Resende: Bombeiros Voluntários, atentos ao crescente risco de incêndios

Município teve dois incêndios de grandes proporções, nas freguesias de Salgueiras e São Martinho dos Mouros, no mesmo dia da segunda grande tragédia em Portugal em menos de quatro meses.


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José Venâncio de Resende 0

Sede da corporação Bombeiros Voluntários.

Portugal viveu um verdadeiro inferno, um dos piores da sua história, no espaço de pouco menos de quatro meses (entre verão e outono): mais de 100 mortos, centenas de feridos e mais de 250 mil hectares queimados (com milhares de animais mortos e destruição de casas, empresas, plantações, carros e máquinas).

Um cenário devastador, com fogos descontrolados, atingiu principalmente as regiões centro e norte do país. Apesar da violência das chamas, estimulada pelo forte calor e pelos ventos mudando de direção a todo o momento, a tragédia também foi marcada por uma descoordenação e deficiência na gestão técnica dos meios de combate ao fogo.

“O Presidente da República pode e deve dizer que esta é a última oportunidade para levarmos a sério a floresta e a convertermos em prioridade nacional. Com meios para tanto, senão será uma frustração nacional. Se houver margens orçamentais, que se dê prioridade à floresta e à prevenção dos fogos.”, reagiu Marcelo Rebelo de Souza, presidente de um regime parlamentarista, em duro pronunciamento à nação logo depois da segunda grande tragédia que atingiu o país no domingo de 15 de outubro.

O município de Resende, norte de Portugal, não ficou imune aos acontecimentos de 15 de outubro. Dois incêndios de grandes proporções atingiram as freguesias de Salgueiras e São Martinho dos Mouros, com destruição de armazéns agrícolas e matas. Felizmente não houve perdas humanas.

“Foi terrível, eu nunca vi igual”, diz Joaquim Alves, presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Resende. Foram mobilizados recursos humanos e viaturas da corporação de Resende, que ainda recebeu ajuda dos Bombeiros Voluntários dos municípios de Lamego e Castrodaire.

Relatório

Nas mãos do governo do primeiro-ministro Antônio Costa, está o relatório final sobre os incêndios de Pedrógrão Grande (centro do país), onde morreram 65 pessoas. O document foi elaborado por uma comissão independente e entregue na última segunda-feira, 16 de outubro.

O relatório não poupa quase ninguém e a constatação é contundente: "Não houve pré-posicionamento de forças, nem análise da evolução da situação com base na informação meteorológica disponível. A partir do momento em que foi comunicado o alerta do incêndio, não houve a percepção da gravidade potencial do fogo, não se mobilizaram totalmente os meios que estavam disponíveis e os fenômenos meteorológicos extremos acabaram por conduzir o fogo, até às 3h do dia 18 de Junho, a uma situação perfeitamente incontrolável.”

“Há muita coisa que tem de ser feita. O país é vulnerável. É preciso uma melhor governação dos espaços rurais, um melhor ordenamento das florestas, uma maior sensibilidade das pessoas na utilização do fogo e uma boa qualificação dos recursos humanos”, concluiu o coordenador da comissão, Xavier Viegas. Uma das prioridades apontadas por ele é a profissionalização dos bombeiros.

O combate a incêndios em Portugal é historicamente feito por associações de bombeiros voluntários, que existem desde 1868. Ao lado do associativismo, existe o sistema dos sapadores (corpos de bombeiros totalmente profissionais, isto é, que não admitem voluntariado). Os sapadores atuam, sob tutela das Câmara Municipais, nas cidades de grande dimensão, como Lisboa, Porto, Coimbra, Braga e Setúbal.

Em Resende

Uma dessas associações é a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Resende, que existe desde 15 de março de 1950. É presidida há 16 anos por Joaquim Alves, com mandato renovado de quatro em quatro anos em assembleira geral. A direção é composta por um vice, dois secretários, um tesoureiro e dois vogais. Já o conselho fiscal é formado por cinco membros.

O primeiro presidente da Associação foi José Rodrigues, que acumulou a direção com a função de comandante da corporação Bombeiros Voluntários (BV) durante 50 anos. A entidade começou com cerca de 30 sócios.

Em 2000, assumiu a direção da Associação o professor Antônio Marques, que permaneceu no cargo apenas um ano. O comandante na época era Rui Matos Pedro.

Em 2001, a assembleia geral elegeu Joaquim Alves para a presidência da Associação. Com ele, assumiu o cargo de comandante o engenheiro Carlos Magalhães, que permaneceu durante quatro anos. Em seguida, a BV Resende passou a ser comandada por Antônio Borges, que era um dos bombeiros mais antigos da corporação.

A partir de 2011, o comando da BV Resende é exercido por Sérgio Monteiro, que “está a fazer um excelente trabalho”, como faz questão de enfatizar Joaquim Alves.

Sócios

Atualmente, a Associação reúne 522 sócios embora não sejam todos pagantes. O associado paga uma cota anual que é uma das fontes de receita da entidade. As outras fontes de recursos são os transportes de doentes solicitados pela Segurança Social, pelas companhias de seguro, hospitais e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM), além dos subsídios mensais atribuídos pela Câmara Municipal e pela Autoridade Nacional de Proteção Civil.

Estes sócios participam das assembleias gerais que definem os rumos da Associação e de atividades festivas como Natal e Dia dos Bombeiros. Entre as vantagens para estes sócios, Joaquim Alves cita o desconto de 20% em transporte de ambulâncias em caso de doenças, além do direito a um cartão de desconto no preço do combustível (“Galp Frota”).

Bombeiros

A atual estrutura da BV Resende é formada 67 bombeiros voluntários e 18 bombeiros assalariados (vínculo empregatício à Associação).

Os voluntários prestam serviços gratuitos em casos de ocorrência de incêndios, explica Joaquim. “Na Altura do verão (maio - outubro), esses voluntários são convidados a formar equipes para apoio ao combate a incêndios em todo o país e, para isso, recebem uma remuneração.”

Em 2017, as três equipes formadas em Resende (sete bombeiros em cada equipe) participaram de combate a incêndios em Mação (Concelho de Viana de Castelo), Sertã (Concelho da Guarda), Figueiró dos Vinhos (Concelho de Castelo Branco), entre outras regiões. A maior parte desses voluntários são jovens, em geral sem emprego.

Os bombeiros voluntários também são obrigados a frequentar cursos de formação ministrados pela Escola Nacional de Bombeiros, que variam entre três meses e um ano, conta Joaquim. “A nossa Associação tem as equipes de bombeiros mais bem formadas do Distrito de Viseu (formado por 15 concelhos).”

Quartel

No início, o quartel da BV Resende funcionou no edifício Centro da Vila, onde hoje existe um Centro de Formação da Câmara Municipal.

Na atual sede, a corporação encontra-se há 26 anos, período no qual foram feitas várias reformas, relata Joaquim Alves. A mais recente reforma ocorreu há quatro anos. O prédio foi requalificado (alterações, melhoramentos etc.) e ampliado (acréscimo de oficinas mecânicas e parque de viaturas).

Essas reformas, que custaram cerca de 400 mil euros, foram financiadas pelo fundo europeu através de uma candidatura apresentada ao quadro comunitário da Comissão Europeia.

Há 16 anos, o quartel possuía poucas viaturas (duas ambulâncias e dois carros de incêndio). Atualmente, são seis carros de incêndio, sete ambulâncias de emergência, dois carros de comando, um veículo de desencarceramento (resgate) e quatro carrinhas de transportes de doentes (para consultas). “Essas viaturas foram adquiridas pela Associação com a ajuda da Câmara Municipal, do Estado e de beneméritos”, diz Joaquim.

Além da Câmara Municipal, são parceiros da Associação a Autoridade Nacional (que coordena os bombeiros do país), as juntas de freguesias (bairros rurais) e os beneméritos (que se tornam “sócios beneméritos”).

Incêndios

Os incêndios tem aumentado a cada ano em Resende, de acordo com Joaquim Alves. “Temos em média de seis a sete incêndios diários no período crítico (verão). A área ardida tem aumentado de ano para ano.”

O presidente da Associação aponta como causas mais frequentes o abandono das florestas (principalmente eucalipto e pinheiro), o crescente número de ações criminosas – “Não tenho dúvidas de que 90% dos incêndios tem mão criminosa” -, o não-funcionamento da Justiça ao condenar estes criminosos e o descontrole em queimadas realizadas por agricultores e criadores de ovelhas e gado – “Eles queimam o mato para que nasça erva verde para o sustento dos animais”.

Mas Joaquim Alves alerta: O período de risco de incêndio tem aumentado de ano para ano devido às altas temperaturas. 

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