A chegada das rádios FM em Resende Costa (Memórias)


Cultura

Camilo Vale0

Vamos continuar falando sobre rádios nesta edição, inclusive comentando acerca da chegada das rádios FM. Como foi? Será que vieram de ônibus, de avião, de carro próprio? Pois é, tem um pouco de graça comentar sobre tudo isso. Mas, antes, vamos falar ainda um pouco de fatos e curiosidades do rádio AM que não foram lembrados na edição anterior.

Você sabia que o Chacrinha e o Sílvio Santos começaram no rádio AM?

Eu me lembro, ainda criança, de programas como Discoteca do Chacrinha, na Rádio Globo do Rio de Janeiro, e do Sílvio Santos, na Rádio Nacional de São Paulo, que depois se tornou Rádio Globo de São Paulo. No entanto, o sucesso maior de ambos os comunicadores foi mesmo na TV.

Havia uma outra rádio AM no Rio de Janeiro, uma das mais ouvidas nos anos 60 e 70, principalmente à noite. Era a Rádio Mundial, que tinha um som de FM, pois pegava muito bem. Meu saudoso amigo José Camilo dizia que, às vezes, acordava de madrugada ao som da Rádio América de São Paulo. Ele ouvia a vinheta da rádio: “América ... duas e vinte e dois da madrugada. Vem aí Amado Batista”. Aí, ele novamente voltava a dormir.

E para aqueles que dormiam demais, após as 5h, vinha o locutor Zé Bétio, na Rádio Record de São Paulo, mandando a dona de casa jogar água no marido. Eram latas e mais latas de água para acordar o dorminhoco: chuá á ááá ...

Zé Bétio parecia estar numa fazenda e chamava as vacas, os bois, as galinhas, cães, gatos... Parecia que todos os bichos respondiam.

Na edição anterior do JL, falei da liderança da Rádio Record na época. O Zé Bétio era um desses locutores que chamavam a atenção pelo carisma e pela simpatia. Depois dele, vinha o Gil Gomes, repórter policial; o Barros de Alencar, que conversava com os ouvintes pelo telefone; e o Eli Correia. O Eli está no rádio até hoje, apresentando um programa que leva seu nome na Super Rádio AM de São Paulo, do meio-dia às 2 e meia da tarde.

O Eli Correia se orgulha de dizer que ele foi um dos primeiros locutores a tocar música sertaneja durante o dia no rádio. Até o final dos anos 70, a música sertaneja só era tocada à noite ou nas madrugadas, não sendo tocada durante o dia. Foi então que o Eli criou um quadro no seu programa, às 13h15min, intitulado “Boa Tarde Sertão”. Nesse quadro, ele começou a tocar uma ou duas músicas sertanejas, que chamavam a atenção dos ouvintes. A partir daí, outras emissoras também passaram a tocar os sertanejo durante o dia.

E assim o tempo foi passando, já estávamos nos anos 80 e as primeiras rádios FM começaram a pegar nos nossos aparelhos. No início, começamos a pegar as emissoras de BH, entre elas a BH FM, que tocava músicas o dia todo; a Itatiaia, que na época tinha uma programação alternativa em FM, mais musical; Alvorada, Antena 1 e Inconfidência FM, com músicas brasileiras.

O movimento de final de semana em Resende Costa concentrava-se no centro, ficando a rua Gonçalves Pinto, chamada também de “Avenida”, lotada aos sábados e domingos à noite. A nossa juventude procurava também os bares do centro da cidade, que tinham seus aparelhos de som ligados em antenas que pegavam várias rádios FM de BH.

O bar do Rubinho, onde hoje é o Supermercado Nossa Senhora da Penha, o bar do Bita, o bar do Chichico, onde atualmente é a lanchonete do Barriga e do João, e o bar do Lico, onde hoje é o Caio, sintonizavam as FM’s, levando boa música a todos os fregueses, inclusive a mim, que vivi muito bem essa época.

Chegávamos em casa e queríamos ter também o nosso aparelho de som 3 em 1. Rádio AM/FM, tape (tocafita) e pick-up para tocarmos discos de vinil. Mas a maior motivação era mesmo pegarmos as rádios FM de Belo Horizonte e, quando não pegávamos, a gente chamava um técnico com chave de fenda na mão que conseguia regular as rádios FM.

Certa vez, estando em casa, já com a antena instalada, rádio ligado e a BH FM pegando limpinho, minha mãe, sentada na sala, fez um comentário:

– Parece que tem alguém dentro da caixa de som falando.

Minha mãe estava quase certa, pois o som era muito bom. Depois de alguns anos, vieram também as rádios FM das cidades da região: Emboabas, Ecológica, Sol e Vertentes de São João del-Rei; a Sucesso, de Barbacena, inaugurada em 1985; a Fama, de Carandaí; a Colonial, de Congonhas, dentre outras.

Aí chegamos até Resende Costa, quando então foi inaugurada a nossa Rádio Inconfidentes FM em 2003, na época comandada pelo nosso amigo Joaquim de Sousa Lima, o saudoso Tião Lima, e vários locutores. Sinto-me feliz por fazer parte dessa emissora até hoje e conhecer um pouco de como tudo começou.

Quero dedicar esse texto a todos que gostam de ouvir rádio, aos meus irmãos e ao meu primo Duduta que mora em BH, sempre ouvindo rádio. Não só as AM’s, mas também as FM’s fazem parte de nossa vida.

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