A infame politização da pandemia


Editorial

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Quando a pandemia começou a avançar pelo interior deste imenso e desigual Brasil, o temor de que o sistema de saúde fosse colapsar era iminente. Vimos a doença se espalhar com gravidade, inicialmente, pelos grandes centros, lotando hospitais e UTIs, mas, de certa forma, poupava as pequenas cidades. Imaginávamos que a pandemia de Covid-19 não passaria de 2020 e que 2021 seria um ano mais tranquilo, com vacinas para todos e a economia se recuperando. As apostas otimistas, todavia, não se confirmaram. Abril e maio de 2021 foram, até agora, os meses mais letais da pandemia no Brasil e o vírus atacou com força municípios do interior.

Resende Costa, com seus aproximados 12 mil habitantes, sentiu, como quase todos os municípios da região do Campo das Vertentes, os efeitos catastróficos da interiorização do novo coronavírus. Durante todo o mês de maio, o Hospital Nossa Senhora do Rosário registrou lotação nos leitos destinados a pacientes diagnosticados ou com suspeita de Covid. Devido ao aumento no número de casos e à gravidade de alguns quadros, diversos pacientes tiveram de ser removidos para outros hospitais da região que dispõem de UTIs. Confirmou-se, portanto, a dinâmica já prevista para a doença que ainda impede conclusões científicas e desafia os especialistas: quanto mais pessoas infectadas e o vírus se espalhando sem controle nas comunidades, maior a possibilidade de surgirem casos graves, de pacientes necessitarem de hospitalização e de alguns, consequentemente, morrerem.

No fechamento deste editorial, no dia 6 de junho, de acordo com a versão atualizada do Informe Epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde, na noite do último dia 5, Resende Costa registrava 554 casos de Covid-19. Desse total, 134 ainda estavam ativos e 420 pacientes haviam se recuperado da doença. Porém, o mais triste: 13 óbitos foram registrados no município até o dia 6 de junho.

Além do temor da interiorização da Covid-19, outra situação não menos letal nos preocupava: a politização da pandemia. E ela veio desde o início com a postura negacionista do presidente da República, Jair Bolsonaro. A negação da ciência, o embate do presidente com governadores que desejavam seguir protocolos científicos e a insistência dele em incentivar a adoção de tratamentos precoces comprovadamente ineficazes, além da demora em adquirir vacinas, fizeram de Bolsonaro o maior aliado do coronavírus no Brasil.

Lamentavelmente, em nosso país os números ainda não pararam de subir e a politização da pandemia se fortalece a cada dia. Nas redes sociais leem-se diariamente comentários e postagens irresponsáveis com o único intuito de abalar politicamente uma situação que se desenha cada vez mais trágica. Atitudes estas que, além de confirmar o desolador cenário da desumanização, da insensibilidade e da falta de bom senso na política, denota profundo desrespeito com as vítimas e com familiares de quem perdeu a luta para o novo coronavírus.

O triste momento em que vivemos, inclusive nós resende-costenses, requer união de todos, independentemente de cores, bandeiras e legendas partidárias. Urge confiar na ciência, no bom senso e nas decisões dos especialistas. É preciso deixar de lado o achismo das postagens infames e irresponsáveis nas redes sociais. Todos têm, democraticamente, o direito de se manifestar, mas momentos de crise nos pedem prudência, elegância e serenidade antes de escrevermos e opinarmos sobre algo que não conhecemos. Triste constatar que as redes sociais têm sido mananciais fecundos de opiniões sem fundamento, de disseminação do ódio e de fomento à polarização política, que só atrapalham o enfrentamento da pandemia.

Não deixemos que essa longa e triste pandemia nos desumanize. Por detrás de cada óbito registrado há sempre um nome, um rosto, lutas, uma história de vida e planos que foram ceifados precocemente.

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