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Que título dar: Aberração? Perversidade? Guerra suja?

18 de Julho de 2018, por João Magalhães

A criatividade do ser humano é quase infinita, tanto para o bem como para o mal. Quem passou pela cena procura anular a lembrança para o horror não voltar. Quem nunca passou arrepia-se só em imaginar. Que cena? Torturar os pais diante dos filhos, ou pior, os filhos diante dos pais.

A cena bíblica de Herodes matando cruelmente os inocentes por motivos políticos (Mt 2,16-17) choca até hoje. Estas cenas de praticar o infanticídio e ou sofrimentos físicos ou psíquicos em frente aos pais, ou o parricídio e ou torturas diante das crianças, presentes em ditaduras, inclusive na última brasileira, causam horror a quem preza sua condição de ser humano.

Arrancar crianças de seu pais, sumir com elas e encaminhar para adoção deixam cicatrizes indeléveis nas famílias vítimas. Práticas comuns nas recentes ditaduras latino-americanas e não só. Veio agora o noticiário de processos na Espanha contra sequestradores e adotantes de crianças sequestradas na ditadura de Franco. Só agora?!

A imigração é um problema mundial de extrema relevância e gravidade. É multidão o número de pessoas que largam seu solo natal. Entre total miséria e insegurança de vida, preferem arriscar, afinal não têm mais nada a perder. Vão para algum lugar onde enxergam alguma esperança de sobreviver.

Do lado dos países alvos dessa esperança fica o desafio. Abrir as portas? Receber? Negar? Devolver às origens? Deixá-las nos braços da morte: o mar, o deserto, o barco precário, a fome, a doença, a insolação...?

E tomo de empréstimo o parágrafo de Luís Fernando Veríssimo, Drama, publicado no dia 28 de junho no jornal o Estado de S. Paulo: “O drama dos refugiados no mundo todo chega a uma espécie de ápice de horror a cada imagem de uma criança morta. Pode-se fazer uma graduação do horror, dividi-lo em categorias, do lamentável ao lancinante, mas nada nos fere mais do que a foto de um cadáver de um bebê que deu na praia como um dejeto humano, ou de uma criança ferida com o olhar esmaecido de quem não sabe o que lhe aconteceu, ou por quê.”

Não se trata evidentemente de negar a cada país o direito de administrar seu território, de defender suas fronteiras, de abrir ou fechar portas aos imigrantes, mas devem-se questionar os métodos.

A tática desumana adotada pelo governo Donald Trump, nos EUA, para impedir imigrações clandestinas, prendendo os pais e separando os filhos deles, mandando-os para abrigos, alguns até tachados de campos de concentração, abalou o mundo das nações que ainda têm em seu âmbito uma boa faixa humanitária, inclusive a sociedade norte-americana e até o partido do governo, o Republicano.  E o número de menores? Mais de 2 mil!

E tal barbaridade agrava-se com possíveis sequelas na vida dessas crianças arrancadas de seus pais, sobretudo da mãe. Segundo o professor de psiquiatria da Universidade do Texas, em Austin, Luís Zayas, uma separação traumática trará danos psíquicos, com grande possibilidade, não afastando uma longa duração deles. E enumera o que pode acontecer: um agarramento desesperado aos pais, um pavor neurótico de sair da presença deles; ansiedade de separação; choro incontrolável; dificuldade para dormir; pesadelos recorrentes; distúrbios alimentares; problemas de confiança nos pais, ou até de raiva. “Vemos algumas crianças até mesmo atacarem os pais. Elas nem sempre entendem o motivo da separação e até colocam a culpa neles; têm dificuldade em se reconectar”, diz o professor.

O professor Saeed Cardoso Jodi Berger, da Universidade de Houston, que estuda os efeitos do trauma sobre os imigrantes, acrescenta: abuso de drogas, alcoolismo, comportamento suicida e transtorno de estresse pós-traumático, ou seja, um conjunto de sintomas físicos e psíquicos que a vítima pode apresentar.

Entenda transtorno de estresse pós-traumático: a vítima ou testemunha de cenas ameaçadoras de sua vida, ao recordar-se do fato, revive o episódio como se estivesse ocorrendo naquele momento, seja a dor ou o sofrimento.

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