Curralinho dos Paulas: terra de riquezas. Antes o minério, hoje a água


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André Eustáquio / Cláudio Luís Resende / Luciana Maria Rocha0

Capela de Nossa Senhora da Conceição

Um dos encantos da Cidade das Lajes é poder andar quilômetros em estrada de terra e gozar de paisagens absolutamente encantadoras. Em cada canto que se vai, a natureza desvela suas formas diversas, perfeitas e generosas. Pode-se dizer que em Resende Costa as paisagens naturais se abrem aos nossos olhos com tamanhas possibilidades, tal como um leque multicolorido.

Em meio a montanhas, cerrados, cachoeiras e pedras, ao longo dos anos, nossos antepassados foram se fixando. A identidade do nosso município foi sendo formada a partir das características próprias de cada lugar, aonde coronéis iam cravando suas divisas. Do belo platô de serras surgiu os Campos Gerais; de um lugar de terra vermelha, de onde saiu muito minério, hoje é o Barro Vermelho; um ribeirão que serpenteava entre grandes propriedades de nossa região foi renomeado em maiúsculo para Ribeirão de Santo Antônio. E assim tantos outros lugares.

Cada nome revela a força, a cultura e a tradição dos aglomerados urbanos. História, personagens, lendas e religiosidade foram fundamentais para a caracterização de vários lugares e povoados do nosso município.

Os detalhes realmente conceituam. No passado, uma grande mata foi derrubada, deixando uma imensidão de toras de madeira ao chão. Que lugar é esse? Tabuado. Uma comunidade formou-se onde antes era o curral da grande fazenda da família Paula. De que lugar estamos falando? Curralinho dos Paulas, que é o cenário desta história que apresentamos.

Contar a história do surgimento de um povoado é algo encantador, pois revela, sem muitas diferenças, o que era e continua sendo vital, quando pessoas se juntam em comunidade. Em nossa região não se vive sem religião e sem, pelo menos, uma pequena venda (nome utilizado nos povoados para caracterizar as mercearias). As casas que constituem os povoados surgiram ao redor de uma capela ou cruzeiro e, certamente, de uma pequena venda. Isso revela a vida relativamente simples do homem da roça. Sem muita sofisticação e oportunidades, divide seu tempo entre o trabalho, a fé e o indispensável bate-papo com os companheiros na venda.

Conceição do Curralinho dos Paulas, primeiro nome do povoado, surgiu nesse contexto. Situado num lugar em que antes reinaram grandes fazendeiros, a comunidade traz vestígios claros do passado escravista. Não se pode afirmar com precisão, mas cogita-se a idéia de que as primeiras pessoas que habitaram o local foram escravos fugidos de algumas das grandes propriedades que circundavam a região, como a Fazenda Pinheiros. Segundo a historiadora Maristela de Oliveira Peluzi, em sua dissertação intitulada “Os grandes proprietários escravistas do Distrito da Lage (1830 – 1850)”, a Fazenda Pinheiros era vista como grande propriedade, de acordo com os padrões da Comarca do Rio das Mortes. No inventário de 1848, consta que o Capitão José Lopes Picada possuía, dentre inúmeros bens de valor, 28 escravos (número considerável para os padrões da época). Com o passar do tempo e das gerações, a propriedade ficou nas mãos do conhecido Coronel Pedro Resende Maia e atualmente pertence ao Senhor Hélio Augusto Inácio. A fazenda é um dos atrativos para quem deseja conhecer a região dos Paulas e sua história.

Formação da comunidade

Uma das casas mais antigas do povoado é a sede do Sítio Santo Antônio (antiga residência da tradicional família Penido). Na casa antiga havia uma capela, onde provavelmente todos os moradores do local se reuniam para rezar. Foi a primeira igreja do povoado, que já venerava Nossa Senhora da Conceição, cuja festa é tradicional na comunidade, sendo celebrada, com toda a igreja, no dia 8 de dezembro.
Próximo à casa da família Penido foi aberta a primeira “venda”, pelo senhor Anestor. Depois, surgiram os comerciantes João da Mata, Chico da Mata e Adir da Mata. Atualmente, os remanescentes desta atividade estão nas mãos do Nonô da Venda e do Bagre. Com o aumento da população, tornou-se necessária a construção de um cemitério e de uma capela desvinculada do sítio Santo Antônio. Por sugestão dos missionários que passaram por lá, a Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi erguida e, ao lado dela, o cemitério, que ficam afastados do aglomerado populacional.
Atualmente existem duas capelas no povoado, sendo que da primitiva igreja só restaram as pedras que formam a escada do cruzeiro.

Para a construção da atual igreja da Imaculada Conceição, teve que se fazer um serviço de terraplenagem no terreno. O tratorista Nélson (conhecido e bastante popular entre nós) assumiu a empreitada, trabalhando com um trator National, da Prefeitura Municipal. Nélson tratorista encontrou, no terreno, ossadas que, segundo os moradores, eram de escravos. No mesmo lugar já foram achados vestígios da antiga fazenda da família Paula, como pedras do alicerce e o chão batido do antigo curral.

Essas curiosidades se somam as muitas outras que possibilitam a compreensão do surgimento de nossas comunidades rurais, pois, na falta de registros históricos, os depoimentos dos moradores que ouviram causos antigos e presenciaram fatos são verdadeiros arquivos vivos.
 

A mineração e a economia

Talvez um dos maiores acontecimentos da história do Curralinho dos Paulas seja a descoberta e a extração do minério. Inicialmente sua exploração se deu de forma rústica e precária. Garimpeiros saíam para lavrar o morro, sem nenhum recurso. Foi no fim dos anos 30 que trabalhadores oriundos de Resende Costa, Ribeirão e do próprio povoado lavraram os morros, sob a tutela de tradicionais garimpeiros como Sinval e Juquinha de Sousa.

Foi somente em 1941 que o garimpo adquiriu forças. A cassiterita era extraída e transportada para fundições em São João del-Rei, e de lá, seguia para São Paulo. Nos Paulas a atividade era exclusivamente extrativa. Não havia fundição. Outros materiais que eram encontrados em meio à cassiterita, como a colombita, eram separados, pois não tinham valor algum.

Como disse o senhor João Pedro Balbino, uma das lideranças e ex-garimpeiro do Povoado dos Paulas, “o minério era a alma do lugar”. Responsável direta pela economia local, a atividade mineradora movimentava praticamente toda a população. Crianças de 10 anos já sabiam trilhar os primeiros ofícios do garimpo. “A garotada saía cedo com a bateia. Muitas vezes, até a hora do almoço, já tinham ganhado o dia, e, não voltava mais. “Eles ficavam até preguiçosos”, diz o sr. João Pedro.

Com a chegada da Companhia Ferreira Carvalho, a extração adquiriu tamanho vulto que garimpeiros de outras cidades se deslocaram para o povoado. Além de Resende Costa, pessoas de São João del-Rei, Ritápolis e Conceição da Barra de Minas trabalharam na mineração. Esta última cidade reuniu o maior número de garimpeiros no local, aproximadamente 40 trabalhadores.
 

O fim de uma era

Com a descoberta do minério em Goiás e Rondônia, as pequenas minerações foram acabando. Grandes empresas mineradoras começaram a explorar jazidas com enorme capacidade para extração e, paulatinamente, as pequenas minerações foram se esgotando. No povoado dos Paulas, a exploração do minério parou nos idos dos anos 80, principalmente por causa da política econômica do Presidente Sarney. Com o congelamento dos preços, o pequeno garimpeiro não agüentou mais. Aliadas a isso, vieram as dificuldades em descobrir novos veios, adicionando a exigência e aplicação da legislação ambiental.

O declínio da mineração gerou uma crise no povoado. Muitas pessoas ficaram desempregadas e, com muita dificuldade, foram tendo de descobrir novas atividades.

A era da mineração representou a prosperidade no Curralinho dos Paulas. Com o fim da atividade mineradora, a economia passou a girar em torno da agricultura de subsistência, com produção de milho, feijão, arroz e leite. E, atualmente, o carvão.


Esporte, principais festividades e atrações turística

O povoado dos Paulas, tradicionalmente, sempre teve grandes equipes de futebol de campo. Quem não se lembra dos embates lendários entre Expedicionários, Ramos e Curralinho, nos torneios realizados aos domingos no estádio Antônio Argamim de Freitas? Vários jogadores foram revelados nestes clássicos, entre eles o Mané, Celso, Nonô, Bagre e tantos outros. Atualmente há torneios no povoado envolvendo equipes de toda a região.

A principal festa é a celebração em honra a Nossa Senhora do Rosário, no dia 07 de agosto. Vem ganhando destaque nos últimos cinco anos a festa do Arraiá dos Paulas, com realização de desfile e concurso de carros-de-boi, concurso de marcha, shows e funcionamento de barraquinhas.


Família Penido

 A primeira professora do povoado é originária desta família. Dona Rosa Soares Penido marcou época na alfabetização dos moradores. Esta família migrou para São Paulo e outras regiões do Brasil, tornando-se grandes empresários e respeitados políticos. Inclusive a biografia de um dos baluartes da família, Sr. Pélerson Soares Penido, está sendo escrita por um profissional de São Paulo.

Pélerson Penido é um dos grandes benfeitores de nossa cidade, contribuindo decisivamente para obras na igreja Matriz e hospital. Vicente Penido foi deputado estadual por São Paulo e prefeito de Aparecida-SP. 


Cenário Futuro

Com o advento do turismo rural, a comunidade do Curralinho dos Paulas poderá se beneficiar com os investimentos no setor. Bem localizado, o povoado poderia figurar como lugar de referência para quem deseja conhecer as antigas fazendas, assim como explorar as trilhas e lugares que fazem da região um manancial inesgotável de beleza geográfica e natural.

Voltando ao título, não poderíamos deixar de registrar a ótima qualidade da água que serve aos moradores do povoado e que é captada via poço artesiano e distribuída para as moradias. Comenta-se que exames e análises comprovaram tratar-se de água mineral de qualidade diferenciada e rara. Se comprovados os fatos, daqui a alguns anos, este local não será mais o mesmo, visto a possibilidade de se instalar um sistema de captação desta água para exploração econômica, gerando divisas e desenvolvimento. A água que hoje gera saúde e vida poderá também ser fonte de riqueza, alavancando o desenvolvimento do povoado.