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Além das notícias

14 de Maio de 2015, por Regina Coelho

Para início de conversa, podem ser consideradas no mínimo interessantes as notícias abaixo. Conferindo:

 

Amigo ladrão,

Dia 06/03 às 21h, próx. este local você arrombou a porta do meu carro e robou (sic) minha mochila c/ notebook da Samsung e pen drives. Te recompenso se me devolver tudo, pois é de trabalho.

Fique tranquilo, não vou chamar a polícia.

 

Depois de ser furtado na última sexta-feira, o gerente de projetos Marco Barcelos, de 36 anos, decidiu apelar para o lado emocional para reaver os seus pertences e “chegar a um acordo com o ladrão”. Próximo ao prédio onde mora, em Contagem, na RMBH (Região Metropolitana de Belo Horizonte), o mineiro pendurou uma faixa (texto transcrito acima), na qual chama a pessoa que roubou dele de “amigo”, pedindo-lhe que lhe desse de volta seu computador, que estava dentro do carro dele, arrombado durante a noite.   Jornal Extra – 12/3/2015.

Motorista derruba moto e deixa aviso: “Sou nova na baliza, pode me ligar”

Olá,

Sem querer derrubei sua moto (sou nova na baliza). Qualquer coisa pode ligar ou mandar um WhatsApp. Número: ........ ”

Uma moradora de Santos (SP) usou uma rede social para relatar uma história curiosa. A internauta, que prefere manter sua identidade em sigilo, deixou sua moto estacionada em uma avenida do município por alguns minutos e, quando voltou, encontrou o veículo danificado, junto a um bilhete (transcrito acima). Nele, uma pessoa assumia ser responsável pelo acidente, deixando o número do celular para contato e reafirmando que reembolsaria o valor gasto no conserto. Ainda de acordo com o bilhete, a motorista dizia ser “nova na baliza”.

A dona da motocicleta conta que ligou para o número deixado, e o pai da condutora pediu para que ela (a vítima) lhe enviasse o valor gasto com o conserto. Após a internauta fazer três orçamentos em oficinas mecânicas diferentes, ele depositou o dinheiro na conta bancária dela, no mesmo dia.

Agradecida com a atitude dos dois, a dona da moto, que prefere não revelar sua identidade e a dos demais envolvidos, utilizou uma espécie de página do Facebook para publicar a foto do bilhete e sua história. “Esse é um fato que demonstra que o ser humano ainda tem dignidade e respeito pelo próximo. Fico muito agradecida pela honestidade da moça e de seu pai”, concluiu ela. 

g1.globo.com – texto adaptado 14/3/2015.

 

Confrontados os episódios (recentes) aqui narrados, o que se observa vai muito além do mero interesse que ambos podem suscitar, dado seu caráter até certo ponto inusitado. No primeiro caso, a tentativa do desesperado Barcelos de negociar com o “amigo ladrão” a devolução de sua mochila soa quase como uma concessão dele ao que lhe fizeram. Com promessa de recompensa ao gatuno caso venha a ter o que é seu de volta, o rapaz ainda tenta tranquilizá-lo, prometendo não chamar a polícia. No texto da faixa, o grau de indignação do autor é zero. Não sei dizer se sua história teve um final feliz. É bem provável que não. Diante disso, o que dizer mais? Sinal dos tempos? Talvez. Por outro lado, considerando o segundo caso, as palavras da dona da moto são o testemunho de peso de quem pôde comprovar na prática que nem tudo está perdido. E que as pessoas podem ser simplesmente corretas umas com as outras.

O caso da moça “nova na baliza” me fez lembrar um episódio semelhante contado e vivido por minha amiga Dora Silva. Há mais ou menos três anos, estando em São João del-Rei e tendo deixado seu carro estacionado em certo ponto da cidade, ao voltar para buscá-lo, segundo suas próprias palavras, ela se surpreendeu com a presença de um rapaz que esperava por sua chegada. Dizendo ter batido no carro dela, ele a levou até a Fibra para que fossem feitos a avaliação do dano e o orçamento do reparo. Depois de passar para Dora o dinheiro correspondente ao serviço que seria efetuado pela firma, ele ainda deixou com ela seu cartão pessoal caso houvesse algum problema posterior. Mais um final feliz. 

Nos dias de hoje, com a sucessão de tantos casos escabrosos registrados por aí, mesmo aqueles tidos como menos graves como os de arrombamento (notícia 1), o comportamento ético das pessoas pode parecer a exceção à regra, mas isso não é verdade. Sem chamar a atenção, o bem acontece. Ainda bem.

 

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