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A voz do rádio no Brasil

16 de Outubro de 2012, por Regina Coelho

Pesquisas recentes revelam que o rádio está presente em 52,1 milhões de domicílios brasileiros. Isso representa 171,9 milhões de ouvintes domiciliares e 91,3% dos lares de todo o Brasil equipados com o praticamente indispensável aparelho que propaga informações sonoras por meio de ondas eletromagnéticas. Embora hoje tenha sido suplantado pela televisão aberta, que é vista por 178,8 milhões de pessoas abrigadas em 54,2 milhões de domicílios, num total de 95,1% deles, o rádio segue firme como o companheiro diário de muita gente. E tem mais. Segundo estimativas, cerca de 80% dos automóveis, caminhões, camionetes e furgões possuem rádio AM/FM. Os números aqui mencionados são impressionantes pelo que representam num país de proporções continentais como é o Brasil, que celebra no corrente ano seus 90 anos de rádio.

Numa volta ao tempo, o 7 de setembro de 1922 ficou registrado como o dia em que foi realizada a primeira transmissão radiofônica oficial no país como parte das comemorações do Centenário da Independência. Na ocasião, o discurso do presidente da república Epitácio Pessoa foi transmitido para receptores instalados em Niterói, Petrópolis e São Paulo, através de uma antena instalada no Corcovado, Rio de Janeiro, então capital da república. Na verdade, precisamente 80 aparelhos de rádio captaram a programação daquele dia histórico. Naquele mesmo dia, além da abertura da Exposição dos 100 anos de Brasil independente, à noite, a ópera “O Guarani” (de Carlos Gomes) foi transmitida do Teatro Municipal para alto-falantes instalados no local da exposição, assombrando o público lá presente. Era o começo da primeira estação de rádio do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro. Fundada por Edgar Roquete Pinto, a emissora foi doada ao governo federal em 1936, que a transformou na Rádio MEC.

O mesmo assombro diante daquela “caixa que falava” pôde ser observado aqui em Resende Costa anos depois. De acordo com meu primo Alair, um estudioso entusiasmado da história da cidade, os três primeiros rádios resende-costenses tiveram como proprietários o Abraão Hannas, o Alcides Lara (meu avô materno) e o Ozório Chaves. Tratava-se de um modelo chamado rádio-capela, de um metro de altura e um de largura, um móvel da casa, praticamente. Nos lares onde eles foram instalados, o povo fazia fila para conhecer aquela novidade. E havia o Pedro Maia, fazendeiro do Curralinho dos Paula, que, maravilhado com o aparelho e cético ao mesmo tempo, achava que tinha alguém dentro dele. Ressalte-se que, inicialmente, o preço de um aparelho e a demora na implantação de retransmissoras foram impedimento para que muitas famílias adquirissem um rádio.

Na trajetória histórica desse hoje poderoso meio de comunicação de massas (considerado agora como emissora), merece destaque a instituição, em 1935, do programa oficial do governo de Getúlio Vargas, “A Voz do Brasil”, transmitido até hoje em todo o país. Marcando época no rádio (e mais tarde na tevê), surgiu em 1941 o “Repórter Esso”, o primeiro radiojornal brasileiro. Sucesso total também tiveram os programas de auditório e seus ídolos da década de 40, a época de ouro, quando o rádio se tornou um veículo popular. Nesse cenário, as radionovelas foram um capítulo à parte, com adaptações de tramas internacionais, muitas vezes, como “O direito de nascer”, do cubano Félix Caignet, que ficou três anos no ar e chegou a ser chamada popularmente de “O direito de encher”. E bem antes de a televisão chegar ao país, o que ocorreu em 1950, o rádio já fazia suas transmissões esportivas levando o torcedor ao delírio com narrações antológicas, como as que marcaram os dois primeiros títulos mundiais para o Brasil, em 1958 (na Suécia) e 1962 (no Chile). Levar o torcedor a “ver” a partida pelo rádio é a mágica que os mestres da locução esportiva conseguem fazer.

É oportuno considerar que, apesar de ter sofrido um certo declínio em virtude do advento da televisão, o rádio no Brasil soube se adaptar aos novos tempos. E se nos seus primórdios as próprias características físicas do aparelho receptor faziam com que ele se mantivesse como um objeto de escuta coletiva em torno do qual a família se reunia, hoje ele pode ser levado facilmente a qualquer parte, até mesmo carregado no bolso do usuário. E se agora, em razão das muitas atribulações desta vida agitada, as pessoas já não se juntam mais para ouvir o rádio e conversar sobre as notícias do dia, elas o têm como a companhia fiel, seja para o trabalho, para o lazer ou para a solidão de certos momentos, especialmente o das madrugadas com seus insones ouvintes ou quase inevitáveis temores. E pensar que muitos decretaram o fim do rádio com a entrada da televisão no país, tornando-se também ela acessível à maioria dos brasileiros. Diferenças à parte ou por isso mesmo, o fato é que um não exclui a outra. Ainda bem!

Dando voz ao ouvinte, a presente matéria continua na edição de novembro próximo. Até lá!

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