Voltar a todos os posts

Natal: as visitas ao recém-nascido

20 de Dezembro de 2023, por João Magalhães

As festividades do Natal marcam o mundo cristão, e o mundo comercial com muita antecedência começa a propagá-las. Como o ser humano se hominiza dando sentido a seus atos, deixando de ser autômato, acho eu, é necessário dar um sentido próprio a estas solenidades comemorativas.

O nascimento de uma criança, de modo especial um filho muito aguardado, costuma ser muito comemorado, muito festivo. O grupo familiar é o primeiro a acorrer para conhecer o recém-nascido. Um recém-nascido é sempre uma esperança de uma situação melhor. Até rima: criança/esperança.

E com Jesus recém-nascido, isso aconteceu?  Minha fonte para esse comentário são os, assim chamados pelos estudiosos, Evangelhos da Infância, de Mateus e de Lucas. Os Evangelhos de Marcos e de João dedicam-se mais à fase adulta de Jesus e à sua vida pública.

Na narrativa de Lucas (2,1-20), embora tenha nascido em condições precárias por seus pais não haverem conseguido um alojamento decente e terem que se abrigar num refúgio de animais, seu nascimento não deixou de ser festivo. Comemorado pelos anjos, que logo avisaram os pastores da região que, à noite, vigiavam o rebanho. Foram os primeiros humanos a visitarem o recém-nascido. E qual foi o efeito? Saíram felizes, “glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham visto e ouvido” (Lc 2,20).

Outros visitantes foram os reis magos. Agora, a narrativa é de Mateus (2,1-12). Orientados por uma estrela guia, chegam a Belém e deixam presentes preciosos a Jesus recém-nascido: ouro, incenso e mirra. Na proposta messiânica de Mateus, a visita destes estrangeiros mostra que Jesus nasceu para o mundo todo. Os presentes dados seriam a origem da tradição de presentes de Natal às crianças? Talvez, sim. A visita dos magos deixou consequências trágicas para as crianças, da parte do sanguinário Herodes (Mt 2,16-18).

Visita emocionante foi a do justo e piedoso Simeão. “Movido pelo Espírito, ele veio ao Templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir as prescrições da Lei a seu respeito, ele o tomou nos braços e bendisse a Deus, dizendo: “agora, soberano Senhor, podes despedir em paz o teu servo” (Lc 2,27-29).

Visitou-o também, no mesmo local e ocasião, a profetisa Ana. “Como chegasse na mesma hora, agradecia a Deus e falava do menino a todos os que esperavam a redenção de Jerusalém”.(Lc2,38).

Festa de aniversário inclui sempre alegria. A festa religiosa de aniversário de Jesus popularizou-se tanto que até folclorizou-se. Cada povo inseriu nela seus costumes, seus modos de comemorar. No Brasil, a missa do galo é um exemplo. Na minha infância, a nós pobres do Tijuco, aqui em Resende Costa, a única comemoração possível do Natal era assistir à missa do galo, à meia noite!

No entanto, no caso do Natal, é importante não se esquecer das posturas e lições do aniversariante. O núcleo da pregação de Jesus é a promoção do ser humano enquanto pessoa. O acolhimento e o afeto que ele deu às crianças têm que ser realçados em todo Natal.

Numa festa de aniversário da criança Jesus, é triste ver milhares de crianças abandonadas, crianças desnutridas ou passando fome, crianças sofrendo violências, crianças discriminadas pela cor da pele, crianças morrendo por não serem vacinadas, crianças órfãs que esperam uma adoção que nunca chega por causa da burocracia, crianças sem escola, crianças exploradas sexualmente, crianças forçadas ao trabalho infantil, crianças reféns ou mortas pela guerra, crianças moeda de troca etc.

É o que penso. E você?

 

Observação: Neste ano, completam-se 800 anos da criação do presépio por São Francisco de Assis, no Natal, em uma gruta na cidade de Greccio, em 1223.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário