanto à estabilização e recuperação de voçorocas, existem métodos para diagnóstico das causas da erosão e ações de contenção e revitalização do solo.
Estamos a 90 km de um dos projetos mais avançados de recuperação de voçorocas do Brasil: o Maria de Barro, de Nazareno, que utiliza e difunde práticas de recuperação de solo com técnicas acessíveis e compatíveis com a nossa região. É uma referência excelente para Resende Costa, que carece nitidamente de um plano de recuperação das voçorocas. A preservação do rio Santo Antônio e a manutenção da quantidade e da qualidade das nossas águas dependerão do manejo que fizermos do solo. Cuidemos do nosso chão.