O encerramento da VIII Fliporto (Festa Literária Internacional de Pernambuco) contou com a presença marcante de Ariano Suassuna, escritor paraibano, mas cidadão pernambucano, recifense e olindense. Durante aula-espetáculo ministrada em Olinda na noite do dia 18 de novembro próximo passado, Suassuna discorreu sobre a obra de Capiba, o mais conhecido compositor de frevos do Brasil. E como não poderia deixar de ser, encantou o público presente com o costumeiro vigor e a competência de sempre ao falar do músico homenageado e promover a discussão de questões interessantes ligadas ao país e à sua vida de acadêmico.
Logo no início do evento, Ariano sugeriu a troca do nome da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, por Avenida Nélson Rodrigues. “O que é que Pernambuco deve ao presidente Kennedy?”, questionou ele, sendo por isso muito aplaudido.
O escritor contou à plateia que deixou de usar terno e gravata em 1981 inspirado por um artigo de Mahatma Gandhi, líder da independência indiana. “Ele dizia que o indiano que amasse seu país e seu povo não devia nunca se vestir como os ingleses nem com a roupa feita pelos ingleses. Primeiro porque estaria virando cúmplice dos invasores. Depois porque ia tirar um dos poucos mercados de trabalho que as mulheres pobres da Índia tinham, que era a costura”, relatou. Desde então, a costureira Edite assumiu a missão de cuidar dos figurinos de Suassuna. “Comecei a ser barrado nos lugares por aí. Tenho vocação para ser barrado”, revelou.
Ariano também contou curiosidades sobre sua posse na Academia Brasileira de Letras. Depois de contratar Edite para costurar o fardão (veste simbólica dos membros da ABL) e uma bordadeira do Clube das Pás (um clube carnavalesco recifense) para cuidar dos adornos, ele foi chamado de jeca, mas não deixou por menos. “Bonito não tem ninguém ali, eu era o menos feio. Duas coisas que me impressionaram na Academia: uma foi a feiura. Ô imortais feios! E a outra foi a idade. Corri o olho e dava mais de três mil anos!”, brincou.
Defensor ferrenho da cultura popular do Nordeste, Suassuna lembrou sua velha implicância com Michael Jackson ao afirmar que o falecido astro “vivia aperreado por ser negro” e que “dançarino negro de verdade, orgulhoso de sua cor e de seu país é Mestre Meia-Noite!”, uma referência a Gílson Santana, artista atuante naquela noite. Referindo-se ao cangaço, qualificou-o como “um exemplo extraviado e errado de uma revolta social justa”. Eis aí uma ideia merecedora de reflexão.
Para falar do amigo Capiba, muitas brincadeiras. Entre elas, a seguinte. “Todo ano ele (Capiba) me dizia, falando sério: ‘Ariano, o melhor time é o Santa Cruz. Os jogadores dos outros times é que não deixam o Santa jogar!’”, contou Suassuna.
As informações aqui relatadas sobre a última noite da Fliporto 2012 eu obtive no G1(o portal de notícias da Globo) e julguei pertinentes ao momento atual. No ano em que o Brasil reverenciou a memória de notáveis como Mazzaroppi (09/04), Jorge Amado (10/08), Nélson Rodrigues (23/08 – aliás, o homenageado desta Fliporto) e Luiz Gonzaga (13/12), todos eles nascidos em 1912 e merecedores das homenagens que lhes foram prestadas, nada melhor do que exaltar também a figura brilhante e corajosa do brasileiríssimo e vivíssimo Ariano Suassuna, 85 anos. Autor de “O auto da compadecida”, ele verá sua mais famosa obra ser o tema da Escola de Samba Pérola Negra (de São Paulo) no Carnaval 2013. Justa homenagem a quem, entre outras coisas, faz do “não troco o meu ‘oxente’ pelo ok de ninguém” uma profissão de fé nas suas origens. Mais Ariano do que isso, impossível!
E entrando no clima natalino, recorro a uma canção de Natal composta por Capiba e Carlos Pena Filho para dedicá-la a todos os leitores do Jornal das Lajes.
Sino, claro sino
__ Sino, claro sino,
Tocas para quem?
__ Para o Deus menino,
Que, de longe vem.
Pois se O encontrares,
Traze-O ao meu amor.
__ E o que Lhe ofereces,
Velho pecador?
__ Minha fé cansada,
Meu vinho, meu pão,
Meu silêncio limpo,
Minha solidão.
Em tempo - Um presente para Resende Costa a conclusão dos trabalhos da reforma do Teatro Municipal. Parabéns ao prefeito Adilson Resende pela iniciativa. E que nosso principal espaço cultural seja devidamente administrado para os fins aos quais se destina.
Honras ao talento brasileiro
11 de Dezembro de 2012, por Regina Coelho