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A mentira

08 de Maio de 2011, por Regina Coelho

Segundo a Wikipédia, há muitas explicações para o 1º de abril ter se transformado no “dia das mentiras” ou “dia dos bobos”. Uma delas diz que a brincadeira em que se transformou essa data surgiu na França. Desde o começo do século 16, o Ano Novo era festejado no dia 25 de março, data que marcava a chegada da primavera na Europa. As festas duravam uma semana e terminavam em 1º de abril.

Em 1564, porém, depois da adoção do calendário gregoriano, o rei Carlos IX determinou que o Ano Novo seria comemorado em 1º de janeiro. Alguns franceses resistiram à mudança e continuaram a seguir o calendário antigo. Gozadores passaram então a ridicularizá-los, a enviar presentes esquisitos para os resistentes ou convidá-los para festas que não existiam.

No Brasil, o 1º de abril começou a ser difundido com a circulação do periódico “A Mentira”, que teve vida efêmera e foi lançado em 1º de abril de 1848, com a notícia do falecimento de Dom Pedro, desmentida no dia seguinte. O jornal saiu pela última vez em 14 de setembro de 1849, convocando todos os credores para um acerto de contas no dia... 1º de abril de 1850, dando como referência um local inexistente.

Assim, de brincadeira em brincadeira, a tradição de pregar peças ou, nos termos de hoje, preparar pegadinhas aos mais distraídos, a data do dia da mentira se mantém ao longo dos anos. Entre tantas famosas, merece destaque uma em especial. O canal de televisão BBC apresentou em 1957 em seu programa “Panorama” uma reportagem falsa sobre árvores de espaguete. Acreditem ou não, mas consta que muitas pessoas interessaram-se em plantar esse tipo de árvore em suas propriedades.

E tome história mentirosa, quando o assunto envolve aqueles conhecidíssimos casos de pescadores. Dizem, por exemplo, que jamais se deve perguntar o tamanho e o peso de um peixe a quem o pescou, pois corre-se o risco de ouvir um relato mentiroso e muito divertido. Essas pessoas, viajantes por natureza, são famosas por produzir histórias incríveis, isso porque as pescarias geram fatos inesperados e inusitados que costumam alimentar a imaginação do narrador.

Na ficção literária, a questão da mentira é personificada através de Pinóquio, personagem criada pelo italiano Carlo Collodi em 1883 no romance “As aventuras de Pinóquio” e mais tarde levada às telas do cinema por Walt Disney. A história do boneco de madeira é exemplar. À medida que amadurece, ele vê o próprio nariz crescer com as mentiras e as orelhas tomarem o formato das de um burro depois que bebe e fuma, agora já chegando à adolescência. Mais didático que isso, impossível.

Na política, a mentira é uma prática comum. Há quem diga que os políticos mentem porque não conseguiriam ser eleitos dizendo somente a verdade, mostrando-se como são realmente. Alçados ao poder, quebram promessas, desculpam-se com novas mentiras e são até reeleitos. Há exceções, é claro, mas poucas.

Em se tratando de tema tão vasto como o tratado na presente coluna, inúmeras considerações não caberiam aqui agora. Apenas com o propósito de espairecer o espírito, fui buscar uma relação de frases tidas como mentirosas, e em algum momento, na ponta da língua de muita gente. Confiram: Pode deixar que eu te ligo. Quinta-feira sem falta o seu carro vai estar pronto. Pague a minha parte, que depois eu acerto com você. Eu só bebo socialmente. Estou te vendendo isso a preço de custo. Você está cada vez mais jovem. Estou sem troco, leve um chiclete. Não vou contar pra ninguém.

E há ainda aquelas frases bem típicas relacionadas a:

advogado: esse processo é rápido.
ambulante: qualquer coisa, volta aqui que a gente troca.
anfitrião: já vai? Ainda é cedo!
aniversariante: presente? Sua presença é o mais importante.
bêbado: sei perfeitamente o que estou dizendo.
corretor de imóveis: em seis meses, colocarão água, luz e telefone.
dentista: não vai doer nada.
desiludida: não quero mais saber de homem.
devedor: amanhã, sem falta!
encanador: é muita pressão que vem da rua.
gerente de banco: trabalhamos com as taxas mais baixas do mercado.
inimigo do morto: era um bom sujeito.
mecânico: é o carburador (ou a correia dentada).
muambeiro: tem garantia de fábrica.
orador: apenas duas palavras.
otimista: os últimos serão os primeiros.
peixeiro: pode levar freguesa, está fresquinho.
político: eu sempre trabalhei pelos pobres.
vagabundo: há três anos que procuro trabalho, mas não acho nada.
vendedor de sapato: depois alarga no pé.

Finalizando, é preciso dizer o que os especialistas do comportamento humano afirmariam ser uma verdade: é difícil admitir, mas todo mundo mente, alguns compulsivamente, outros eventualmente, por necessidades variadas, muitos por puro descaramento. Estou mentindo?

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