Campos Gerais: Vestígios da nossa história


Conheça o Município

Maristela de Oliveira Peluzi 0

Capela dos Campos Gerais

Os Campos Gerais não se apresentam como os povoados rurais do Ribeirão de Santo Antônio, Cajuru, Pintos e tantos outros que já passaram por esta série de reportagens. Explicando um pouco melhor, podemos dizer que o nosso enfoque de pesquisa deste mês se encontra basicamente constituído por uma pequena capela entremeada a muros de pedras, provavelmente frutos do trabalho escravo, sem domicílios distribuídos de forma conjunta ao seu redor, localizado a aproximadamente 10 Km de Resende Costa.

Quem visita este lugarejo se depara com resquícios da história mineira do século XVIII. Infelizmente só podem ser vistos os vestígios da Fazenda dos Campos Gerais da Laje, que pertenceu ao Inconfidente José de Resende Costa (Pai), é o que podemos dizer de mais esta degradação de parte do nosso passado colonial. Além de ter originado a localidade, a propriedade foi palco de reuniões que arquitetaram a Inconfidência Mineira, e das conseqüentes prisões do Capitão José de Resende Costa e de seu filho, de mesmo nome. A importância histórica da Fazenda dos Resende Costa é indiscutível, nos remonta a uma conjuntura sócio-política de idealismos, sonhos e lutas que simbolizam o “levante” de 1780.

Pois bem, convidamos você, caro leitor, a se deleitar com a história da Fazenda dos Campos Gerais, ou pelo menos, com alguns comentários que pretendemos escrever neste artigo. Ah! Como sugestão, posso propor um passeio a cavalo, que perpassa uma “cava” (caminho usado por cavaleiros, carreiros e candieiros em tempos que não existiam estradas para automóveis), àqueles que são amantes de uma bela cavalgada pelas trilhas mineiras de Resende Costa. Caminhos estes que nos levam a paisagens deslumbrantes.

Fazenda dos Campos Gerais

Falar de forma precisa desta edificação rural requer uma análise das suas fontes históricas. Como não temos acesso a tais documentos, procuraremos nos ater mais basicamente à sua importância no cenário político do Brasil setecentista. A Fazenda dos Campos Gerais da Laje pertencia ao Inconfidente José de Resende Costa (Pai), que a teria recebido em forma de doação da Coroa Portuguesa através de Sesmaria.

Porém, seria inconcebível não descrever algumas benfeitorias e bens da propriedade, que foram arrolados no auto de seqüestro e constam nos Autos da Devassa da Inconfidência Mineira. Casas de vivenda, paiol, engenho de fazer farinha, moinho, casa de passageiros, tudo coberto de telha, senzala, chiqueiros cobertos de capim juntamente com um patamar de 27 (vinte e sete) escravos estruturavam a Fazenda da família Resende Costa. Pelo número de trabalhadores compulsórios, podemos deduzir que se tratava de uma destacável propriedade para a Comarca do Rio das Mortes, haja vista que a escravaria se apresentava como a principal fatia de riqueza para os grandes proprietários rurais da Capitania das Minas Gerais. De acordo com a historiadora Clotilde de Andrade Paiva (1996), quase metade dos domicílios mineiros possuía três escravos, o que vem a corroborar com a nossa dedução.

Chegamos ao conhecimento dessas benfeitorias e bens supracitados através do trabalho desenvolvido por Rosalvo Gonçalves Pinto (1992), que trata dos Inconfidentes Resende Costa. Anexado a este, se encontra o “Auto de Seqüestro de Bens, ao Cap. Resende Costa”. Queríamos poder falar mais sobre as atividades econômicas da Fazenda, que com certeza eram das mais variadas, como criação de porcos, manuseio do gado, práticas agrícolas etc. O documento transcrito pelo prezado escritor traz descrições de porcos, carneiros, cavalos, enxadas, gado vacum e tantos outros elementos indispensáveis no dia-a-dia de uma fazenda que nos levaram a entender a dinâmica produtiva desta propriedade em questão. Mas, para tirarmos conclusões contundentes a esse respeito, precisaríamos de uma análise mais detalhada das suas fontes históricas.

O que queremos frisar neste momento é o valor histórico e cultural que está intrinsecamente relacionado à Fazenda dos Campos Gerais. Como sabemos, a sede não mais existe, por fatores de ordem que desconhecemos, dela só sobraram ruínas, assim como de tantas outras fazendas históricas de Minas. Infelizmente, o tempo não volta, mas por que não desenvolvermos um trabalho de conscientização entre as escolas do município, entre os cidadãos resende-costenses de tal relevância para a história da cidade, do estado, como também do país? Por que não preservar as ruínas que o tempo impôs? Afinal de contas, confinados nas dependências internas da residência oficial de José de Resende Costa, aconteciam reuniões subversivas de homens, que por razões que não vamos discutir neste momento, questionaram a autoridade da Coroa Portuguesa, sonhando com a instauração de uma República que viria anos depois.

 

Capela de Nossa Senhora do Carmo

Segundo Ana Paula Mendonça de Resende (2003), em seu artigo intitulado “Rememorando nossa história: Resende Costa através dos tempos”, direcionado ao Jornal das Lajes em 2003, no Livro do Tombo da Paróquia de Nossa Senhora da Penha de França, existe a colocação de que antes da inauguração da Capela dos Campos Gerais, havia naquele lugar uma ermida, que “poderia ser considerada contemporânea da Inconfidência Mineira”. Pela localização da Capela e dos resquícios da Fazenda, e por não haver arrolamento de seqüestro de bens religiosos de José de Resende Costa nos Documentos da Devassa, supomos que as obras sacras pertencentes à Capela de Nossa Senhora do Carmo, que outrora ficavam na antiga ermida, pertenceram aos familiares do Capitão Resende Costa. Faz algum tempo que foram transferidas para o Museu de Arte Sacra da Paróquia, pelo então Pároco de Resende Costa, Pe. João Rodrigues de Paula. Inclusive, uma delas passou recentemente por um processo de tombamento para o patrimônio histórico e cultural da cidade. Trata-se da imagem de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do povoado.  

Aqueles que conhecem esta Capela acabam se sentindo em casa, tamanha é a sua delicadeza. Eu, particularmente, me lembro das vezes, quando ainda criança, que ia juntamente com o meu pai conduzir o Monsenhor Nelson às celebrações eucarísticas que ali se realizavam. Guardo na memória a lembrança da Dona Terezinha, muito simpática, tomando as providências para que tudo corresse bem.

Atualmente, pelo que sei, a Capela continua sendo muito bem cuidada. Tenho certeza que este zelo ainda vai perdurar por um longo tempo.


Este artigo foi baseado em:

RESENDE, Ana Paula Mendonça de. Rememorando nossa história: Resende Costa   através dos tempos, Jornal das Lajes Ano I Nº3 – junho de 2003.
        
PINTO, Rosalvo Gonçalves. Os Inconfidentes José de Resende Costa (Pai e Filho) e o Arraial da Laje. Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições Técnicas, 1992.

PELUZI, Maristela de Oliveira. Os grandes proprietários escravistas do Distrito da Laje (1830/1850). Monografia apresentada para Especialização em História de Minas do Século XIX. São João del Rei: Universidade Federal de São João del Rei, 2003.