Voltar a todos os posts

Olimpíadas 2020: espírito esportivo para não se esquecer

19 de Agosto de 2021, por Vanuza Resende

Há muito tempo eu não via os brasileiros tão unidos como eu acompanhei nos últimos dias, durante as Olimpíadas 2020 de Tóquio. Nem de perto as Olimpíadas realizadas no Rio, em 2016, conseguiram tanta torcida, mesmo sendo os donos da casa. Pelo contrário, na época, muitos foram contra a realização do evento no país, pelos investimentos feitos e pelas denúncias de corrupção.

Eu me recordo, quando criança, das comemorações do Penta Campeonato do Brasil na Copa do Mundo de 2002. Talvez a memória mais antiga que eu tenha do país unido, torcendo em sua grande maioria, pelo mesmo motivo. Desde então, o país do futebol, tão dividido e pouco politizado, parece respirar o clima do 7x1 e um massacre acontece todas as vezes que uma opinião pertinente, mas diferente, surge.  

Dessa vez, não. A polêmica maior aconteceu em meio às especulações de mais um adiamento e a realização do evento. (Foi feito de forma segura?) Mas depois da abertura oficial, as Olimpíadas foram um respiro entre tantas notícias tristes em meio à pandemia. Se os lugares nas arquibancadas estavam vazios, na sala, no quarto e na cozinha famílias inteiras torceram juntas, como se estivessem ali ao lado da Fadinha, da Rebeca Andrade, do Ítalo Ferreira, ou gritando ace nas quadras com os times de vôlei.

A torcida era sempre por aqueles que vestiam as cores da bandeira brasileira. Em alguns esportes, nem dava para entender muito as regras, mas no final o espectador virava quase um perito na modalidade e possuía conhecimento suficiente para brigar com os juízes, que, cá para nós, beneficiaram alguns atletas.

Apesar da maioria da torcida nunca ter subido em um trampolim, nadado em mar aberto e muito menos ter pisado em um tatame, a identificação com os atletas surge instantaneamente. É a ligação do mesmo povo, em sua maioria sofrido, com pouca ou nenhuma ajuda governamental, mas com vontade de vencer. E quem vence conta com a ajuda de poucos: da família, de amigos e daqueles que ainda acreditam. Dá para acreditar que entre os 309 representantes nacionais, no maior evento esportivo do mundo, 131 não têm patrocínios?! É. E 41 só foram a Tóquio, porque realizaram algum tipo de vaquinha para arrecadar dinheiro. É a famosa volta por cima, que é história de vida sim, mas não dá para romantizar.

O Brasil, que teve o seu melhor desempenho da história, com 21 medalhas conquistadas, precisa mudar esse quadro. O país merece mais ouros, pratas e bronzes, sem nenhuma dúvida, mas é além disso.

Muito provavelmente a grande maioria dos leitores não conhece nenhum atleta olímpico. Eu os convido agora a fazer uma busca rápida e pensar nos amigos da escola, da vizinhança, e na família, ou quem sabe a se olhar no espelho: E aí? Quantas pessoas você conhece que poderiam carregar uma medalha no peito? O garoto que anda de skate e aprendeu as manobras sozinho; a menina que tem um ritmo espantoso, sem nunca ter colocado um macacão de ginástica; a criança com fôlego excepcional para a corrida... Não estou dizendo necessariamente uma medalha olímpica, mas uma medalha que pode significar menos gente nas ruas, mais saúde física e mental, (obrigada por tudo que você representa Simone Biles), mais esporte diversificado.

Afinal, nem todo mundo nasceu pra ganhar o bicampeonato olímpico no futebol, simplesmente porque nasceu para ser a primeira mulher a ganhar duas medalhas na ginástica na mesma olimpíada, ser campeã olímpica por três vezes consecutivas no judô, quem sabe o primeiro brasileiro medalhista olímpico na corrida com barreiras, ou ainda, ser uma potência mundial na canoagem. O Brasil é de muitos: de mulheres, de negros, nordestinos. O Brasil pode ser também de todos! Que a chama dessa torcida não se apague até 2024, ano das Olimpíadas de Paris.Que ela continue reluzente sempre, assim como o Brasil no quadro de medalhas!

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário