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O Papa Francisco é comunista?!

24 de Abril de 2024, por João Magalhães

“Não gosto do Papa Francisco porque ele comunista.” Já ouvi essa afirmação várias vezes. Vem de grupos e o leitor antenado, ou pertence a estes grupos, ou sabe que grupos são esses. Não pretendo citar nomes. Essa afirmação vem até de familiares muito ligados a mim.

Tenho em mãos uma entrevista que o Papa Francisco deu para a revista “Época”, de dezembro de 2013. Além disso, a revista publicou também uma pesquisa encomendada por ela, revelando a sintonia das ruas brasileiras com a abertura da Igreja defendida pelo papa que sacudiu o mundo em 2013.

Segundo a revista, Francisco desperta também a impressão de que parece se divertir com o que faz, algo inaudito para um papa. Fez piada com seu país de origem, logo no primeiro discurso como Francisco: “Foram quase até o fim do mundo para buscar um papa”! E a revista cita também Fernando Altemeyer Junior, professor de teologia na PUC/SP: “O papa entrou nas casas das pessoas. Não é preciso muito distanciamento para afirmar que 2013 ficará gravado com destaque na história da Igreja Católica. Uma história de 2 mil anos, iniciada por Jesus Cristo.” E continua Altemeyer: “Em fevereiro, o papa Bento XVI renunciou – um gesto inédito em mais de cinco séculos. Em março, Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, foi eleito papa – o primeiro de fora da Europa, em mais de 1.000 anos, e o primeiro do Hemisfério Sul. “Aceito a eleição, mesmo sendo um pecador”, foram as primeiras palavras de Bergoglio ao conhecer o resultado do conclave.

Assumir-se pecador seria uma ousadia mesmo para um jovem coroinha. Vindas do Papa Francisco, as palavras sugerem um novo rumo para o catolicismo. Em dez meses, Francisco mudou o discurso e a percepção sobre a Igreja. As notícias sobre escândalos de corrupção e pedofilia deram lugar a exemplos de humildade, mensagens de tolerância e discussões sobre como a Igreja pode se adaptar às mudanças da sociedade”.

Quanto ao fato de ser tachado de comunista, ou marxista, ele mesmo responde à pergunta da revista: “Algumas das passagens da Evangelii Gaudium (A alegria do Evangelho), sua primeira Exortação Apostólica, atraíram críticas de ultraconservadores. Como o senhor se sente ao ser chamado de “marxista”? Responde o Papa Francisco: “O marxismo está errado. Mas conheci marxistas que eram boas pessoas, então não me sinto ofendido”.

Transcrevo algumas declarações do Papa para minha pergunta final. Em audiência na Praça de São Pedro, no Vaticano: “Somos uma Igreja de pecadores”. Na Evangelii Gaudium: “Prefiro uma Igreja ferida, dolorida e suja, porque esteve nas ruas, a uma Igreja empobrecida, por estar confinada e se agarrar a sua própria segurança”.

No voo de retorno ao Vaticano, após a Jornada Mundial da Juventude, no Brasil, em resposta à pergunta de Ilze Scamparini, da TV Globo, proferiu a frase do ano: “Se uma pessoa é gay, busca a Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la”?

Outra declaração de Francisco: “No ano passado, condenei a atitude de sacerdotes que não batizaram filhos de mães solteiras”   

Diz Ivanir dos Santos, 59 anos, babalaô: “Francisco foi o primeiro a se encontrar com um líder do candomblé. Esse gesto tem uma simbologia muito grande. Mostra, logo no início de seu pontificado, a disposição de aproximar a Igreja Católica de outras religiões”.

No Rio de Janeiro, quando o carro do papa errou o caminho e foi cercado por uma multidão eufórica, ele ignorou o apelo dos seguranças. Manteve a janela aberta e apertou a mão do público em sua primeira viagem internacional como líder da Igreja: “Sempre existe o perigo de algum louco fazer alguma coisa, mas a verdadeira loucura é criar um espaço blindado entre o bispo e o povo”, disse: “Prefiro o risco”. Numa favela, parou diante de uma igreja evangélica e, de mãos dadas com pastores, rezou o Pai-Nosso.

Por tudo isso, você ainda continua achando que o Papa Francisco é comunista? Acho uma aberração. Que ele sofra oposição de cardeais da cúria romana é normal, é admissível. Mas considerá-lo comunista, isto não.

É o que penso. E você?

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