Causos & Cousas

O Brasil não conhece o Brasil...

16 de Fevereiro de 2017, por Rosalvo Pinto 0

“Polícia mata e fez caçada”. Está no caderno “Gerais” do Estado de Minas do dia 3 passado, pg. 14. Uma quadrilha de 10 pretendeu explodir o Banco do Brasil no centro da cidade de Mata Verde (2.600 habitantes), no Norte de Minas. Desta vez os bandidos quebraram a cara, ou melhor, foram fuzilados pela polícia. Três escapuliram. Foram recebidos por 40 policiais. Agora as quadrilhas – com bandidos do Paraná, São Paulo e Minas – não querem apenas as caixas eletrônicas. Já sabem explodir os cofres internos. Cidade pacata, no interior de Minas, um absurdo.

(Estou hoje deixando de lado nossa Resende Costa, o sempre e querido Arraial da Laje dos “causos e cousas”. Volto-me para o Brasil. Sei lá se poderia dizer que é querido, mas... vamos lá.

Dois anos atrás foi a vez da cidade de Itamonte, agora no Sul, 14.200 habitantes. Foram 10 mortos, 9 bandidos e um professor da cidade. São tantos os problemas, as misérias, as doenças, as ladroagens (entre pessoas e no âmbito do próprio governo), a carnificina das rodovias, as sujeiras das cidade todas pichadas. Enfim, nem damos conta de enumerar e enxergar. Quem se lembrava da chacina de Itamonte? Por esses muitos anos, há muitas novidades (tristes, claro). Porém nada funciona neste país, até as praias. A Folha de São Paulo fez, no ano passado, um levantamento das praias do Brasil. Um desastre, acreditem se quiserem. Resultado: “3 em 10 praias brasileiras são impróprias para banho”, (Folha, 05/02/2017, caderno “Cotidiano”, pg. 1). E imaginem: é nas regiões metropolitanas que estão a maioria das piores praias. Nem precisa dizer qual a pior: aquela que se dizia ser o cartão de visitas do Brasil...

Esse é o retrato minúsculo e vergonhoso do Brasil, que não conhece o Brasil. Estou tomando o título e a frase do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), Jessé Souza. Estava iluminado quando proferiu essa sentença: “O Brasil não conhece o Brasil, só faz de conta que conhece, o que é muito pior”,

Como já não bastava, este ano começou com o problema dos presídios. Parece que foi programado. Um horror!. Pior para o Brasil, que se espalhou essa vergonhosa carnificina pelo mundo todo. Enquanto isso, a Holanda tinha 7 presídios e foram todos fechados. Um deles até virou hotel de luxo de 5 estrelas... Dizem, melhor, cantamos que o Brasil está eternamente em berço esplêndido. Parece piada. Outros dizem que o Brasil dá um passo adiante e dois atrás. É uma realidade. Enquanto estou escrevendo estou vendo um estado que, de repente, deixou de ser um estado bonito, tranquilo e laborioso. De repente, mais de 100 assassinados em seis dias, enquanto há uma depredação por todos os lados, ou melhor, uma guerra civil, a ponto de ser necessária a convocação do Exército Federal.

Como sair deste inferno, fome, miséria, ladrões de todos os tipos, falta de dinheiro para tudo (escolas, hospitais, infra-estrutura)? Sabemos que a raiz de tudo isso é a desigualdade social. Não adianta somente colocar a comida na boca do pobre, porque ele vai continuar pobre. A única solução é aquela que é decantada por todos os governantes, mas jamais cumprida, desde o dia no qual o Brasil tornou-se uma República. O pior é que se um governo decidisse resolver este problema, a sociedade brasileira só vai ver os resultados uns 20 ou 30 anos depois. A nossa geração já está perdida.

Já nos dizia o saudoso Darcy Ribeiro (que bem podíamos chamar de “O arauto da educação”): “Se os governantes não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. É o que já estamos vendo hoje.

Fico por aqui. Sempre fui professor, mas infelizmente sou daqueles que, tal como São João Batista, ando por aí pregando no deserto. Entretanto, se algum governante decidir abraçar para valer um projeto de educação, não se esqueça de antes promover uma ampla estruturação do nosso falido e vergonhoso sistema político.

A batina

15 de Dezembro de 2016, por Rosalvo Pinto 0

Na última edição do JL apresentamos a família Ramiro/Ninfa, nossos conterrâneos. Aproveitamos a oportunidade para explorar um pouco daquele ofício que constituiu o ganha-pão do Ramiro: o alfaiate. E como alfaiate, um trabalho muito especial: a famosa “batina”. Se ele foi um craque na alfaiataria em geral, na batina ele foi insuperável. Em São João del-Rei, para onde ele se mudou, talvez seria o maior.

Vamos conhecer uma historinha sobre a batina. Ela é conhecida também como “sotaina”, nome italiano e pouco usado. As batinas atuais são uma herança dos romanos os quais, posteriormente, passaram para os cristãos. Eram vestes “talares”, roupas que descem até o calcanhar. Atualmente ainda usam batinas, além dos sacerdotes católicos, os anglicanos, os ortodoxos e outros. Os católicos tendem a deixá-las, exceto os membros do Vaticano.

Na hierarquia da Igreja Católica usam batinas os clérigos: diáconos, padres, bispos, cardeais e, obviamente, o Papa. Interessante são as cores: o preto (a mais usada), o branco (obrigatório para o Papa) e a vermelha (bispos e cardeais).

A batina guarda algumas curiosidades que pouca gente conhece. Vejamos. Veste-se a batina por sobre a camisa e a calça comprida. Na frente há uma fileira de 33 botões, a partir do pescoço até a barra, no pé: representam os 33 anos da vida de Jesus Cristo. Nos dois punhos estão 5 botões cada, representando as suas 5 chagas. Ao pé do pescoço há um colarinho branco de plástico, que era chamado “voltinha”. Em algumas congregações usa-se uma faixa larga na altura da barriga, representando a castidade, pois antigamente acreditava-se que o desejo sexual estaria ligado aos rins e a faixa seria, então, uma proteção da castidade. Finalmente, a batina tem dois bolsos grandes, abertos e superpostos, ao lado do bolso da calça comprida: logo, o padre tem 4 bolsos grandes.

Bem, fazer uma batina é que era o difícil, não era para qualquer alfaiate. Em princípio, gasta-se muito pano e ele devia ser de casimira resistente. Tudo isso caro! Que eu saiba, houve em Resende Costa três deles: os irmãos Aquim do Lauro e Ramiro Resende e o Antônio Roman. Destaco os dois últimos, os quais fizeram batinas para mim, nos 10 anos em que eu “sofri” com elas durante o tempo no qual estive no seminário. O Antônio Roman está por aí, era caprichoso, se precisar ele ainda faz uma batina. Mas diante do Ramiro, tinha-se que tirar o chapéu. Era tão caprichoso que, ao fazer as muitas medidas, a gente saía com as pernas doendo. Ele tinha um arsenal de equipamentos de madeira e outras bugigangas (réguas, esquadros, fitas, alfinetes, gizes, agulhas diferentes) que a gente ficava parecendo um porco-espinho. Aí chegava o dia de fazer as provas. Mais sofrimento. Mas, valia a pena. Sobretudo para mim, de que ele não me cobrava!

Nas primeiras décadas do século passado, a batina era rigidamente obrigatória para os que queriam ser padres. Quem viu fotos do Caraça ou do Seminário de Mariana se espanta: meninos de 10 anos já tinham que usar a batina. Entre os salesianos e outras congregações religiosas os seminaristas recebiam a batina a partir dos 15 ou 16 anos. Naquele tempo, esperávamos ansiosos para receber a batina, numa cerimônia chamada
“vestidura”, celebrada com festa e padrinhos... Além da batina, os seminaristas recebiam ainda um chapéu meio quadrado chamado “barrete”, para as funções religiosas e outro, redondo, para sair nas ruas e nas viagens.

Com o advento do Concílio Vaticano II (1962/1965), promulgado pelo Papa João XXIII, muita coisa da Igreja mudou. Pode-se dizer que a batina foi, aos poucos, desaparecendo. Os salesianos sempre foram uma congregação religiosa mais conservadora. Imaginem que para a prática de esportes (futebol, basquete, vôlei, ginástica etc.) não se podia tirar a batina. Em 1968, os estudantes de Filosofia em São João del-Rei acharam um caminho para se livrar, de uma vez, da batina. Na calada da noite, um grupinho deles recolheram as batinas de todo mundo do dormitório em um banheiro antigo e trancado, com aviso e que estava fechado a tempos. Só muito tempo depois foram descobertas e... adeus batinas.

Ultimamente, depois do Concílio, apareceu o famoso clergyman: não é nada mais nada menos do que um colarinho do tipo da “voltinha”.

Ninfa e Ramiro, uma vida dedicada à família

17 de Novembro de 2016, por Rosalvo Pinto 0

(A coluna “causos & cousas” vai apresentar, a partir desta edição, alguns textos referentes a famílias resende-costenses que se migraram da cidade para outras cidades. Aguardem! O primeiro será apresentado pelos parentes do casal Ramiro/Ninfa).

João Bosco Fonseca Lara e Marília das Dores de Resende

Ninfa Lara Resende nasceu na Fazenda da Laje em 1914, filha de Antonino Pinto de Resende e Ana Josefa de Resende. Fez seus estudos iniciais em Santos, junto a seu tio, o Bispo Dom José Maria Parreira Lara, que à época era o titular da Diocese que tinha por sede essa cidade, sendo mais tarde transferido para a Diocese de Caratinga, onde faleceu, em 1936, durante uma viagem de cunho pastoral.    

É oportuno fazer um pequeno parêntesis para apresentar alguns traços pessoais desse ilustre filho da terra:

Dom Lara nasceu em Resende Costa, em 1885, sendo ordenado sacerdote em 1911, sagrado bispo em 1925; até 1934 foi o primeiro Bispo de Santos e depois, a pedido, por questões de saúde, foi transferido para Caratinga.

Em Santos, criou creches para cuidar dos filhos dos operários e empregadas domésticas, bem como internato para meninas até 18 anos e uma escola profissional. Mantinha ambulatório, farmácia e dispensário abertos aos doentes e idosos necessitados. Pela dedicação aos pobres era chamado o “Bispo da Caridade”.

Ninfa foi, posteriormente, aluna interna do Colégio Nossa Senhora das Dores, em São João del-Rei, pertencente às Irmãs de Caridade, discípulas de São Vicente de Paulo, onde cursou o Normal. Antigamente era assim que se chamava o atual Curso de Magistério de Ensino Médio. Não existia a Pedagogia como curso de nível superior. As Professoras formadas no “Nossa Senhora das Dores” ostentavam com muita convicção e devoção o título de Professoras e com ele, a Medalha Milagrosa, de Nossa Senhora das Graças, cunhada em prata.  Representa a Virgem Maria em sua aparição (1830) a Santa Catarina Labouré, na Rue du Bac, em Paris,  durante um período conturbado da história da França.

Enfim, Ninfa Lara foi nomeada para trabalhar em Resende Costa, no Grupo Escolar Assis Resende. Para os tempos de hoje, a viagem a partir de São João del-Rei era aventurosa. Algo que corresponderia a um ecoturismo, digamos, radical. Não havia nem carros super potentes, nem asfalto. Para se avaliar a dificuldade veja-se o que escreveu Dulce Mendes na Revista Comemorativa - 100 anos da cidade/2012. Em síntese, viagem de trem até César de Pina e depois era preciso montar a cavalo... (Não se pode deixar de mencionar o aparecimento, alguns anos depois, da Jardineira, um ônibus que sacolejava durante todo o trajeto de uma estrada empoeirada na seca e com tanta lama na estação das chuvas que era preciso reforçar os pneus com correntes de ferro para vencer as ladeiras sem derrapar. A gasolina tinha um cheiro insuportável e enjoativo! O bagageiro ficava em cima, sobre o teto. Descer as malas no meio da viagem constituía  operação complicada... )

Uma passagem interessante com respeito à chegada da Ninfa à antiga Vila da Laje: fazia parte do comitê de recepção da novel professora, o Ramiro, rapaz muito bonito e elegante, muito alto, com uma grande pinta bem do lado direito da testa. Foi amor à primeira troca de olhares. O casamento aconteceu como consequência natural!

O Ramiro tinha ido a Juiz de Fora procurar um mestre de ofício de alfaiataria, dando continuidade aos ensinamentos recebidos do João Pinto. Por lá se afeiçoou a uns livros de corte e costura em italiano e em espanhol. Tanto se esforçou e se aplicou a seu estudo que se tornou exímio na arte. Veio a ser também mestre na confecção de batina para seminaristas, padres e bispos. Até dom Helvécio, arcebispo de Mariana, figurava entre seus clientes. As batinas eram encomendadas por correspondência, para os que moravam longe e já tinham com ele as medidas. Confeccionava-as e as enviava por correio sem nem mesmo prová-las. E o reconhecimento vinha sempre no mesmo tom: “Caiu como luva”, ou seja, a batina estava perfeita, ao reverendo gosto do freguês!

Exerceu ainda, as funções de Delegado e foi um dos fundadores do PTB na Comarca. Em São João del-Rei, para onde se mudou em 1944, foi proprietário do Café Java, junto com seu tio Orosimbo, um artista e músico consumado, compositor afamado em Ouro Preto em seu tempo de estudante de Farmácia. Tio Orosimbo teve farmácia em Resende Costa. O Café Java era muito frequentado pelos políticos, inclusive o Tancredo Neves, ainda iniciante nos meandros da Política, exercendo as funções de Vereador.  Ninfa não conseguiu permuta com alguma outra professora para ocupar sua vaga em Resende Costa, Ramiro por sua vez, não estava bem de saúde, resolveram então retornar.

No exercício do magistério, ela era muito dedicada, apesar da filharada. Criou onze! Causa emoção quando algum deles se encontra com antigos alunos e alunas de sua mãe, pois todos são pródigos em elogios.  Simples, amável, disponível, discreta, guardava no silêncio e num meio sorriso, muita vida interior.

Em 1952, a família mudou-se de vez para São João del-Rei. Naquela época era muito difícil estudar. Poucas as cidades que tinham o privilégio de manterem ensino além do Primário, diferentemente dos tempos atuais. Urgia, pois, dar oportunidade aos filhos para progredir. Com efeito, constituía um grande legado, os pais darem estudo para os filhos.

Ninfa continuou seu trabalho de Professora, no Grupo Escolar Tomé Portes Del Rei, denominação dada em homenagem ao ilustre bandeirante fundador da cidade. Moravam no Centro, e a escola estava localizada em Matozinhos, um bairro afastado. O acesso era por trem e quando perdia o trem, tinha que ir a pé!...  A mobilidade urbana era verdadeiramente precária.  

Em São João Del Rei, os salesianos mantinham o Colégio São João, que, aliás, exerceu um papel fundamental para o desenvolvimento de toda a região, como educandário. Dele saíram filhos ilustres de muitas cidades vizinhas. Lá, estudaram internos, os irmãos mais velhos. Houve quem fosse para o não menos benemérito Colégio Santo Antônio, dos Frades Franciscanos, mais tarde transferido para Belo Horizonte, sob a mesma denominação. As meninas estudaram no Colégio Nossa Senhora das Dores e no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, das Irmãs Salesianas. Cumpre também mencionar a contribuição valiosa dessas duas escolas na formação e educação de várias gerações.    

Para seguirem curso de ensino superior, os mais velhos mudaram-se para Belo Horizonte. Não pensem as novas gerações que tudo era fácil como hoje, com ônibus direto para a Capital, em diversos horários e em estrada asfaltada com excelente manutenção efetuada por empresa concessionária... Um tapete! Ia-se de São João até Barbacena de trem de bitola estreita, à noite, e se esperava pelo trem de bitola larga que voltava do Rio de Janeiro em direção a Belo Horizonte. Lá, se chegava pela manhã, caso não houvesse atrasos ou queda de barreira, em época de chuva. Visita aos pais? Só no fim do ano por ocasião das festas natalinas...

Em 1967, para dar oportunidade aos filhos menores, a família sai de São João del- Rei e ruma para Belo Horizonte. O resultado de todo esse esforço e sacrifício são os frutos colhidos no sucesso e na formação profissional de todos eles.

Ninfa e Ramiro souberam trazer para a grande cidade, os valores preciosos de família e da cultura resende-costense, para transmiti-los aos filhos e como bênção de Deus, viram brotar, como vinha fecunda, os filhos de seus filhos, ao redor de sua mesa!  

“Recordações dos grupos culturais, escolares e esportivos da Resende Costa de antigamente

14 de Outubro de 2016, por Rosalvo Pinto 0

As aspas acima são do dono, o Mário Reis. Meses atrás, assim de supetão, ele me abordou com uma maçarocazinha de papéis A4. Antes de saber de que se tratava, eu já manjava que havia algo de interessante. Era uma lista interminável de nomes. O teor do título também começava clarear.

Uma feliz ideia. Uma longa lista de nomes de resende-costenses que já partiram para o além e deixaram saudades: “Recordações... de antigamente”. Mas, o mais interessante era que a lista foi elaborada conforme as atividades que as pessoas desempenharam em suas vidas.

Dizem que recordar é viver. Assim acontece com a maioria dos seres humanos. Mas nem sempre assim acontece. Quem vai querer se lembrar dos seis milhões de judeus que foram trucidados por Hitler? E os 1,1 milhões de Vietnameses, mais os 58 mil americanos? Mas vamos esquecer esse quadro de tristezas e voltar para as saudades da “Lista do Mário dos Reis”.

Por ora vamos ficar com oito grupos:

Decoradoras de altar: Dona Julieta do Iaiano – Dona Adélia Silva – Dona Conceição da Inacinha.

Professoras da Infância: Dona Nininha (diretora) – Dona Judite (professora e diretora) Dona Nair do Iaiano – Dona Nonó – Dona Marizica – Dona Olga Reis – Dona

Terezinha Lara – Dona Heloísa Lara – Dona Aparecida do Sr. Élcio – Dona Donana – Dona Rute do Lulu – Dona Ninfa do Sr. Ramiro – Dona Ivone de Assis de Sousa – Esposa do Francisquinho da Jardineira – Dona Olga Rios.

Funcionários da Escola Assis Resende: Geraldo Porteiro – Sá Donana do Zé Reis – Dona Dorfina Barros.

Cantoras do Coral: Dona Nair do Iaiano – Dona Olga Rios – Heloísa do Quinzinho – Dona Terezinha Lara – Dona Dalila (Turcos) – Filomena (Turcos) – Maria Praxedes – Elisa Daher – Dona Elzi Lara – Lurdes do Né – Aleluia Chaves – Maria da Penha Sousa (do Jair) – Lilia Lara.

Músicos da Banda Santa Cecília: Quinzinho Lara e sapateiro – Joãozinho Reis (irmão do autor pesquisador) – Cadico – Zé Iaiano (Panheiro) – Zé Aristeu – José Pedro Gancho – Antônio dos Passos – Juquita Alves (Gringo) – Tenentinho – João Tatá – Geraldo Guarda-louça – Zé Ramos – Vicente do Zé Brás – Neném do Bar – Daniel Pinto (Né) – Anésio Cueca – Orcino Beijo – Zé Bitu – Mussum da Milota - Dedé da Milota – Geraldo Caruncho – Armando Mangalarga – José Peluzi (Piluço) – Geraldo Coringa – Zino da Mulata.

Maestros da Banda: João Reis (dos óculos) – Quinzinho Lara – Antônio – Mariafra (Lagoa Dourada) – Geraldo Chaves – Adilson Alves.

Tropeiros: Ninico da Carioca – José Merence - Otacílio do Beira-Muro – Jesus do Coco – Antônio Tié – José Pilicarpo – Miguel da Ana da Fuita – João da Glória - Alfredo da Glória – João Vieira, pai do Dico – Ligório do Viegas – Geraldo  Emílio – Antônio Emílio – Zé Juca – família do Lauro do Iote.

Coveiros: Sr. Isidoro – João da Bateia – Alípio Filho do Isidoro – José dos Santos – Bioco – Geraldo Margoso – João Luminato – Nestor Amaro – Tute do Ribeirão - Geraldo de Paula Reis – Zé da Restinga.

É bom lembrar de que a grande maioria desses resende-costenses terá vivido nas décadas de 20 até a década de 90, ou pouco mais. Por ora ficamos por aqui. Louva-se o interesse e perspicácia do nosso pesquisador.

“Assim conheci o Coral Júlia Pardini”

16 de Setembro de 2016, por Rosalvo Pinto 0

Entre os muitos corais existentes em Belo Horizonte, existe um dos mais antigos e conhecidos, o “Júlia Pardini”. Além de suas atividades musicais, o coral edita um jornal mensal dedicado especialmente à divulgação de suas atividades e, mais interessante, à ligação com corais do Brasil e do exterior. Chama-se “ARRUIA”. À frente deste coral e deste jornal, desde 53 anos, batalha a Maestrina Elza do Val Gomes.

“Tia Elza” – assim é conhecida pelo seu carinhoso nome – é a defensora irredutível da importância do cultivo da música coral, como elemento de desenvolvimento da educação e da cultura na vida das sociedades humanas. Como editora do Arruia é difícil Tia Elza deixar de nele defender suas ideias. Ela lastima sempre a retirada, nas décadas de 1940/50, do currículo que obrigava o estudo da música nas escolas brasileiras. Ela tem saudades do grande arauto dessa ideia, o inesquecível músico, compositor e professor Heitor Villa-Lobos. Eu ainda me lembro da obrigatoriedade do ensino no antigo curso ginasial.

Na edição do Arruia de Julho passado, tive a honra de ser lembrado por Tia Elza quando, em resposta a um artigo que lhe havia enviado. Queria lembrar-me de como havia encontrado o Júlia Pardini na minha vida.

Mas antes, uma historinha. Cheguei no “aspirantado” (seminário) dos salesianos em Janeiro de 1953. Tinha apenas 11 anos. Nos muitos anos de seminário estive sempre ligado à música e o ensino dela era obrigatório. Tempos depois trabalhei com corais (São João del-Rei, Jaciguá (ES) e Santa Bárbara). Quando deixei a congregação salesiana, fui parar em Governador Valadares e logo tratei de me preparar tecnicamente para criar o coral da incipiente universidade daquela cidade.

Em 1972 fui para Ouro Preto, participar do famoso Festival da UFMG (o 6º) inscrito para o curso de regência coral, coordenado pelo inesquecível maestro Carlos Alberto Pinto da Fonseca, com o objetivo de criar um coral na Universidade de Valadares. O curso (de um mês) foi tão bom que, ao seu fim, os alunos “imploraram” à UFMG para dar um segundo curso, em fevereiro, no Conservatório.

E aqui entra na história a minha ligação com o Júlia Pardini. Ao final do curso, todos os participantes tiveram que escolher uma peça para dirigir um coral. Para isso, o maestro Carlos Alberto conseguiu vários corais de BH e a mim coube o Júlia Pardini e a peça a ser regida foi a “Ave Maria” de Tomas Luis de Victoria. Em fins de 1972, levamos o “Ars Nova” (coral da UFMG), do maestro Carlos Alberto e Valadares viu pela primeira vez um coral de alto nível. No processo de implantação da universidade, criamos um Centro de Cultura (Ceart), do qual fui o primeiro diretor.

E tivemos o privilégio de conhecer e receber o Júlia Pardini. Foi uma beleza. Lembro-me de um jovem soprano solista, linda voz. Criei o Coral da Universidade e, após o primeiro recital, fui chamado para trabalhar em Brasília. Continuei acompanhando o Júlia Pardini desde aquela época e desde então não perdi mais o Arruia, a grande ideia da Tia Elza.

Sou muito grato a Tia Elza e me sinto honrado pelos convites que recebi de viajar com o coral, duas vezes na Europa e uma no Chile. (Cito apenas esses dos quais participei, mas o coral já havia participado em outros, na Europa e na América Latina).

Não há nada mais gostoso do que viajar com um coral, aqui no Brasil e sobretudo no exterior, em contato com tantos corais maravilhosos.

Escrevendo este texto no meu escritório, levanto com saudades a cabeça e vejo dois bonitos cartazes: o do II Festival Internacional de Coros Mario Baeza, do Chile, na bela cidade de La Serena e do Corearte 2010, IV Festival Internacional de Coros, em Barcelona, seguido da acolhedora e bela Grenoble, França. Ficando por aqui, não me esqueço da agradável presença do Júlia Pardini em minha terra, Resende Costa, quando o coral se apresentou à noite no salão paroquial e, na Missa da manhã, na matriz de Nossa Senhora da Penha.

Dedicado sempre aos seus corais por muito tempo (53 anos), manteve três corais: o infantil, o juvenil e o adulto. Acredito que o Júlia Pardini está entre os mais antigos e permanentes do Brasil. Parabéns, Tia Elza!