O “Povoado” do Barro Vermelho


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Ana Paula Mendonça de Resende0

Fachada da capela do Barro Vermelho

É com pesar que, para retomarmos a história dos povoados de Resende Costa, temos de utilizar o passado baseado, muitas vezes, apenas na tradição oral. A importância da História Oral é ressaltada, embora tenhamos que em alguns momentos contar com a busca desses vestígios para que a memória do lugar seja preservada. E a história do Barro Vermelho se enquadra nesse modelo de História-Saudade.

O povoado, vizinho da então conhecida Fazenda dos Campos Gerais, provavelmente tem sua existência iniciada em fins do século XVIII. Em 1838, em um censo realizado na Província de Minas Gerais, algumas referências destacam o Barro Vermelho como um lugar importante do Arraial da Lage.

Pensar o “povoado” é resgatar momentos importantes na sua história, como a vida na “‘roça”, o papel da mineração, e o momento atual, em que se verifica um resgate entre a divisão da vida dos moradores entre a cidade e a zona rural. 

Um dos imóveis de grande importância para o povoado, e que se mantém viva até os dias atuais, é a Capela do Barro Vermelho. Com os cuidados de alguns moradores e ex-moradores do local, a Capela conta com uma estrutura onde existe a sacristia anexada ao corpo maior da Igreja. E era na Capela que no passado girava toda a vida social do povoado: missas, batizados, casamentos... 

Até hoje, em Resende Costa, a oportunidade de relembrar os velhos tempos pode ser vivenciada através de missas que periodicamente acontecem nas diversas capelas existentes em nossa extensa zona rural. A notícia da organização desses eventos sempre demanda uma preparação dos moradores e ex-moradores do povoado, que se preocupam em resgatar os contatos, que no passado se faziam constantes. Assim acontece no povoado do Barro Vermelho: dos poucos moradores do povoado, alguns ainda dividem seu tempo entre a “cidade” e a “roça”, fazendo que realmente o lugarejo apresente um aspecto de saudade. Um momento peculiar do encontro apresenta-se com as missas celebradas na capela.

Alguns imóveis mantêm a estrutura arquitetônica do passado, como a casa que pertenceu ao Sr. Fabiano Pinto, ao Sr. Miguel Teodoro Neto, duas casas que pertencem ao Sr. Luiz Pinto e uma do Sr. Marcelo Pinto. Outro imóvel pertence a José Antônio de Resende, o Zainha do “Xegamais”. A preservação da propriedade, que pertencia ao Sr. Francisco Machado, então avô de Zainha, aponta para um resgate da história do lugarejo: “Ali eu e meus irmãos passamos toda nossa infância, num período em que no povoado moravam muitas famílias. Ali trabalhávamos e estudávamos, e quando algum padre ia para a capela celebrar missa, era em nossa casa que ia almoçar,” diz Zainha.

O dinamismo do passado também se fazia presente no dia-a-dia das crianças que ali residiam. Além do trabalho na roça, elas dividiam seu tempo com os ensinamentos lecionados na “Casa de Escola”. A primeira professora, Dona Xista Romualda Teixeira, uma “normalista formada”, cerca de sessenta anos atrás iniciou o trabalho de alfabetização das crianças do povoado. Na época, mais de quarenta crianças estudavam na escola, permanecendo até a 3ª série, quando então finalizavam seus estudos, ou continuavam a estudar na cidade. Dona Xista se mudou para a Casa de Escola, assim como outras mulheres que continuaram o seu trabalho. Curioso salientar algumas meninas que ali estudavam continuaram o trabalho de alfabetização das crianças. O próprio Sávio Pinto (o Sávio do Fórum) chegou a lecionar na escola. Infelizmente a ação do tempo e a falta de consciência sobre patrimônio foram cruéis com a estrutura do prédio onde as aulas aconteciam, que atualmente não existe mais.
O tempo foi passando e, além da agricultura, uma outra atividade econômica começa a fazer parte da vida do povoado: a mineração. A extração do minério de cassiterita foi iniciada por uma empresa de Santa Rita (atual Ritápolis) que utilizava como equipamento um motor a óleo. Logo após, nos anos 60 e 70, a empresa Cia Estanífera do Brasil levou o maquinário necessário para a extração do minério de cassiterita, empregando cerca de cinqüenta homens.

Com o fim da mineração, o povoado foi perdendo seu dinamismo, e então poucos moradores ficaram no povoado. Atualmente, esse dinamismo vem sendo retomado, com a volta de descendentes das primeiras famílias que buscam no Barro Vermelho um local para descansar e continuar sua história em Resende Costa.