A Tradição dos Cruzeiros


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Maristela Oliveira Peluzi0

Cruzeiro em Resende Costa

A primeira impressão que temos ao visualizar um cruzeiro, nos remete à religiosidade. E, é, justamente, por percebermos tais manifestações sacras afincadas em alguns pontos da cidade, como em localidades rurais, que resolvemos entender um pouco da tradição dessas grandes cruzes em Resende Costa.

Segundo a sabedoria popular, erguendo um cruzeiro em cada uma das entradas da cidade, todos que aqui moravam estariam protegidos contra os maus espíritos. Isto vem a explicar o motivo pelo qual, existem cruzeiros nos Bairros Santo Antônio e Tijuco, outro no antigo Pau de Canela (caminho velho para São João del-Rei) e mais um, que apesar de ter vindo a baixo, se localizava na estrada que dá acesso ao Povoado do Barracão. E, é claro, que não podemos nos esquecer, daquele que figura firme e imponente entre as belezas históricas da Praça Cônego Cardoso.

Mas, o imaginário popular ia além da proteção contra os espíritos maléficos em se tratando da importância de uma cruz de porte avantajado. Com certeza, muitos dos leitores das memórias escritas pelo saudoso conterrâneo e escritor, Gentil Vale, devem se lembrar da passagem na qual ele menciona a moradora do bairro Beira Muro, Felícia, que jogava água nos pés do cruzeiro do Beira Muro em dias de longa estiagem. Ao praticar, podemos por assim dizer, esta espécie de ritual, ela se valia do apoio de um grupo de crianças, que a ajudavam a reforçar os pedidos em orações por chuvas, para que aquele calor escaldante cessasse. Um detalhe curioso refere-se ao fato dos meninos rezadores terem de estar despidos de blusas em sinal de penitência.

No que diz respeito à prática das rezas, tal qual acontece atualmente, ainda nos meses de maio e junho, parece que teve início lá pela década de quarenta, ou quem sabe, um pouco antes. Entretanto, de lá para cá, algumas coisas mudaram, a começar pelo público que diminuiu consideravelmente. Naqueles tempos, as pessoas se deslocavam através de caminhão, ou até mesmo a pé, para participar dos cultos. Chegando lá, se deparavam com cruzeiros ornamentados com arcos de bambu e bandeirolas, animados leilões e grandes fogueiras. Tudo isso tendo como elementos fundamentais, os cânticos e a Ladainha de Nossa Senhora, entoados pelo Pároco e cantores da Paróquia, com a participação da Banda de Música, que infelizmente não mais acontece.

Nos povoados rurais, a tradição dos cruzeiros também se mostra presente. Basta observarmos que existe um cruzeiro erguido ao lado de cada capela, ou se não, ao lado de quase todas. Todavia, existem alguns lugarejos em que há cruzeiros sem nenhuma edificação religiosa por perto, como é o caso do Patrimônio, Boa Vista, Parruca... Quem sabe ainda não serão erguidas capelas ao lado desses cruzeiros? Mesmo sem ter acesso a fontes históricas para comprovar, podemos deduzir que antes da solidificação de uma capela, um cruzeiro provavelmente deve ter sido erguido. Tanto é, que em frente à Igreja do Rosário, havia um destes, mas por motivos que desconhecemos, não mais existe.

Os costumes e hábitos vão se modificando ao longo dos tempos. É um fato que não podemos negar. Talvez, isso explique o declínio do número de participantes nas rezas. Vivemos em um mundo em constante transformação, tendo em vista o constante desenvolvimento tecnológico. Apesar de termos consciência desta efemeridade de valores e conceitos, não devemos jamais nos esquecer que as tradições culturais se formam através de costumes, que são frutos das histórias dos habitantes de uma determinada cidade, estado ou país. Sendo assim, passemos a preservar a caracterização original dos nossos cruzeiros, pelo menos do que restam deles, para que mais uma tradição cultural de nossa terra não se perca no tempo.