De três fazendas surgiu um povoado Assim começou o processo de povoamento no Curralinho dos Maias...


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André Eustáquio / Cláudio Luis Resende0

Fazenda Estiva

Os baluartes da família Resende deram o nome ao antigo Arraial da Lage, que veio a se chamar, já nos idos do século XX, Resende Costa. Uma família deu nome a um lugar. Isso foi comum em várias localidades, onde figuras ilustres cederam seu nome ou sobrenome para caracterizarem cidades, distritos, rodovias e povoados. Em Resende Costa, destacam-se: povoado dos Pintos (homenagem ao Coronel Felisberto Pinto), Curralinho dos Paulas (sobrenome de uma família proprietária de uma grande fazenda que deu origem à comunidade), Curralinho do Andrade (herdou o nome do fazendeiro da cidade de Passa Tempo, que construiu a Fazenda do Andrade, atual propriedade do Sr. José Geraldo de Resende, Lalado) e Curralinho dos Maias, povoado que iremos apresentar nesta reportagem.

O viajante que se põe a andar por aquelas paragens não vai encontrar, além da beleza geográfica, grandes atrativos, em se tratando de um povoado plenamente constituído. Algumas casas foram erguidas ao lado de uma escola construída na década de 80, pelo então prefeito municipal Ocacyr Alves de Andrade. Ao contrário do que aconteceu na grande maioria das comunidades Resende-costenses, nos Maias o povoamento não se deu em torno de uma capela ou cruzeiro. Até porque o cruzeiro – marco religioso do lugar – encontra-se distante da povoação, juntamente com o campo de futebol.

A história do povoado está ligada diretamente a três fazendas: Fazenda Estiva, antiga propriedade de Cristóvão Maia; Fazenda Casinha e Retiro Velho. Infelizmente a Fazenda Casinha já foi demolida, existindo atualmente o alicerce e na memória dos moradores mais antigos da região. O sobrenome “Maias” aparece na identidade da maioria dos habitantes do Curralinho e arredores. Não é nosso objetivo fazer um trabalho genealógico, porém apenas constatar que era um sobrenome comum tanto em fazendeiros como Cristóvão Maia, bem como em agregados de fazendas. Segundo apuramos (pela fonte oral), o sobrenome veio da região de Desterro de Entre Rios, vindo a se espalhar pela região que, no final, o herdou.


Referências históricas, costumes e tradições

A fazenda Estiva ainda conserva traços vivos do passado, como o curral de pedra, forno a lenha, fogão a lenha revestido por pedra sabão, enfim uma casa que revela os traços de uma propriedade que manteve o estilo do final do século XIX e início do século XX, cujo fundador era fazendeiro abastado. Consta que na época de Cristóvão Maia o movimento na fazenda era intenso: criação de gado, lavoura, entre outras atividades rurais que movimentavam a economia do lugar.

A vida social na maioria dos povoados gira em torno do trabalho rural, práticas religiosas, bate-papo na venda, futebol no fim de semana, entre outros afazeres que eventualmente surgem no decorrer do ano. O Curralinho dos Maias ficou famoso pelas partidas de futebol que eram realizadas lá. “Por ser roça, aqui apareceram bons times e grandes jogadores”, diz o Sr. Antônio, genro do Sr. José Honório que certamente é o morador mais velho da região, hoje com 91 anos. O futebol amador entrou em declínio no povoado e hoje não se tem mais jogos como no passado.

Antiga por lá é a tradição dos cruzeiros. Muitos casais que residem nos Maias se casaram sob a sombra do cruzeiro, que hoje ainda é local de celebração das missas, como também as rezas, terços e novenas. A população brevemente terá a sua capela. O que para nós é curioso é ter um lugar que ainda conserva as celebrações no cruzeiro, hábito comum no interior em tempos remotos, que ficou no folclore e na crendice popular. As orações ao pé do cruzeiro tornaram-se símbolos da fé viva e simples do homem do campo, marcada pelas promessas e penitências. Quem não se lembra do semblante da mulher camponesa, com lenço amarrado na cabeça, descalça e rezando um terço, suplicando a Deus que envie chuva, pois o gado está morrendo e a plantação não vigora? Esta cena tornou-se comum no nosso cinema e até mesmo em novelas. Nos Maias, pedindo licença ao exemplo usado acima, o cruzeiro ainda é o “templo” do povo que deseja conversar com Deus.


Pessoas da Terra

O que caracteriza cada lugar são principalmente as pessoas que nele reside. Seus hábitos, história, lamentos e perspectivas nos permitem conhecer e entender como a vida se deu e como o que podemos planejar para o futuro. É mais fascinante ainda quando nos deparamos com moradores como o Sr. José Ferreira Campos, conhecido por todos como José Honório. Ao longo dos seus bem vividos 91 anos de idade, o seu José Honório é com certeza o morador mais velho da região.

Nascido num lugar chamado Cachoeira dos Forros, reside no Sítio Pasto da Ponte, local que antigamente pertenceu à cidade de Lagoa Dourada, mas hoje faz parte do município de Resende costa, seu José é pai de 10 filhos, possui 38 netos e 26 bisnetos. Com 91 anos, é possuidor de uma lucidez invejável que o permite conversar sobre a história, pessoas e casos do lugar.

Nascido e criado na região, Seu José Honório, com quase um século de vida, nos faz imaginar: o que ele viu acontecer naquelas terras? Hoje, estamos procurando entender os fatos e a história que ele viveu e foi testemunha ocular. Fatos que nos obrigam a deduzir, seu José os presenciou. Com certeza, viveu as dificuldades de morar num lugar distante 28 Km de Lagoa Dourada e 25 de Resende Costa, em um tempo que não existia o transporte por estrada com tamanha facilidade que se tem hoje. Pois foi nessa mesma época que criou seus 10 filhos.

O Senhor José Ferreira Campos é a memória viva daquela região. Da porta de sua casa tem-se a visão da centenária capela do Curralinho dos Machados, onde celebrou, junto de sua família, os seus 91 anos. Hoje, o Sr. José Honório sente prazer em conversar com pessoas como nós, dispostas a “viajar no tempo” e sentir um certo “ar” de nostalgia de uma época em que a luz elétrica ainda não havia chegado no campo e o cavalo era o principal e talvez o único meio de transporte. Para nós, templos de um espírito um tanto quanto poético, isso remete aos romances, mas para pessoas como o Sr. José Honório não deve ser tão romântico assim, porém, sem dúvida alguma, deixou marcas indeléveis que perpassaram já quase um século de existência.


Economia, estrutura fundiária e organização comunitária

 O Povoado dos Maias se caracteriza por possuir pequenas propriedades rurais, exceção à Fazenda Estiva, outrora palco de uma exuberante produção agropecuária e responsável por geração de emprego e renda da população do povoado. Hoje, esta Fazenda, remanescente do Sr. Cristóvão Maia, tem vivido uma realidade e um período com pouca atividade agropecuária, sendo que foi toda dividida entre os herdeiros do Sr. Célio. Alguns já venderam sua quota para terceiros, restando apenas a sede magnífica da Fazenda, com áreas abandonadas e carentes por cuidados. Dizem que um empresário de BH adquiriu grande parte de suas terras, com possibilidade de voltar a produzir.

Atualmente, existe uma extração de pedras quartzo no povoado, de propriedade dos Irmãos Vianini, de São João Del Rei, com produção de mais de 30 toneladas do mineral por dia, que são vendidas para siderúrgicas da região, utilizado como componente de liga, para produção de aço. A pedreira emprega trabalhadores do povoado que, juntamente com a agropecuária de subsistência e o eucalipto, são responsáveis pela economia do lugar.

Há uma nítida percepção, que o lugar só começou a alavancar os primeiros passos para o desenvolvimento com a criação da Escola Municipal Hipólito Ferreira Maia e a criação do Conselho Comunitário Nossa Senhora da Piedade, em 1986, época em que Edílson Nascimento da Silva, o Iute, já tendo presidido a entidade por 4 mandatos, foi importante agente de mudanças nos projetos desenvolvidos, sendo que hoje esta responsabilidade  e nobre missão está por conta do conhecido Toinzinho, incansável cobrador e mediador das demandas e necessidades de todos os moradores do povoado.

Enfim, o povoado do Curralinho dos Maias está situado numa região rica em belezas naturais e fazendas antigas, como a Estiva, Fazenda do Andrade, Fazenda Pinheiros, entre outras propriedades que deram origem ao povoamento na região. Vale a pena conhecer essas fazendas, saber um pouco mais de suas histórias.

P.S. Optamos por manter o texto original. As informações descritas acima foram obtidas no povoado. Na ocasião, conversamos com o Sr. José Honório que era o morador mais velho do lugar, com 91 anos de idade. Recentemente, o Sr. José Honório veio a falecer, deixando uma família numerosa. A nossa conversa com ele foi rica em detalhes sobre o povoado, causos e lembranças de um tempo que ficou indelevelmente marcado na memória daquele quase centenário homem.