Perseverante, criativo, inovador, versátil: Lesley, o resende-costense que vive na Inglaterra


Imigrantes & Empreendedores

José Venâncio de Resende0

Lesley e a família no Natal de 2020.

Lesley Fernandes Moreira, digital consultant and web developer, mora há três anos em Manchester, Inglaterra. Considera-se resende-costense, embora tenha nascido na Santa Casa de Misericórdia de São João del-Rei, onde foi registrado numa sexta-feira, 13, de Junho de 1986. É da linhagem de João de Rezende Costa.

Filho da resende-costense Adair da Costa Fernandes e do são-joanense José Asterak Moreira, ele tem duas irmãs, Lílian Fernandes Moreira e Liliane Fernandes Moreira, e um irmão, falecido ainda bebê, de nome Rodrigo Fernandes Moreira. “A minha avó, Maria da Costa Resende (filha de Cecília da Costa Maia e de José Cupertino de Rezende), nasceu em Resende Costa, após os pais se mudarem de Lagoa Dourada. Após se casar, adotou o sobrenome do meu avô, João Evangelista Fernandes, e passou a se chamar Maria da Costa Fernandes.”

Lesley é casado com a ítalo-brasileira Jaqueline Graziela Bozzetto Spina Fernandes, com quem tem dois filhos: Lucca Spina Moreira, nascido em São Paulo, e Cecília Bozzetto Fernandes, nascida em Manchester (Inglaterra). “O nome da minha filha foi escolhido em homenagem a minha bisavó Cecília da Costa Maia, também conhecida como Dinha...”

Até os 19 anos, viveu em Resende Costa (Minas Gerais, Brasil) onde se aprofundou em internet e abriu uma lan house (cyber café) junto com a mãe. Além disso, consertava, fazia manutenção e vendia computadores, desenvolvia sites e fazia anúncios de negócios para os sites locais. Então, mudou-se para São Paulo onde se formou em Sistemas para Internet e, posteriormente, fez pós-graduação em Engenharia de Software pelo antigo IBTA/IBMEC.

Iniciou a carreira, em 2008, como estagiário na Lampada Global onde desenvolvia componentes para sistemas de relacionamento com clientes. A partir daí, criou a própria empresa de prestação de serviços em desenvolvimento de sites e sistemas para internet, a Intelectua, e atendeu grandes empresas, com foco em gestão, planejamento e desenvolvimento de sites, intranets e planos de marketing digital.

Ao conhecer sua atual esposa, optou por realizar o sonho de morar no exterior. O casal buscou a cidadania italiana, escolhendo morar na Inglaterra. “Eu fiz a escolha por Manchester porque, além do futebol, aqui tem muita história, foi onde começou a revolução industrial, surgiu a primeira linha de trem, onde os modelos atômicos que víamos na escola foram desenvolvidos, onde a computação moderna se iniciou, os movimentos do direito ao voto feminino se iniciaram a cinco minutos daqui de casa e os membros do Oasis moravam no bairro ao lado. É um lugar bonito, industrial, é uma cidade que reúne a história com a modernidade.”

Perseverante, criativo, inovador e versátil, veja a íntegra da entrevista de Lesley.

Fale de seus laços familiares em Resende Costa. A minha avó, Maria da Costa Resende (filha de Cecília da Costa Maia e de José Cupertino de Rezende), nasceu em Resende Costa, após os pais se mudarem de Lagoa Dourada. Após se casar, adotou o sobrenome do meu avô, João Evangelista Fernandes, e passou a se chamar Maria da Costa Fernandes. A minha mãe, nascida em Resende Costa, conheceu meu pai que é de Emboabas, o histórico distrito de São João del-Rei, e após se casarem decidiram continuar morando na cidade. Foi aí que eu surgi como resende-costense. Em termos de genealogia, a minha família, assim como a de todos os resendes da cidade, tem ligações com o João de Rezende Costa e a Helena Maria de Jesus. A filha deles, Maria Helena de Jesus, irmã do José de Rezende Costa, é a tetravó do meu bisavô José Cupertino de Rezende. Uma curiosidade é que ele também é trisneto da Antônia Rita de Jesus Xavier, irmã do Tiradentes. Essa relação se dá por ambos avós paternos dele, o Capitão Pedro José Ferreira e a Maria Helena de Rezende (bisneta da Maria Helena de Jesus).

Onde você passou a infância? Os primeiros 19 anos da minha vida eu passei em Resende Costa. Tenho muitas memórias boas e ainda mantenho contato diário com meus amigos de infância em grupos de Whatsapp onde falamos sobre assuntos diversos e rememoramos os tempos em que nos divertíamos, fazendo música, jogando futebol e videogames e confraternizando nas lajes ou na nossa famosa esquina do rock.

Fale sobre sua educação formal. Completei a minha educação básica no Assis Resende. Era longe de ser um aluno exemplar e com certeza fui um desafio para os professores, mas me recordo com carinho deles, desde os do ensino pré-escolar e do básico, como a Euza, a Elvira, a Jucéia, a Juceli e o Tião, até do ensino médio, com a Bia, a Regina Coelho e Azevedo, a Eunice, o Edmar Moreira, a Alessandra, a Lulude, o Adriano, a Bete, a Lílian e a Márcia.

E a sua de formação profissional? Desde pequeno, eu sempre tive muita facilidade de lidar com tecnologia. Ainda não era nem adolescente e já consertava o computador de quem me pedia ajuda. Com o tempo, comecei a desenvolver também sites e a me interessar profundamente pela internet. Me lembro de quando criei o Resende Costa Turismo, com a ajuda da Luciana e do Cláudio Resende que trabalhavam na EMATER, e o colocamos no ar no dia do evento de lançamento da Estrada Real em Resende Costa. Esses trabalhos e outros, como o guia comercial (Resende Costa Online), além de me dar alguma renda na minha adolescência, me serviram de inspiração e de experiência para decidir o que eu gostaria de fazer na minha carreira profissional. Porém, havia um problema: não tínhamos cursos de tecnologia que envolviam internet na região.

Como você foi parar na área de tecnologia? Quando finalizei o ensino médio, eu passei em alguns vestibulares e optei por fazer Administração na UFSJ (Universidade Federal de São João del-Rei). Porém, no ano seguinte, eu comecei a pesquisar curso da área que eu gostaria e acabei me decidindo por me mudar para São Paulo e fazer a minha formação por lá. No período anterior à mudança, a minha mãe e eu abrimos uma lan house (cyber café) - era um tempo que Resende Costa tinha pouco acesso a internet, então o negócio deu certo -, e com o esforço dela e também com a ajuda do meu pai foi possível realizar o meu sonho de fazer esse curso em São Paulo. Lá eu me formei em Sistemas para Internet e posteriormente fiz uma pós-graduação em Engenharia de Software pelo antigo IBTA/IBMEC.

E como foi a sequência de sua vida profissional? Além da lan house em Resende Costa, eu fiz algumas atividades profissionais até os meus 19 anos. Fazia manutenção de computadores, desenvolvia sites, vendia computadores em parceria com uma empresa de Juiz de Fora e anúncios para os negócios locais nos sites de Resende Costa, etc.

O começo em São Paulo foi difícil? Quando me mudei para São Paulo, eu tive muita dificuldade para achar imóvel para alugar pois não aceitavam fiadores de fora da capital. O Aurélio Campos (Lelinho), um amigo com família em Resende Costa, sem nunca ter me visto, cedeu um espaço na sua casa para eu ficar. Um ato que será jamais esquecido. Depois de um tempo, eu acabei sendo aceito por uma imobiliária. Também tive um outro amigo que se dispôs a me auxiliar da mesma forma, o Ricardo Campos, de São João del-Rei, que apenas sendo um conhecido meu pela internet ofereceu a sua casa para me receber.

E a experiência profissional? Em São Paulo, depois de uma longa busca por uma primeira experiência profissional, eu iniciei minha carreira em 2008. Fui contratado como estagiário pela Lampada Global para desenvolver componentes para sistemas de relacionamento com clientes. Fui indicado por um amigo que conheci em Resende Costa, o Antônio Spampinato (Toninho), a quem sou muito grato por isso. Nessa experiência, eu pude atender grandes empresas como a Allianz e a Saint Gobain. Em 2009 e 2010, eu trabalhei para a Interdevice e a Loma Comunicações e Eventos. Na primeira, eu desenvolvi o site da Miami Ad School ESPM e do Grupo Viamar e, na segunda, eu implementei uma rede social para produtores de música eletrônica e participei da criação dos sites dos eventos noturnos da empresa.

Experiência e tanto… Depois dessas duas experiências, iniciei a minha própria empresa de prestação de serviços em desenvolvimento de sites e sistemas para internet, a Intelectua. Até eu me mudar para o exterior, durante cerca de oito anos, tive um contrato de parceria com uma empresa chamada Basics, onde eu pude participar de projetos da gestão, planejamento e desenvolvimento de sites, intranets (sites internos para colaboradores de empresas) e de planos de marketing digital para clientes como PwC, Presidência da República (SECOM), Racional Engenharia, Casablanca Turismo, FIERGS (Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul), Mercantil do Brasil, Titan/Goodyear, HSM Management, Unilever, etc.

E como surgiu a ideia de mudar do Brasil? Uma das matérias que eu mais gostava na escola era história, era a minha melhor nota. Gostava muito de ver filmes e séries medievais. Ficava fantasiando como seria a vida naquele período. Também gostava muito de música, principalmente Rock e Metal que são predominantemente em inglês. Isso, aliado a questão da tecnologia, me impulsionou a me interessar por morar no exterior desde cedo. Ao chegar a São Paulo, comecei a pesquisar sobre intercâmbio na Irlanda, tracei um plano em que pegaria experiência profissional, me formaria, juntaria dinheiro suficiente para atender as exigências do governo e iria para lá melhorar o inglês e viver essa cultura. Como a vida era difícil, o dinheiro era curto, como acontece com a maioria dos estudantes, esse plano foi sendo adiado. No final do meu curso, eu conheci a minha esposa, fomos planejando nosso futuro e acabamos no casando. Eu sempre mencionava isso para ela, que mostrava interesse e receio ao mesmo tempo. Depois de algum tempo, mudamos os planos para ir para o Québec, no Canadá.

Por que o Canadá? A imigração era facilitada para a área dela (radiologia) e para a minha; precisávamos apenas aprender francês. Nos inscrevemos em palestras gratuitas do governo do Canadá para obter mais informações. Começamos a ver vídeos, iniciamos os estudos de francês. Conheci professores franceses e marroquinos e aproveitei para desenvolver o site de um deles em troca de aulas. Fizemos a prova de proficiência e conseguimos as notas, um francês intermediário. Porém, diante dos menos 30 a menos 40 graus durante o inverno, a minha esposa sugeriu voltar o foco para a Irlanda; agora estava mais fácil para nós, eu estava com um emprego melhor. Na semana que estava fechando o pacote com a escola, assinando o contrato, descobrimos que ela estava grávida. Intercâmbio grávida ou com bebê? Impossível.

Havia um plano C? Tínhamos ideia de que as pessoas reconheciam a cidadania italiana, mas não sabíamos como funcionava. Eu comprei um livro e comecei a ler a respeito. Ela tinha direito, pois todo mundo que tem sangue italiano de um ancestral nascido após a constituição da Itália é italiano. Ela tinha por parte dos avós maternos e paternos. Montamos o processo e lá fomos para a Itália com ela grávida. Ficamos lá por um tempo, fizemos o processo e voltamos para o Brasil. Aguardamos o nosso filho nascer e fomos uma segunda vez para finalizar uma parte que ficou pendente. Com as cidadanias em mãos, fomos novamente para Resende Costa finalizar o planejamento e imigrar para a Inglaterra.

Por que a Inglaterra? O nosso plano inicial era Cascais, em Portugal, mas a questão do inglês e econômica naquele momento pesou favoravelmente para a terra da rainha. Eu fiz a escolha por Manchester porque, além do futebol, aqui tem muita história, foi onde começou a revolução industrial, surgiu a primeira linha de trem, onde os modelos atômicos que víamos na escola foram desenvolvidos, onde a computação moderna se iniciou, os movimentos do direito ao voto feminino se iniciaram a cinco minutos daqui de casa e os membros do Oasis moravam no bairro ao lado. É um lugar bonito, industrial, é uma cidade que reúne a história com a modernidade.

Há quanto tempo você mora em Manchester? Moro há três anos em Manchester, estou aqui desde Junho de 2017.

E como foi a adaptação? Quando cheguei aqui, ainda fiquei um tempo trabalhando remotamente para o Brasil enquanto minha esposa começou a trabalhar numa empresa de logística para melhorar o seu inglês. Tivemos que nos adaptar um pouco à nova rotina, mas a flexibilidade do meu trabalho e o fuso horário de quatro horas ajudaram pois dava tempo de cuidar do meu filho e também de trabalhar. Quando a minha esposa engravidou da nossa segunda filha, iniciamos um planejamento para uma transição. Ela passaria a ficar em casa de licença e eu iniciaria meu trabalho por aqui. Em Dezembro de 2018, ela começou a sua licença e eu iniciei o meu trabalho para a Ricardo, uma multinacional com cerca de três mil funcionários. Eu trabalhava para o braço que cuida de energia e meio ambiente. Tive a oportunidade de desenvolver sistemas e sites de medição de qualidade do ar para a União Europeia (Comissão Europeia) e para os governos dos estados que compõem o Reino Unido. Foi uma ótima oportunidade para aprender sobre a cultura britânica - no meu time, quase todos eram britânicos com exceção de uma chinesa e um indonésio. Fiquei na empresa por um ano e cinco meses até que resolvi aceitar uma proposta da Manchester Metropolitan University (Universidade Metropolitana de Manchester). Estou agora no meu terceiro mês trabalhando para eles, uma experiência inusitada pois não conheci boa parte do meu time pessoalmente ainda; temos feito reuniões periodicamente pela internet para trabalhar no lançamento do novo site da instituição.

Então, você já estava adaptado ao trabalho remoto (home office) quando veio a pandemia… Eu tenho muita felicidade de trabalhar nessa área que escolhi, pois o trabalho que prestava para a Ricardo e que presto para a universidade podem ser feitos remotamente. Todo dia eu me conecto com o meu time, faço reuniões e executo os projetos a partir do meu computador. Então, já fazem ao menos dois meses que eu não saio de casa. Tenho tentado fazer exercícios para não ficar tão sedentário. É um período muito estressante, principalmente para as crianças que ficam com menos espaço para queimarem suas energias. Porém, é algo necessário, uma vez que não queremos ter o desprazer de levar esse vírus para ninguém ou de sofrer com ele. Aqui, como há uma concentração populacional maior - cerca de 67 milhões de pessoas para um território do tamanho do estado de São Paulo -, as coisas tem que ser levadas ainda com mais cautela. O governo tem testado em massa a população. Disponibilizaram um site onde, se você tem sintomas, eles entregam um kit de teste na sua casa; ou, se você preferir, lhe direcionam para um lugar onde você pode fazer o teste abrindo a janela do seu carro para que alguém colete o material. Além disso, as universidades estão trabalhando em pesquisas para vacinas e medicamentos. Há pronunciamentos diários dos encarregados pela saúde para explicar o que está acontecendo e quais os próximos passos. A parte pior já parece estar ficando para trás, o pico já passou e estão se preparando para a reabertura. Como ainda temos a opção de mandar nosso filho maior para a escola só depois do final do ano e de continuar fazendo educação domiciliar, vamos mantê-los em casa para evitar riscos. Enquanto isso, esperamos ter uma medicação eficaz pronta até lá.

Você tem outras atividades, além da profissional? Além das minhas atividades profissionais, eu desenvolvo um projeto chamado Brasileiros em Manchester. Trata-se de um site e diversos grupos no Facebook e no WhatsApp com informações úteis e promoção da troca de experiências entre brasileiros que já imigraram ou pretendem imigrar para cá. Nos últimos 12 meses, o site teve 66 mil visitantes únicos e atualmente o grupo no Facebook possui 4.5 mil membros. No meu tempo livre, eu gosto de viajar com a família. Antes de virmos para cá, eu já havia visitado o Uruguai, o Chile, a Argentina e o Paraguai. Ter visto o quão desenvolvido o Chile e o Uruguai eram me deu uma ideia de como seria a Europa, uma vez que não havia pisado ainda na Itália. Uma vez em solo europeu, eu tive a oportunidade de conhecer cidades na Itália, França, Portugal, Escócia e Inglaterra. Outra coisa que gostamos de fazer são confraternizações com nossos amigos da comunidade brasileira. Nós regularmente nos reunimos em pubs ou em nossas casas. Em momento que a saudade da família no Brasil aperta mais, como em datas especiais, nós nos reunimos para celebrá-las juntos, como no Natal e no ano novo.

Com o Reino Unido (do qual a Inglaterra faz parte) deixando a União Europeia, como fica a sua situação que tem cidadania italiana? Com o Brexit, quem vive aqui há mais de cinco anos, receberá a residência permanente, também chamada de settled status. No meu caso que estou há três anos, receberei um visto de cinco anos chamado pre-settled status, mas daqui a dois anos poderei trocá-lo pelo settled status. Depois disso, é opcional, mas podemos aplicar para a cidadania britânica com sete anos de residência. Para quem ainda está para vir como europeu, tem até o final do ano para ingressar como pre-settled; depois disso, caso não haja extensão, terão que aplicar para o novo programa de imigração que será por qualificação profissional (pontuação), como acontece no Canadá, Nova Zelândia e Austrália. A parte positiva do programa é que brasileiros e pessoas de outras nacionalidades terão mais chances para imigrar.

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