Vamos falar sobre isso?


Editorial

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Há determinados assuntos sobre os quais preferimos não falar. O medo, a timidez ou mesmo a ignorância às vezes nos fecham em nós mesmos. Uma decepção amorosa, a perda de uma pessoa muito querida, dificuldades financeiras são, entre tantas outras, situações que podem um dia, inesperadamente, afligir a cada um de nós. Não estamos livres de situações conflitantes que nos levam a perder o rumo da vida. É justamente nessas ocasiões que mais precisamos de ajuda, mas nem sempre estamos preparados para partilhar nossas angústias, seja com o melhor amigo, com familiares ou com um médico.

Uma reportagem desta edição do Jornal das Lajes aborda as campanhas Outubro Rosa e Setembro Amarelo, cuja finalidade é reforçar a importância da prevenção ao câncer de mama e ao suicídio, respectivamente. A repórter Vanuza Resende conversou com profissionais da saúde que atuam no NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) de Resende Costa sobre as ações que o município vem desenvolvendo não só durante dois meses do ano, mas a cada dia.

O Jogo Aberto desta edição é com o médico clínico geral Paulo Cezar Fortuna Dias, que no dia 17 de outubro último completou 39 anos de trabalho em Resende Costa. Na entrevista, doutor Paulo, como é conhecido por todos os resende-costenses, falou sobre as campanhas de prevenção ao suicídio, ao câncer de mama e de próstata. Um fato chama a atenção tanto na reportagem quanto na entrevista: o silêncio das pessoas em relação ao câncer e ao suicídio.

A experiência clínica de longos anos acompanhando e tratando pacientes com transtornos psicológicos possibilita ao doutor Paulo afirmar que um dos maiores problemas em relação ao suicídio é o fato de as pessoas se fecharem acerca do assunto. De acordo com o médico, muitas famílias que perderam algum ente vítima de suicídio tendem a ocultar o fato. Outro fator ainda mais grave é a negligência de muitas pessoas em relação a quem apresenta sinais que podem levar ao autoextermínio. “A gente tem que se atentar a isso, passar a falar sobre isso e quando tiver uma pessoa próxima que mudou o comportamento, devemos acompanhá-la a um tratamento psicológico ou até mesmo psiquiátrico”, orienta doutor Paulo. A psicóloga do NASF, Mara Sade, também chama a atenção para a necessidade de as pessoas falarem mais sobre o assunto: “O importante é saber que existe, sim, uma saída para essa dor e o primeiro passo é procurar ajuda e falar sobre isso. Não se isole, busque ajuda”.

O mesmo acontece com o câncer. Ainda é comum as pessoas se fecharem em relação ao problema. De acordo com doutor Paulo, no passado o tabu era ainda maior. O silêncio e o medo em relação à doença prejudicavam o diagnóstico, o que fazia aumentar o número de óbitos. “Antigamente, a doença ficava escondida, quando a pessoa procurava o médico muitas vezes já não tinha mais o que fazer. Muita gente morria sem saber o motivo”, diz o médico.

O silêncio e a ignorância podem matar. As campanhas Setembro Amarelo e Outubro Rosa, que já alcançaram repercussão mundial, pretendem, antes de tudo, quebrar tabus. E o principal deles é conscientizar as pessoas a se abrirem, falar sobre o assunto, se informarem e, não menos importante, se prevenirem.

Diferentemente do passado, hoje as informações estão ao alcance de qualquer pessoa. Basta um clique no teclado do computador ou alguns minutos de pesquisa no celular, já estamos diante de uma infinidade de informações que podem nos ajudar a tomar decisões, quebrar tabus e sair do deserto no qual se tornam as nossas vidas. Porém, em se tratando de saúde, nada substitui uma boa consulta ao médico.

O JL dá as mãos aos movimentos Setembro Amarelo, Outubro Rosa e Novembro Azul – este último destinado à reflexão sobre a prevenção ao câncer de próstata – e conclama aos leitores a quebrarem os tabus do medo e do silêncio.

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