O drama da educação na geração pandêmica


Editorial

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Uma reportagem de destaque desta edição do Jornal das Lajes, assinada pelo jornalista José Venâncio, revela um drama que acomete pais e educadores nestes tempos de pandemia: quando, afinal, os alunos poderão retornar com segurança às salas de aula? Dentre tantas dúvidas que povoam a inteligência dos cientistas que tentam decifrar os diversos enigmas do novo vírus causador da Covid-19, esta é mais uma pergunta que aguarda resposta.

Desde que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou que o mundo estava em alerta devido a uma pandemia causada por um novo vírus, o cotidiano de pessoas e instituições sofreu uma verdadeira revolução. Em poucos dias, escolas foram fechadas, sendo que em alguns países, como o Brasil, o ano letivo estava apenas iniciando. Durante recesso por tempo indeterminado, foi dado aos alunos um único dever de casa: proteger-se do novo coronavírus.

No início do distanciamento social, imaginava-se que o recolhimento não duraria tanto tempo e que em breve a vida poderia retornar a uma certa normalidade. No entanto, após cinco meses, as salas de aula continuam vazias, pais tentam ajudar seus filhos no cumprimento das atividades escolares remotas e os professores lutam contra o tempo para se adaptarem ao método on-line de ensino para o qual muitos ainda não estão preparados. O ensino remoto ou a distância foi adotado em alguns estados, entre eles Minas Gerais, como forma de suprir a ausência de professores e alunos no ambiente escolar.

Não há, no momento, em praticamente todos os estados do Brasil, condições adequadas para o retorno seguro das aulas presenciais, sobretudo nas escolas públicas. Mesmo em países da Europa e da Ásia, onde a pandemia já foi controlada, o retorno às aulas tem sido gradativo e um rigoroso protocolo de segurança precisa ser seguido por pais, alunos, professores e funcionários de escolas.

Com os filhos em casa e impossibilitados de irem para a escola, os pais vivem o desafio de ajudá-los a fazer as lições escolares através de apostilas, ou pelo celular e notebook, no caso das aulas remotas. O cotidiano das famílias foi alterado pela pandemia e no horizonte só se veem incertezas de quando os filhos poderão pegar novamente as mochilas e os cadernos e voltarem a entrar numa sala de aula.

Porém, não é somente a quebra da rotina de pais, alunos e professores que vem causando preocupação à comunidade internacional. No início deste mês, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Antonio Guterres, alertou que o planeta está diante de uma “catástrofe de toda uma geração” e apelou aos governantes para tratarem do retorno às aulas como prioridade absoluta quando houver segurança sanitária. “Colocar os alunos de volta às escolas da forma mais segura que for possível precisa ser a maior prioridade”, afirmou Guterres em entrevista divulgada no Brasil pela CNN.

De acordo com o secretário-geral da ONU, mais de 1 bilhão de estudantes foram afetados pelas medidas de distanciamento social mundo afora, abrindo brechas para o surgimento de outro grave problema social: a desigualdade. “Já enfrentávamos uma crise de ensino anterior à pandemia. Agora, estamos diante de uma catástrofe de toda uma geração que pode desperdiçar potencial humano, levando a décadas de atraso, exacerbando a desigualdade.”

No momento, o que estamos vendo é a urgência em reabrir praias e shoppings. E, infelizmente, não se vê a mesma determinação em relação à retomada das aulas com segurança e planejamento. O desafio imposto às autoridades não é somente autorizar as escolas a receberem os alunos de volta, mas, sim, oferecer soluções capazes de mitigar o precioso tempo perdido, de forma a evitar que a geração atual seja testemunha do agravamento de problemas oriundos da desigualdade social.

Que a “catástrofe de toda uma geração”, conforme alerta Antonio Guterres, não se cumpra e fique registrada nos futuros livros de história somente como mais uma terrível previsão apocalíptica surgida durante a pandemia de Covid-19 no trágico e desafiador ano de 2020.

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