A palavra presépio, na língua portuguesa, designa o local onde se recolhe o gado, curral e estábulo. Na tradição do Natal, presépio é a representação da estrebaria de Belém e das figuras que, segundo o Evangelho, participaram do nascimento de Jesus e das cenas que a ele se seguiram. Segundo consta, essa reconstituição simbólica se deve a São Francisco de Assis, que, em 1223, teria sido responsável pela montagem do primeiro presépio do mundo usando representativas peças de argila. Desde então, esse ritual vem se repetindo através dos anos como preparação de grande parte da humanidade para a celebração natalina. Montados no aconchego das casas, no silêncio reverente das igrejas ou na amplidão dos espaços públicos, os presépios se destacam entre os símbolos dessa data pelo fascínio que exercem nas pessoas em razão da boniteza de tão inspirador cenário e da lembrança de outros tempos evocada por eles.
Particularmente, carrego comigo imagens familiares de muitos presépios montados em casa. Tudo começava com as folhas de papel preparadas com grude para servir de gruta. Sobre elas eram jogados o carvão (ou a borra de café) e a malacacheta moídos, fazendo faiscarem as supostas pedras que, depois da secagem dessa mistura, iam sendo modeladas de modo a compor a base daquele trabalho artesanal. Com os protagonistas, coadjuvantes e figurantes colocados em cena, havia espaço até para uma banda de música e um laguinho feito de espelho sobre o qual se postavam alguns patinhos. Naqueles momentos, história e imaginação eram uma só coisa.
Também guardado na memória, o presépio montado no centro da Praça Dr. Costa Pinto era puro encantamento para os apreciadores daquela bonita forma de caracterização do Natal. Evidentemente proporcionais às dimensões do local, as peças chamavam a atenção pelo tamanho, destacando-se as da Sagrada Família (Jesus, Maria e José), belo conjunto cênico instalado no coração da cidade, quando Resende Costa respirava ares bem mais inocentes.
2 - A caminho da utopia
“Aqui na esquina acaba de morrer um humanista (Mello Cançado, professor de generosidade). Na televisão e nos jornais o mestre Alceu dá um banho de vida e lucidez. Meu pai, menino de 70 anos, me dá lições diárias de sabedoria e esperança. E o que dizer do Drummond? Estão velhos ou mortos os homens que acreditam nos homens? Os justos estarão no fim? Não e não. Assim como a injustiça, a violência e o ódio se espalham e deixam seu rastro de miséria por onde passam, a semente de amor, dignidade e justiça que recebemos frutifica e também estende seus braços. Está plantada no coração dos jovens. Esteve e está em todos os nossos discos. Como sempre, continuamos a repetir palavras essenciais: justiça, crença, esperança, alegria. Brasil (povo e país, nação que faremos). Debaixo de nosso abençoado sol tropical, junto com nossos maiores e nossa juventude (mãos dadas com nossa infância) apostamos tudo na utopia”.
Texto extraído do encarte que acompanha o LP Caçador de mim (1981), de Milton Nascimento. Escrito há 34 anos, na essência, ele continua atual. As pessoas nele citadas são o professor mineiro Antônio Augusto Mello Cançado; Alceu Amoroso Lima, crítico literário, professor, pensador e escritor carioca; o desembargador mineiro Dr. Moacyr Brant; e o poeta Carlos Drummond de Andrade, os três últimos também falecidos. Homenagem ao cronista e compositor Fernando Brant (1946-2015), autor dessas e outras belas palavras:
Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre. (Maria, Maria)
Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração. (Canção da América)
Há um menino, há um moleque, morando sempre no meu coração. (Bola de meia, bola de gude)
P.S.: De um outro Fernando, o Pessoa (1888 - 1935), fui buscar as palavras para lembrar a Sônia e a Aleluia e dedicar a elas (in memoriam) este último Contemplando as palavras de 2015:
A morte é a curva da estrada. Morrer é só não ser mais visto.