A edição deste mês do Jornal das Lajes lança como destaque de capa três temas importantes para nós seres humanos que vivemos e convivemos em sociedade: meio ambiente (continuação das obras de implantação da rede de esgoto em Resende Costa), literatura (lançamento de livro que conta a saga da família Lara) e música (realização do I Festival de Música da Lage). Os três temas se entrelaçam, permitindo-nos refletir sobre como a cultura, em suas mais diversas nuances, nos proporciona qualidade de vida.
É normal pensarmos em qualidade de vida condicionando-a à boa alimentação, à prática de atividade física, a morar em um lugar seguro e próximo da natureza, ser bem sucedido profissional e financeiramente. Tudo isso é, sem dúvidas, importante. No entanto, outros segmentos da vida e da sociedade nos permitem ampliar o horizonte e, consequentemente, aguçar a reflexão sobre o que nos leva a ter qualidade de vida.
Como a vida em sociedade, as manifestações culturais, as religiões, as artes e a natureza proporcionam ao homem qualidade de vida? Eis o tema deste editorial!
Quando nos reunimos num teatro para assistir a um concerto ou a uma peça teatral, abrimos nosso espírito a fim de deixar a arte fluir em nosso ser, ouvindo e reverenciando o som e/ou as performances que a genialidade humana consegue transformar em arte. Inspiram-nos um sentimento de força e arroubo os acordes impactantes e irascíveis do primeiro movimento da 5ª Sinfonia de Beethoven. A “cascata” de violinos do adagietto da 5ª Sinfonia do compositor alemão Gustav Mahler nos inunda de profundo êxtase. E o Réquiem de Mozart, obra-prima do classicismo, que nos faz refletir sobre a morte enquanto experiência de temor, mas ao mesmo tempo de esperança de encontro com o transcendente insondável e eterno?
A música, arte suprema e majestosa, como bem definiu o filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), possui poder especial que transcende a razão humana e, por isso, ainda que fugazmente, nos permite sair da condição de sofrimento. Música e arte são, portanto, qualidade de vida. “Música é vida interior. E quem tem vida interior jamais padecerá de solidão”, vaticinou o saudoso senador e jornalista Artur da Távola.
Uma das reportagens de destaque desta edição revela as novas ações da Copasa para a continuidade das obras de implantação da rede de esgoto em Resende Costa. A meta da Copasa, com a construção de três elevatórias, é oferecer tratamento de esgoto a 90% dos imóveis da cidade. Apesar de caminhar a passos lentos, a implantação da rede de esgoto vem acontecendo para melhorar a qualidade de vida da população resende-costense.
Pensemos no quanto perdemos em qualidade de vida poluindo e destruindo as nossas nascentes, córregos e mananciais com água fétida e podre durante tanto tempo. Esgoto tratado, natureza preservada e água de qualidade são sinônimos de qualidade de vida.
E a memória? O que significa para nós seres humanos o desejo sedento de conhecimento e de ir além dos nossos sentidos e das representações? Platão (428 aC – 348 aC), o filósofo grego, no célebre Mito da Caverna, diz que o homem deseja ardentemente buscar a verdade, ir além dos sentidos que o aprisionam. É justamente isso que buscamos nas leituras que fazemos, nos livros que escrevemos, nas reflexões sobre as quais nos debruçamos e nas histórias que propomos contar, como fez a escritora Maria José Lara nos dois grandiosos volumes sobre a saga da família Lara, tema de reportagem especial do JL deste mês.
Buscar nossas raízes, conhecer a nossa história e nossos antepassados são ações existenciais de busca interior que vislumbra o autoconhecimento. Esse movimento permanente de confronto entre o íntimo do nosso ser e a nossa experiência sensorial é ou não um exercício vital de busca por qualidade de vida?
Reflitamos, pois, sobre quanto a qualidade de vida vai além de nos alimentarmos bem, de dormirmos bem e de praticarmos esporte. Obter qualidade de vida requer também de nós mergulhar nas profundezas da vida interior, lá onde habita o nosso ser, o qual desejamos conhecer e contemplar.