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Duplas e sua curiosa nomenclatura

18 de Julho de 2018, por Regina Coelho

Em ensaio musical com os Irmãos Pérez, Capitão Furtado (Ariosvaldo Pires), apresentador de rádio paulista e divulgador da música sertaneja, determinou que uma dupla tão original, com vozes tão boas, não poderia ter nome espanhol, “batizando” João e José de Tonico & Tinoco, respectivamente. Era o início (1945) de uma carreira vitoriosa, alçando os dois artistas à condição de dupla mais importante do país, recordista de venda de discos, também cognominada de “a dupla coração do Brasil”.

A utilização de nomes artísticos ainda hoje é prática comum em várias áreas do entretenimento. Só isso, no entanto, obviamente não garante o sucesso de ninguém. Adotar esse recurso deve ter mesmo importância como marca a ser profissionalmente explorada. No caso específico das duplas sertanejas, o nome escolhido passa pela aplicação de alguns critérios. Um ponto a ser observado é a questão da sonoridade. Nesse sentido, há certas preferências como, por exemplo, os dois nomes começados com a mesma letra, parecidos ou que combinem entre si. É o que se vê, ou melhor, se ouve em Tonico & Tinoco. Atualmente, estão em alta os nomes de fácil apelo popular com muita mistura de João, Felipe, Henrique, Mateus... formando combinações incontáveis para incontáveis pares de cantores que surgem por aí. Não muito distante, houve uma época de nomes engraçados e, vá lá, até criativos para duplas que se lançaram no mercado nacional. Aqui vai uma amostra desses arranjos linguísticos. Abel & Caim, Azul & Azulejo, Atleta & Treinador, Bátima & Robson, Belo & Horizonte, Cacique & Pajé, Canário & Passarinho, Cativante & Continente, Chanceler & Diplomata, Choroso & Xonado, Conde & Drácula, Cruzeiro, Tostão & Centavo (ops! um trio), Domyngo & Feryado, Faceiro & Fascinante, Feitiço & Feiticeiro, Franco & Montoro, Galã & Granfino (sic), Gavião Moreno & El Condor, Industrial & Fazendeiro, Juscelino & JK, Leal & Legal, Leyde & Laura (provável inspiração em Lady Laura, mãe de Roberto Carlos), Lírio & Lário, Marechal & Rondon, Marlboro & Hollywood, Monetário & Financeiro, Nem Ly & Nem Lerey, Oceano & Porto Rico, Patrão & Funcionário, Praião & Prainha, Preferido & Predileto, Priminho & Maninho, Poliglota & Porta-Voz, Rocky & Santeiro, Simpatia & Gente Fina, Sorriso & Sincero, Tubarão & Seresteiro, Zezinho & Zorinho, Zilo &Zalo, Zum & Zito.

Abrangendo uma diversidade vocabular impressionante, havia gosto (ou falta dele) para todo tipo de nominação desses grupos. Daí, a dupla do cigarro (Marlboro & Hollywood), hoje certamente improvável com essa denominação; a indígena (Cacique & Pajé); a 2 em 1, ou seja, um nome para duas pessoas (Juscelino & JK, Franco & Montoro, Marechal & Rondon, três pessoas que se destacaram na história do país); a dos sinônimos (Monetário & Financeiro, Preferido & Predileto) e por aí vai. Seguindo essa linha de interpretação, Rio Negro & Solimões formam já há algum tempo a dupla fluvial amazônica pela lembrança dos dois rios que correm lado a lado sem se misturarem até se tornarem um só – o Amazonas.

Pertence ao anedotário popular uma situação divertida envolvendo a cantora Sandy (também vinda de uma dupla com o irmão, Júnior, já desfeita), muitas vezes mencionada como filha de Chitãozinho & Xororó (o último, o pai dela) pela junção quase inseparável desses termos. Inseparável também é a denominação “Anavitória” para o duo musical pop romântico formado pelas garotas Ana e Vitória, um sucesso recente pelo país. No feminejo (mulheres no sertanejo), Maiara & Maraísa, Simone & Simaria são figuras onipresentes no momento com seus reais e característicos nomes de duplas de irmãs.

Longe da fama e da música, guardados na memória afetiva de Resende Costa, Caraco (lembrado pelo uso invertido das botinas, virando expressão local: “calçar caraco”) & Carrinho (Carlinhos), criaturas lendárias do passado, formaram uma boa dupla de companheiros no existir inocente de suas vidas pelas ruas da cidade.

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