Todos nós conhecemos de sobra a força do apelo comercial presente em certas datas do calendário. Por si próprios carregados de emoção e significado, esses momentos são explorados exaustivamente pelo sistema capitalista em que vivemos. De recente memória, o Natal não nos deixa mentir. Anunciado e propagado como festa maior da cristandade, ele mexe com o bolso e o coração de milhões de pessoas. Misturado a tantas compras, pode surgir um desejo de ser bom, algo como fazer alguma coisa bacana por alguém, ou então simplesmente cumprir uma função social. Não dá para esquecer também o 12 de outubro, que soa como mágica para as crianças, o que faz muitos olhinhos brilharem de alegria em razão dos brinquedos, guloseimas e brincadeiras a elas especialmente oferecidos nesse dia. E como ignorar o segundo domingo de maio, o das mães, lembram-se? Afinal de contas, ninguém merece mais agradecimento e respeito do que elas, as antigas rainhas do lar, hoje sufocadas no desempenho de múltiplos papéis na sociedade. Seja lá da maneira que for, o fato é que quase todo mundo se rende ao encanto ou mesmo à imposição dessas datas.
Diferentemente dos exemplos expostos acima, há aqueles casos que não rendem dinheiro, não envolvem necessariamente cifras astronômicas, mas rendem boa discussão, como ocorre com datas tidas como não comerciais (dia do índio, da árvore, do professor, da consciência negra...).
Curiosamente, há quem questione ter que haver uma data específica para isso ou para aquilo, quando o ideal seria que as causas embutidas nessas comemorações fossem motivações naturais, diárias ou constantes. Costumam não ser. E se isso não acontece ainda, é porque precisamos de ocasiões especiais para a reflexão sobre nossas ações cotidianas.
Tudo isso me veio a propósito do Dia Internacional da Mulher. Celebrado em oito de março, ele tem origem nas manifestações femininas por melhores condições de trabalho e direito de voto, no início do século XX, na Europa e nos Estados Unidos. A data foi instituída pelas Nações Unidas em 1975, para lembrar tanto as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, como as discriminações e as formas de violência a que muitas delas ainda estão sujeitas em várias partes do mundo.
Em se tratando do Brasil, onde a presença das mulheres no mercado de trabalho é significativa e grande parte das famílias tem comando feminino, essa situação é ainda injusta, uma vez que nossas trabalhadoras, em relação aos homens, recebem salários menores, pelo mesmo serviço. Se as mulheres ocupam atualmente parte maior das vagas nas boas instituições públicas de ensino, inclusive em cursos antes praticamente restritos aos rapazes, ou se mostram competência ao serem aprovadas em muitos dos concursos mais concorridos do país, o mesmo não ocorre na política. Nessa área, a participação das mulheres não é condizente com o tamanho do eleitorado constituído por elas. Mesmo considerando possíveis candidaturas femininas para as eleições deste ano, incluindo a presidencial, o mundo político parece não ter seduzido ainda grande parte das eleitoras brasileiras.
Um outro aspecto dessa questão diz respeito a atitudes criminosas contra as mulheres, muitas delas vítimas eternas de companheiros truculentos e covardes, quando não são simplesmente assassinadas. Nem mesmo nossa pacata Resende Costa se salva nessa estatística. Que o diga o caso da moça Daniela, só para ficar no crime mais recente. E o que dizer dos maníacos sexuais agindo com requintes de crueldade e causando pânico a todos nos locais onde agem?
Mas voltemos ao lado bonito da vida, à convivência harmoniosa entre homens e mulheres, tão diferentes entre si, ao mesmo tempo iguais como seres humanos. Voltemos ao tempo da delicadeza!
Nas águas do Rio Santo Antônio
Não posso deixar passar a oportunidade de cumprimentar o compositor Wander Morais, autor do grande sucesso que embalou o Bloco Cabeção 2010. Apresentando um ritmo contagiante, sua música caiu no agrado geral. Quanto à letra, atualíssima.
Devo dizer apenas que não me surpreendi com o feito do Wander, pois já o conheço de outros carnavais, sendo assim, testemunha do seu grande talento musical.
Dia internacional da mulher
14 de Marco de 2010, por Regina Coelho