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Colheita de inverno

19 de Agosto de 2021, por Amana Castelo Branco

Na coluna passada falamos sobre como o vinho combina com esse clima mais frio.  Mas hoje quero contar sobre os vinhos de colheita de inverno. Já ouviu falar sobre eles?

Em boa parte dos lugares em que se plantam videiras, comumente chamadas de parreiras, para a fabricação de vinhos, a colheita acontece no verão. É nessa estação que a planta brota e as uvas crescem sadias e cheias de açúcar, a substância essencial que será transformada em álcool durante a sua elaboração.

No Brasil, várias regiões têm o verão com altas temperaturas e muita chuva, o que se torna um grande desafio para os vitivinicultores. O excesso de chuvas pode afetar o acúmulo de açúcares, a redução dos ácidos orgânicos, que são fundamentais na conservação e no equilíbrio da bebida e também na qualidade da maturação da uva, podendo originar vinhos pouco encorpados, com pouca expressão da sua variedade, tipo de uva, e com redução das chances de condições ideais de envelhecimento, principalmente para os tintos.

Durante muitos anos esse foi um dos principais desafios dos produtores mineiros na elaboração de vinhos finos de excelência no nosso estado, aqueles que são feitos com uvas viníferas, como a Cabernet Sauvignon, a Merlot, a Chardonnay e tantas outras.

Foi testemunhando essa batalha anual e observando o clima seco de inverno da região Sudeste, onde temos dias quentes e noite frias, que o mineiro Murillo Albuquerque Regina, agrônomo e pesquisador da EPAMIG, participou ativamente do desenvolvimento e implantação do sistema de dupla poda, inspirado na produção de uvas de mesa do Vale do Rio São Francisco. Esse sistema, também conhecido por ciclo invertido, ou mais comumente, por colheita de inverno, basicamente altera o ciclo da videira “desviando-o”, através da poda e quebra de dormência e, assim, direcionando-o para que a colheita ocorra no período das secas, compreendido entre os meses de abril e outubro.

Desta forma, as uvas têm uma maturação mais lenta e favorável para a manutenção da acidez e da produção de açúcar, com maior acúmulo de polifenóis e compostos voláteis, os aromas e seus precursores. Nesse período da safra, ocorrem temperaturas variando entre 4 e 8ºC para as mínimas na madrugada, até 22 e 26°C durante a tarde, para as máximas, gerando ótima amplitude térmica para a fruta.

Essa técnica teve início em 2001, no Sul de Minas Gerais, na região cafeeira de Três Corações. Por lá foram feitos inúmeros testes com diferentes variedades e manejos nas videiras. Em 2003 foi realizada a primeira colheita, sendo que as uvas se revelaram muito propícias para a elaboração de vinhos de ótima qualidade. A partir daí, em 2004, vários vinhedos foram implantados no estado, tendo se expandido para outras regiões do nosso país, como Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Em 2005 pude acompanhar de perto, por 6 meses, esse projeto, quando realizei meu estágio final do curso de Enologia.

Atualmente, possuímos mais de 500 hectares de videiras conduzidas por essa incrível técnica de dupla poda. Em sua maioria, nas variedades da uva tinta Shyrah e da branca Sauvignon Blanc. Aqui em Minas, podemos provar e comprovar nosso potencial vitivinícola, já que possuímos vários vinhos de qualidade. Entre eles, vale citar o Primeira Estrada, Maria Maria, ambos do sul de Minas, Quinta D`Alva, da região de Diamantina, Bambini, do Cerrado Mineiro.

Você já provou algum vinho produzido no inverno?

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