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100 anos

14 de Abril de 2021, por Regina Coelho

Sr. Adenor de Assis Coelho (foto arquivo familiar)

Muita gente em nossa cidade há de se lembrar, especialmente os mais antigos, do Tonico Chalé (1878 – 1959) ou conhecer variadas histórias envolvendo sua exclusivíssima personalidade. Segundo o primo Alair (Côelho de Resende), em livro sobre os casos e causos do tio Totonho (seu pai), nosso avô era um “homem de poucas letras, porém possuidor de uma inteligência fulgurante que o transformou em um comerciante dos mais hábeis. Era extremamente franco, e suas respostas, seu modo de ser e proceder diante de quaisquer situações e pessoas fizeram dele uma das mais populares e respeitadas pessoas de Resende Costa”.

Tirado do vasto repertório de casos em que o estilo Tonico Chalé se fez presente, o Celso Reis, outro primo querido, revive um episódio engraçado que ele próprio presenciou e assim narrou:

“Houve uma briga dentro lá da sinuca (do botequim) entre o Dedete do Barbosinha e o Zé do ‘Olício’ (na verdade, Zé do Ulisses de Melo, seleiro). Eles estavam jogando a valer e de repente eles se desentenderam. E passaram a mão nos tacos para brigar. O vovô saiu lá de dentro e passou a mão em duas trancas daquelas (provavelmente enormes). E falou:

– Larga os meus taco aí! Toma! Uma tranca pra um, a outra pro outro. Vai lá pra rua e pode brigar lá, aqui não!

E botou os dois pra fora”, concluiu, rindo, o Celso.

Nascidos do casal Cotinha e Tonico Chalé, 10 dos seus filhos chegaram à idade adulta, tendo vindo ao mundo na seguinte ordem cronológica e recebido nomes iniciados em A: Aurélio, Aristóteles, Abigail, Acrízia, Adhemar, Alzira, Aracy, Adenor, Argemiro e Arlindo. Entre eles, nessa turma, encontra-se meu pai, Adenor. Por seu casamento com minha mãe nasceu sua própria família, também numerosa, a exemplo daquela da qual se originou a nossa, ambas com endereço, em tempos e pontos distintos, é certo, na Rua Gonçalves Pinto, cenário principal de grande parte dos acontecimentos vividos pelo nosso imenso clã.

Comerciante como o pai, Papai foi formando com Mamãe e com os filhos o nosso time de 11. Inesquecíveis anos de uma época sem igual. Ver os pais ora no comando, na responsabilidade do lar, ora na retaguarda, no amparo aos filhos em posturas voltadas à vida deles é o melhor dos mundos.

Mudam os tempos. Não, os pais. Particularmente em relação ao seu “Adenor”, vêm-me agora algumas singelas lembranças. Uma delas de quando íamos juntos, ele dirigindo, para o Papagaio (nosso sítio). Antes, ele parava próximo a um supermercado. E me pedia que entrasse lá e comprasse o nosso lanche. Bastava isso para o então motorista se sentar no meu anterior lugar (ao lado dele) e deixar a direção do carro para mim. Era esse o seu jeito de me incentivar a dirigir, coisa que ele queria muito mais do que eu mesma.

Um outro momento me leva a dezembro de 2001. Papai estava internado no Hospital das Mercês, em São João del-Rei, porque havia sofrido um segundo AVC, mas estava bem. A gente se revezava ao lhe fazer companhia. Certa tarde, saí de Resende Costa para cumprir meu horário com ele e por lá passar a noite. Como era período de muito aperto na escola, levei uma pasta cheia de provas à espera da devida correção. Instalei-me com elas num canto do apartamento. Um olho no paciente, o outro nas provas. Foi aí que a Dr.ª Maurília (cardiologista) entrou e, sem que ela lhe perguntasse nada sobre mim, ele foi logo lhe dizendo:

“– Essa aí é minha filha, doutora. É professora de português, e das boas!”, revelando todo o orgulho que os pais normalmente têm dos filhos.

O mesmo orgulho estendido em relação aos netos e levado, certa época, no bolso das camisas que usava, onde guardava cópia do recorte de um jornal (Diário Oficial do Estado) a ser mostrado aos mais próximos. Ali se comprovava a aprovação do Crístian no concurso para o Cartório do 1º Ofício de Notas de Resende Costa.

Esses breves e esparsos fragmentos de revelações familiares se propõem a ser uma homenagem a meu pai, Adenor de Assis Coelho, cujo centenário de nascimento tem registro precisamente neste 24 de abril de 2021.

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