Jornalista resende-costense inicia pesquisa de doutorado sobre fake news


Cultura

Da redação0

Fernando Chaves é mestre em Comunicação política pela Universidade Federal de Juiz de Fora (Foto arquivo pessoal)

A expansão das novas mídias sociais e a imensa disponibilidade de informação trazida pela internet impulsionaram a circulação de informações duvidosas e mal-intencionadas, impondo novos desafios para a sociedade e para a democracia. Com isso, o fenômeno das fake news tem chamado a atenção de pesquisadores das áreas de comunicação e ciências sociais.

A circulação de informações incompletas, imprecisas, manipuladas, tendenciosas ou completamente falsas pela sociedade não é uma consequência da internet e das novas mídias digitais. As notícias falsas sempre existiram, tanto na política quanto no jornalismo. No entanto, nos últimos 20 anos a circulação desse tipo de conteúdo aumentou consideravelmente em intensidade e volume, gerando ondas de desinformação que têm interferido fortemente no funcionamento de instituições caras à sociedade moderna, tais como a democracia, a imprensa e a ciência.

Mas não é só o aumento no volume, no alcance e nos impactos das notícias falsas que têm trazido o tema da desinformação para o centro das discussões sobre democracia e comunicação social. Além da questão tecnológica, que ampliou a disponibilidade de conteúdos duvidosos, há também um cenário cultural que potencializa a influência desse tipo de notícia sobre as pessoas. Nos últimos anos, cientistas sociais e comunicólogos têm debatido intensamente um fenômeno cultural que ganhou o nome de pós-verdade. Esse fenômeno diz respeito a uma prevalência das emoções, dos interesses individuais e das crenças pessoais na percepção da realidade pelas pessoas e na formação da opinião pública. “Hoje, os fatos objetivos têm menos influência sobre opinião pública do que os apelos à emoção e às crenças individuais”, comenta o jornalista Fernando Chaves, que é mestre em Comunicação Política pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e acaba de ingressar no doutorado em Comunicação da Universidade Paulista (UNIP), com o objetivo de estudar o uso das fake news e da desinformação na comunicação política brasileira.

Segundo Fernando, o tema fake news e a pós-verdade é muito atual e ainda não possui muitas produções bibliográficas no Brasil. “Trata-se de um fenômeno muito novo que tem impactado bastante o funcionamento de várias instituições, no Brasil e no mundo. Estudos apontam que nosso país, infelizmente, vem se destacando negativamente, sendo uma das nações com maior circulação de notícias falsas no mundo. Vimos isso acontecer intensamente durante as eleições presidenciais de 2018. Mas ainda há muito o que se investigar cientificamente sobre esse fenômeno no país. A maioria dos estudos sobre fake news e pós-verdade ainda vem de fora. Foi esse cenário que despertou a minha vontade de pesquisar o tema, que é muito relevante para a nossa democracia”, relata o jornalista.

 

Pesquisa

A pesquisa proposta pelo resende-costense vai focar na circulação das fake news e no uso político da desinformação durante a pandemia da Covid-19 no Brasil, por meio de uma análise de publicações e interações sociais estabelecidas por agentes públicos durante a pandemia no Brasil, com atenção especial para a comunicação realizada através das redes sociais pelo presidente da república, Jair Bolsonaro, pelo Ministério da Saúde do Brasil e pela OMS (Organização Mundial da Saúde). “Um dos objetivos é entender melhor como as fake news, o discurso negacionista e o discurso anticientífico ocuparam as publicações e as interações sociais desses atores durante a pandemia, já que vários estudos apontam para um aumento significativo na circulação de notícias falsas durante cenários epidêmicos, como já foi constatado durante o surto de Ebola na África no ano de 2013 e durante a epidemia de Zika Vírus no Brasil em 2019”, diz Fernando.

Para o jornalista, o contexto de pandemia e as características atuais do governo brasileiro formam um cenário propício para o estudo do uso político das fake news e da desinformação: “O presidente Bolsonaro já é conhecido internacionalmente por ocupar um lugar de destaque entre os líderes mundiais que flertam com o negacionismo científico e com o uso sistemático das fake news. Num cenário pandêmico, em que o presidente tem se posicionado contra o discurso da OMS e confrontado grande parte da comunidade científica, surge uma boa oportunidade para a investigação do fenômeno da desinformação como ferramenta política. Também queremos entender melhor como o discurso científico e institucional reage aos ataques e tensionamentos promovidos por grupos políticos. Por isso a pesquisa deve analisar, além da comunicação presidencial, as publicações e interações estabelecidas pelo Ministério da Saúde e a OMS nas redes sociais durante a pandemia.”

O estudo investigativo proposto pelo jornalista Fernando Chaves é importante para auxiliar a sociedade, a imprensa, as instituições científicas e as democráticas no enfrentamento às fake news e à desinformação. “Nossa sociedade ainda está começando a desenvolver seus antídotos para tentar lidar com os desafios desse novo ambiente cultural e informacional em que vivemos. Nesse sentido, já existem esforços institucionais, acadêmicos e jornalísticos no sentido de se entender melhor o fenômeno das fake news e combater sua disseminação. Nessa linha, o campo jurídico amadurece para lidar com as notícias falsas e entidades empreendem ações de ‘educação da audiência digital’, de checagem e crítica de informações que circulam pelas redes. É assim que estão surgindo as plataformas e serviços de fact checking, grande parte ligada a órgãos de imprensa. Ainda são iniciativas novas e limitadas, diante do potencial de interferência das notícias falsas na opinião pública. Porém, já indicam uma reação da sociedade diante das fake news. É nessa linha que pretendo inserir o meu trabalho de doutorado. Espero poder contribuir, de alguma forma, para a melhor compreensão e combate das notícias falsas e da desinformação”, conclui Fernando Chaves, que deve iniciar sua pesquisa no segundo semestre deste ano.

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