De bailarina clássica a professora de balé na Europa: esta é Fátima Cerqueira

Natural de BH, Fátima Cerqueira tem fortes ligações familiares com São João del-Rei e região. “Minha mãe, Geni Cerqueira Moreira, é filha de João Antunes de Cerqueira".


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José Venâncio de Resende0

Fátima Cerqueira, raízes são-joanenses.

A bailarina mineira Maria de Fátima de Cerqueira Moreira dançou balé clássico em teatro no Brasil, em Portugal, Suécia e Dinamarca até o ano 2000, quando completou 45 anos de idade. “Parei de dançar no teatro, mas ainda me apresentei depois disso, só que não com balé clássico.”

Atualmente, aos 64 anos, Fátima Cerqueira é professora de balé na Europa (Alemanha, Lituânia, Islândia, Suécia, França, Itália, Portugal, Espanha, Dinamarca, Noruega etc.) – eventualmente em Belo Horizonte - e participa de juris e festivais inclusive no Brasil. Mas não só isso. “Este ano mesmo estive na cena, num solo de Sebastian Kloborg, em um festival na Itália, onde eu apenas caminhava, mas de uma maneira um pouco especial.”

Natural de BH, Fátima Cerqueira tem fortes ligações familiares com São João del-Rei e região. “Minha mãe, Geni Cerqueira Moreira, é filha de João Antunes de Cerqueira, que tinha uma fazenda perto de São João. Ela e suas irmãs estudaram internas, primeiro na casa da professora D. Celina Viegas e, depois, no Colégio Nossa Senhora das Dores. Minha mãe foi colega de classe de dona Risoleta Neves. E a família de meu avô tem raízes na região, somos descendentes de Francisco de Lima Cerqueira. Minha tia Ivêta morou sempre em São João, era casada com Antônio Moura, que cantava no teatro. Minha avó materna é Nascimento Franco, com raízes em Tiradentes.”

Fátima Cerqueira foi “dançar balé por recomendação do pediatra, pois eu tinha pé chato e uma ligeira escoliose, o que causava uma posição um pouco defeituosa da bacia, além de uma perna ligeiramente mais longa que a outra. Ele achou que o balé seria bom para harmonizar meu esqueleto e exercitar meu pé”.

Novos horizontes

Em 1979, Fátima Cerqueira viajou à Europa “apenas por três meses, com uma licença do Palácio das Artes, onde eu era primeira bailarina, para tomar aulas de balé com um professor muito famoso na época, Raymond Franchetti, em Paris.” Em 1880, ela voltou ao velho continente, desta vez para fazer audições, porque queria trabalhar na Europa.

O trabalho no Brasil “não era satisfatório”, ou seja, “havia aulas e ensaios todos os dias, o não havia era espetáculos”, explica. “Isto gerava uma frustração muito grande, já que a aula e o ensaio são preparações para o palco”. Como nesta carreira se corre contra o tempo, “era melhor estar num lugar onde se dançava mais”, pois “não adianta fazer aula e ensaiar de segunda à sexta, se você só vai se apresentar umas 20 vezes ao ano”.

Numa temporada na Europa, uma bailarina pode dançar cerca de 100 a 150 espetáculos por ano, explica Fátima Cerqueira. “No Brasil, num teatro oficial, não chegávamos a 30. No Brasil, as instituições têm que escolher o que colocar no palco, pois não há dinheiro para a cultura, como há na Europa”.

Espetáculos custam dinheiro, enfatiza a bailarina mineira. “Nas artes cênicas, ballet e ópera são caros” pois envolvem um conjunto de cerca de 100 pessoas (costureiras, cenários, músicos, iluminação, etc.), “todas recebendo salário, mais os que estão na parte criativa (coreógrafos, regentes, compositores, etc.), que vão receber talvez um pagamento pela criação da obra, além dos que recebem salários fixos”. 

Na Europa, tem dinheiro do estado, mas os diretores de teatro podem procurar outros meios econômicos, continua Fátima Cerqueira. “Muitas vezes, o diretor geral de um teatro é uma pessoa com fortes ligações econômicas (não necessáriamente um artista ou um intelectual), que sabe como ´fazer dinheiro´, ou seja, procurar e conseguir financiamento para as montagens, que sempre superam o montante que o governo dá.”

Nova vida

A bailarina mineira mudou-se em definitivo para a Europa em 1980, com 25 anos de idade. Assim, tornou-se solista na Companhia Nacional de Bailado, em Lisboa (Portugal). “E lá, encontrei meu marido na época, um sueco que era primeiro violino da orquestra. Ele queria voltar para a Escandinávia e eu vim com ele para morar na Suécia em 1983.”

Embora o marido tivesse uma posição na orquestra da rádio dinamarquesa, “já naquela época era mais fácil para mim conseguir um visto permanente na Suécia do que na Dinamarca”, conta Fátima Cerqueira. Depois de dois anos morando na Suécia, ela obteve um visto permanente, “o que me deu automaticamente um permanente na Dinamarca. E assim nos mudamos para Copenhague, em 1986. Nestes dois anos, meu marido pegava o barco todos os dias, entre a Suécia e a Dinamarca, para trabalhar em Copenhague. Mais tarde construíram a ponte”.

Na Dinamarca, Fátima Cerqueira trabalhou praticamente em todas as instituições. “Primeiro, no Pantomimeteater, o teatro mais antigo daqui, no Tivoli, como bailarina. Também dancei em companhias contemporâneas, como Marie Brolin-Tani Danseteater, na época, em Aarhus. Hoje em dia, estão sediados em Holstebro.”

Como professora de Balé, ela já deu aulas tanto para bailarinos clássicos como para bailarinos contemporâneos, bem como para estudantes destas duas linhas formativas. “Já dei aulas para bailarinos profissionais no Pantomimeteater, Dansehallerne, Dansk Danseteater, Skaanes Dansteater (Malmoe, Suécia) e, também, na Escola Nacional de Teatro na formação de bailarinos contemporâneos, em Oure Sport & Performance (escola secundária com especialização em linhas esportivas e artísticas). E, mais recentemente, na Escola do Teatro Real da Dinamarca na formação de bailarinos para o Balé Real da Dinamarca.”

Desde 2002, Fátima Cerqueira participa, como jurada e professora, do Festival de Dança de Joinville (considerado pelo Guiness como o maior festival de dança do mundo). “Estive lá nos anos de 2002, 2008, 2011, 2012, 2013, 2105, 2016 e 2017. Também dei e ainda dou aulas para o Grupo Corpo quando estou em BH.”

Feliz

Fátima Cerqueira trabalhou (e trabalha) muito. “Nem tudo o que a gente faz é o que a gente sonhou, mas acho que o importante é ser flexível e se manter sempre em movimento. Melhor pegar para ensinar uma companhia uma semana, ao invés de ficar em casa, porque o trabalho é temporário. Quanto mais a gente trabalha, mais posições aparecem pra gente. E, com o tempo, sem nos darmos pela coisa, temos uma reputação. Hoje, há bailarinos desde o Japão até os EUA que tiveram aula comigo, numa ou outra situação. Isto é muito bom. Estou muito feliz neste aspecto.”

Nesse meio tempo, a bailarina mineira aguarda a aposentadoria que, na Dinamarca, é apenas aos 67 anos de idade, tanto para homens quanto para mulheres.

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