Cresce o interesse pela língua portuguesa na Galiza, Espanha


Cultura

José Venâncio de Resende, de Santiago de Compostela0

Valentim Fagim, professor de português na Galiza

Na comunidade autônoma espanhola da Galiza (equivalente a estado no Brasil), “alguns não sabem que sabem português”. O comentário foi feito pelo professor Valentim Fagim, ao revelar o crescente interesse pela língua portuguesa na comunidade galega.

Nada mais natural. Afinal, o galego-português surgiu num reino, a noroeste da península ibérica, que tinha sido a província romana da Gallaecia, cuja capital era Braga (hoje, cidade do norte de Portugal), de acordo com José Ramom Pichel Campos e Valentim Fagim*. Assim, as línguas portuguesa e galega são descendentes do galego-português.

O número de centros secundários galegos (de 12 a 16 anos) que ensinam português aumentou de 31 unidades em 2014 para 54 este ano. Já o número de alunos mais que duplicou no mesmo período (de 800 para 1900). Além disso, as oito escolas de idiomas (geralmente frequentadas por adultos) da Galiza ensinam o português.

Além do trabalho desenvolvido pela AGAL (Associaçom Galega da Língua)**, Valentim atribui esta evolução à “Lei para o aproveitamento da lingua portuguesa e vínculos coa lusofonia”***, aprovada em 2014 por unanimidade no Parlamento galego.

A evolução só não é maior porque a língua portuguesa é tratada, no ensino secundário ou nas escolas de idiomas, como língua estrangeira por imposição do governo nacional, explica Valentim que é professor em escolas de idiomas desde 2001. Aos 44 anos, ele é secretário de Docentes de Português da Galiza e membro da Academia Galega da Língua Portuguesa.

Estremadura

Na Espanha, a Estremadura é a comunidade autônoma que mais apostou no ensino do português por uma estratégia de governo, explica Valentim. Para isso, utiliza dos recursos da publicidade, de cursos na TV, do ensino na escola secundária e de cursos especializados em áreas como hotelaria, empresas, turismo etc. “A Estremadura fez uma aposta estratégica de ser a ponte entre a Espanha e Portugal.”

Tanto que 70% dos centros de ensino secundário da Estremadura ensinam a língua portuguesa, enquanto na Galiza esta participação não passa de 12%.

O destaque da Estremadura é Olivença, território administrativo (município, para nós), a 11 quilômetros da fronteira com Portugal, que luta para oficializar o “bilinguismo” (castelhano e português), sob a liderança da Associação Cultural Além Guadiana. Portugal perdeu Olivença para a Espanha em 1801, por pressão do imperador francês Napoleão Bonaparte.

Futuro

Valentim é otimista quanto ao futuro. Acredita que os galegos terão mais conhecimento da língua e mais simpatia pelos países que falam português. Processo este que pode ser facilitado se o governo galego, “mais do que tolerar, promover a língua, como faz a Estremadura”.

Para ele, o ensino é fundamental. “Qualquer pessoa que sai do ensino secundário sabe ler em português. Mas a escola tinha de mostrar que os alunos sabem e aprofundar este conhecimento. Por exemplo, ensinar a escrever. Um aluno galego que estuda português progride três vezes mais rápido do que o que estuda francês.”

Valentim tem esperança que, em 2016, a Galiza consiga ingressar na CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), como “observador associado”, já que não é um Estado, mas apenas uma região autônoma.

*O Galego é uma oportunidade. Através Editora, 1ª edição, 2012

**AGAL http://www.agal-gz.org/corporativo/

***Diário Oficial de Galicia (8 de Abril de 2014) http://www.xunta.es/dog/Publicados/2014/20140408/AnuncioC3B0-310314-0001_gl.html

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2. Olivença quer o português como segunda língua materna http://www.jornaldaslajes.com.br/integra/olivenca-espanha-quer-o-portugues-como-segunda-lingua-materna/1509/

3. A continuação do galego medieval é o português atual http://pgl.gal/a-continuacao-do-galego-medieval-e-o-portugues-atual/?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook

 

 

 

 

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