os muitos milhões de indivíduos que vivenciam a condição de turistas, assim viajando internamente pelo seu país ou indo para mais longe e conhecendo o mundo, apresentam algumas características comuns que os distinguem no meio de todos. Ainda que guardadas as devidas diferenças culturais presentes em cada região e com base em mim mesma e nas observações que faço em minhas viagens de turismo, chego a dizer que somos muito parecidos.
Para começo de conversa, vale destacar o visual da pessoa. Já em plena atividade turística, ela se denuncia pelos vistosos e caprichados trajes e pelos apetrechos que carrega. Sobre esses últimos, não pode faltar o onipresente celular, praticamente um substituto das nossas outrora indispensáveis máquinas fotográficas. Nesse kit vão ainda a garrafinha com água e o protetor solar. Agora, junto aos mais precavidos, o álcool em gel. Os calçados, em sua maioria, são confortáveis. Para essas ocasiões, o tênis é a opção mundial para homens e mulheres. Salto alto, melhor não, pois turista que é turista de verdade anda muito, a pé mesmo, passando por caminhos íngremes e inimagináveis, subindo degraus a perder de vista só para ter das alturas uma vista espetacular. Compondo o look, os óculos de sol são imbatíveis. Igualmente, os chapéus e bonés ao gosto (e à falta dele) das cabeças coroadas por eles numa mistura de cuidados com a saúde e de estilo pessoal. Dependendo da estação, luvas, gorros, boinas, echarpes e cachecóis são apostas certas.
No quesito comportamento, algumas atitudes são bem típicas. Fazer pequenos vídeos de tudo é uma delas. Tirar fotos, muitas fotos, quase uma obrigação. Há quem colecione centenas delas por viagem, quase sempre esquecidas depois ou nem reveladas atualmente. Há aqueles que se arriscam tanto em busca de uma imagem a ponto de cair, por exemplo, na cratera do Monte Vesúvio, em Nápoles (Itália), como aconteceu recentemente com um turista norte-americano ao tentar recuperar seu celular, que havia caído no buraco, após ele ter feito uma selfie. Um sem noção esse cara, sem ingresso para estar naquele passeio e em local sinalizado como não permitido. Fazer isso, ainda bem, não é a regra.
Outra coisa da qual quase ninguém escapa é a compulsão pela compra de certos objetos dados depois da volta ao lar a amigos, colegas e familiares merecedores dessas tais lembrancinhas. Marinheira de muitas viagens, essa situação não vivo mais, também deixando de comprar inutilidades, que abandono logo depois pela casa. Uma recaída de vez em quando, no entanto, quem não tem?
Tendo o aeroporto como cenário, espaço por si só provocador de certas inquietações, são comuns também a tantos viajantes, turistas ou não, dois momentos especiais de tensão. O primeiro ocorre na passagem pelo Raio X. A gente sabe que quem não deve não teme, mas vai que ficou esquecido na bagagem de mão algum artigo proibido de estar lá (uma singela tesourinha ou minúscula pinça), e o aparelho acusa a presença dele. E temos então a malinha ou a mochila aberta ali, e nossas coisas, reviradas publicamente. Guardamos ainda uma apreensão coletiva diante da esteira rolante. Aí torcemos ardentemente para que nossa mala apareça logo. O medo de que ela tenha se extraviado é real, pois, se isso acontece, é “dor de cabeça” na certa. Esse tipo de dissabor, felizmente, nunca tive.
E por falar nisso, ainda que esteja tudo planejado para que aqueles dias maravilhosos sejam de fato maravilhosos e se tornem inesquecíveis, ninguém está livre de passar por alguns perrengues: cadeados quebrados ou perdidos, chaves deles trancadas por distração nas malas, taxista explorador ou grosseiro, certa dificuldade com o idioma do lugar, estranhamento com a comida e aquele desarranjo intestinal, entre outros.
Excetuando os anos críticos da pandemia, nada é capaz de abalar os propósitos dessa gente que ama viajar e retoma agora essa sua vida de turistas por vocação. Sempre tão semelhantes, cada um sendo feliz à sua maneira.