Em meados de 1946 chegava a Resende Costa um casal oriundo de povoados distintos da cidade de Bom Sucesso (MG). Ele nasceu no Bananal e ela, na Boa Vista. Sô Nanias, assim carinhosamente chamado, era um jovem policial e veio transferido de Barbacena. Em sua companhia e de sua também jovem esposa, dona Antônia, vieram os três filhos, os primeiros, aos quais foram se juntando os que aqui nasceram. Nas malas acanhadas, os inúmeros sonhos, a esperança de uma vida nova e uma bagagem que continha o estritamente necessário para a sobrevivência imediata.
Bem acolhidos pelos resende-costenses, em pouco tempo já se sentiam em casa. E sô Nanias foi ganhando o carinho e o respeito das pessoas por sua conduta profissional irrepreensível, sempre zeloso no cumprimento de sua missão e, acima de tudo, por ser uma pessoa do bem. Com o passar dos anos, os filhos crescendo, dona Antônia e o marido foram se tornando cada vez mais apegados a Resende Costa, conquistando afilhados, comadres e compadres e inúmeros amigos. De soldado, ele passou a cabo, a sargento e chegou ao comando do Destacamento Policial da cidade, uma honra que carregava com naturalidade. E usava essa prerrogativa de forma conciliadora, sem deixar de impor sua autoridade quando preciso, mas tudo de forma comedida.
Fazendo o mesmo caminho, 24 anos depois, Inácia e Oscar, procedentes de Emboabas, distrito de São João del-Rei, escolheram viver em nossa terra. Então jovens recém-casados, aqui chegaram em 2 de novembro de 1970, onde ele, ainda solteiro, já trabalhava como motorista de ônibus da Empresa Nossa Senhora do Pilar. Naquela época, chegou a morar num quarto da agência de passagens da empresa nos Quatro Cantos, depois, por curto tempo, na Pensão do “Buquerão” e mais tarde, na pensão da Elzi Lara. Estando entre nós e indicada pelo Padre Nélson, Inácia começou a lecionar no antigo Colégio Nossa Senhora da Penha, com aulas de OSPB (Organização Social e Política Brasileira), Geografia e Ensino Religioso, entre outras disciplinas. E teve ainda uma passagem como secretária da Câmara Municipal local.
Sentindo-se também muito bem acolhidos por todos daqui, fazendo amigos e formando a família, os dois passaram, sim, por dificuldades e atuaram em outras frentes. Oscar foi ainda dono de um bar na Rua Gonçalves Pinto e trabalhou com linha de leite. Buscava esse produto (leite) na zona rural e levava-o para uma cooperativa (o antigo Bezerrão) em São João. Enquanto isso, ela se formou em Pedagogia (Orientação Educacional) pela Faculdade Dom Bosco (atual UFSJ) e fez carreira no Magistério por longos anos na Escola Conjurados e ainda na E.E. Assis Resende. Foi Secretária Municipal de Educação (1997-2000), Presidente e Diretora da APAE, nessa associação com a prestação de serviço totalmente voluntário.
Acolhidos – essa é a palavra que, coincidentemente, minhas amigas Moreira (filha do sô Nanias e da dona Antônia) e Inácia usaram para destacar a forma como esses dois casais foram se incorporando à vida e aos costumes de uma outra comunidade. E mais, nessas paragens estabeleceram suas bases, fincaram raízes e constituíram cada qual uma bonita e grande descendência de cidadãos, em grande parte formada pelos nascidos na “Laje”, os lagartixas, com muito prazer.
“Meus pais (falecidos) sempre honraram com orgulho o povo e a cidade de Resende Costa, que, como uma Pátria-Mãe, tão bem os receberam”, afirma minha comadre Moreira.
“Resende Costa para nós é um cantinho do céu. Somos felizes aqui e agradecemos a todos que nos deram a oportunidade de viver e construir nossa família nesse Mirante maravilhoso”, testemunham Inácia e Oscar, parabenizando o município pelos seus 110 anos de emancipação política completados neste 2 de junho.
Deixar a terra natal não é abandono, pode ser o destino, o bom destino, um sentir-se em casa também em outro lugar. Para os nossos retratados – Joaquim Ananias dos Santos e Antônia Maria da Conceição, Inácia Maria de Resende Moreira e José Oscar Moreira –, uma existência venturosa em terras de Resende Costa.