O exemplo da agricultura


Editorial

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O agronegócio brasileiro – cujo carro-chefe é a soja – vai muito bem, apesar da crise, que gera falta de confiança e incerteza quanto ao futuro por parte dos agentes econômicos. Movido a tecnologia, políticas públicas de incentivo e gestão eficiente, o setor conseguiu superar os desafios do “custo Brasil”, beneficiado em anos anteriores pelo boom das commodities – puxado pela demanda principalmente da China – e agora pelo câmbio favorável. Apesar da queda nos preços internacionais, as exportações do setor continuam a contribuir de maneira significativa para o equilíbrio das contas externas brasileiras.

Outra face da mesma moeda, a agricultura familiar consegue manter a estabilidade necessária para atravessar períodos de crise econômica como o atual, segundo duas reportagens publicadas pelo Jornal das Lajes – a produção de leite em Resende Costa (edição de Março) e o produtor que vive na fronteira com Oliveira (ver nesta edição). Independentemente do tamanho da atividade, estes produtores – que têm no leite o carro-chefe - incorporam novas tecnologias, adotam o profissionalismo na gestão, consideram importante o associativismo e têm na família o alicerce do seu negócio.

Os dois segmentos da agricultura – a exemplo de outros setores da economia – padecem das mesmas dificuldades oriundas da distorção do modelo brasileiro, que dá um peso excessivo ao Estado em prejuízo do setor produtivo, situação esta que é agravada em períodos ditatoriais (Estado Novo e ditadura militar) ou de governos centralizadores (caso atual).

É o caso do agricultor familiar João Rios de Sousa, conhecido por João Reis, que é vítima da dupla crise – política e econômica – aliás, como a maioria dos brasileiros. De um lado, um país à deriva, com as contas públicas descontroladas e sem perspectiva de longo prazo, e de outro, uma combinação perversa de inflação (na casa dos 10%) com recessão (achatamento da renda e elevado desemprego).

João Reis mora na zona rural de Ouro Fino, fronteira de Resende Costa com Oliveira. Ele e sua família têm como principal atividade a produção de biscoitos, e para isso produz mandioca (polvilho), eucalipto (lenha) e ovos, comprando o que falta em São Tiago e Passa Tempo, cidades que também fazem fronteira com Resende Costa. O produto do seu trabalho é vendido no comércio e em domicílios das cidades vizinhas e também em Belo Horizonte. João Reis reclama dos custos crescentes que não pode repassar aos fregueses sob pena de ficar com o produto encalhado.

Os empreendedores brasileiros são duplamente castigados por nossos governos (federal e estaduais). De um lado, o Brasil tem a maior carga tributária do nosso continente (34,4% do PIB ou de tudo que se produz no país), o dobro da média dos 22 países da América Latina e Caribe, de acordo com estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em outras palavras, nós brasileiros – produtores e consumidores - trabalhamos grande parte do ano para sustentar os governos. E isto tem impacto nos custos de produção e, consequentemente, nos preços.

De outra parte, tem-se um Estado gigante – burocrático, caro e disforme (cabeça maior que o corpo) - que não apenas não dá conta de fornecer serviços básicos com a eficiência necessária – há exceções, claro! - como também reduz a capacidade de formação de poupança para investimentos, principalmente em infraestrutura básica (energia, transportes etc.). Sem falar que este Estado é vítima de toda sorte de ações predatórias de governos, grupos de interesse (empresários, sindicatos, organizações vinculadas a partidos) e políticos, como tem demonstrado cabalmente a operação Lava-Jato. Como herança, fica um buraco nas contas públicas estimado em mais de R$ 100 bilhões este ano (sem incluir os juros da dívida).

 

Nesse sentido, a agricultura mais uma vez é exemplar, pois ao ser beneficiada por políticas públicas (pesquisa, crédito em condições favoráveis etc.) devolve alimentos em quantidade e qualidade suficientes para sustentar os brasileiros, bem como divisas (dólares) ao país na forma de exportações.

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