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Inventando moda

13 de Junho de 2009, por Regina Coelho

Paula Lara e a apresentadora Adriana Colin

A estilista Paula Lara mostra coragem ao trocar a advocacia pela moda, faz sucesso entre as famosas, mas diz que são muitas as armadilhas desse ramo de atividade.

Nascida e criada em Belo Horizonte, onde mora, a estilista e empresária PAULA LARA tem raízes resende-costenses. Ela é neta do saudoso casal José Jacinto Lara e Helena Fonseca Lara (ele, por muitos anos dentista e depois escrivão do crime na cidade; ela, professora primária do então Grupo Escolar Assis Resende, hoje Escola Estadual Assis Resende). Das muitas férias e festas passadas durante a infância e a adolescência aos dias atuais, muita coisa mudou na vida dessa profissional que vem despontando com força no cenário mineiro da moda feminina. Aos 27 anos, a criadora da marca “Atalena” comanda uma equipe de trabalho formada por 10 pessoas (chefe de produção, auxiliar de serviços gerais, passadeira, arrematadeira, pilotista, cortador, modelista, estagiária e duas vendedoras). Suas ideias em relação às atividades que desenvolve revelam a maturidade de quem já conhece o lado menos charmoso das confecções de roupas. É o mesmo que requer muito trabalho, gera milhares de empregos, movimenta a indústria e o comércio, fortalece a economia e faz surgirem talentos como Paula. Leia a seguir a entrevista que ela concedeu ao JORNAL DAS LAJES.

Quando surgiu o interesse por moda, profissionalmente falando?
O interesse por moda surgiu através de um certo desencanto com o Direito. Quando da minha formatura em 2004, percebi que deveria buscar outra profissão, pois senti que na área jurídica eu não seria feliz. Assim, entrei na faculdade de moda no começo de 2005 e me apaixonei. Primeiro veio o aprendizado teórico, ou seja, fiz o curso de design de moda pelo Instituto Marangoni, de Milão, e depois tive a experiência prática, que primeiramente ocorreu na Itália.

Como foi o começo, o primeiro trabalho?
O primeiro emprego na área de moda foi ainda na Itália. Trabalhei com um estilista que tinha uma linha de tênis na “Puma”, e para a Copa de 2006 desenvolveu o uniforme da seleção italiana, que saiu vencedora na disputa. Além dessa veia esportiva, tínhamos que gerenciar as linhas “femininas” e “homem clássico”. Foi muito válido, mas sabia que o masculino não era meu forte. Já no Brasil, meu primeiro emprego foi oferecido por uma amiga, que na época da minha ida à Itália foi uma grande incentivadora, e, quando retornei, colocou-me como sua assistente, na marca “Nef”. Ali permaneci por um ano, período em que pude conhecer o funcionamento de uma confecção de roupas, os fornecedores de tecidos, profissionais da área, etc.

E a escolha da marca Atalena, como você explica?
O nome “Atalena” surgiu ainda na época da faculdade de moda e é formado pelos nomes de minhas avós materna (Atalice) e paterna (Helena). Quando tive a oportunidade de montar a minha confecção, não hesitei em usar esse nome e, assim, homenagear minhas avós queridas.

Quais são suas principais motivações ao criar uma peça?
Difícil falar sobre motivação para a criação de uma peça. Na verdade, sofremos influências cotidianamente: vemos um filme, lemos um livro, andamos na rua e vemos algo que nos chama atenção, viajamos, lemos “blogs” (essa é a minha mais nova mania), assistimos televisão, e tudo isso serve como subsídio e inspiração para que se possa perceber o que as pessoas querem e almejam vestir. Exemplo dessa tendência comportamental, que é quase imperceptível, é a moda indiana, há tempos esquecida. Não é a toa que a Globo está explorando essa tendência. O lançamento do filme “Quem Quer Ser um Milionário?” colocou a Índia em evidência no cenário mundial cultural, o que é somente uma consequência de sua cultura milenar, e de seu enorme crescimento nos últimos anos. Esse crescimento mostrou ao mundo um país maravilhoso, com sua religião, costumes, hábitos, inclusive os de vestir. Assim, conseguimos entender por que as pessoas buscam cada vez mais os sáris e as calças “saruel”, além dos xales estampados. Ao criar uma peça, o estilista deve ter a sensibilidade de perceber o que as pessoas querem vestir, mas para isso ele deve buscar a informação e estar sempre atento às transformações sociais, culturais, comportamentais e econômicas.

Até que ponto o fato de ter morado e estudado em Milão, um dos mais importantes centros da moda no mundo, influenciou você?
Ter morado em Milão me mostrou que a moda não é nem um pouco glamourosa. Passei quase dois anos lá e tive pouco tempo para viajar, pois o curso demandava muita dedicação. Nas horas de folga, visitávamos exposições, museus, bibliotecas, atividades estas que nos ajudavam nos trabalhos do curso. Na verdade, quem escolhe essa profissão busca incessantemente a novidade, a informação, as mudanças sociais. Tudo se torna material de pesquisa. Esse “espírito de busca” trago sempre comigo, e foi algo que desenvolvi lá.

Considerando todos os processos por que passa cada trabalho seu, o que lhe dá mais prazer?
Duas etapas de meu trabalho me fazem muito bem: quando vejo a roupa pronta e gosto do resultado e quando vejo alguém na rua vestindo Atalena, alguém que não conheço, que somente viu uma roupa na arara de uma loja e gostou. Essa parte é muito prazerosa.

Basicamente, que tipo de mulher veste suas roupas?
A mulher Atalena é muito romântica, aprecia babados e laços. É madura, apesar de vestir vestidos bem pueris, gosta de uma novidade, de algo diferente, mas ao mesmo tempo é tradicional e bem delicada. Podemos dizer que a mulher “Atalena” pode ter 20 anos como pode ter 50 anos, pois o que importa é simpatizar com o estilo da marca.

De que forma a marca Atalena chega às consumidoras?
A “Atalena” ainda é uma marca muito pequena, e como em toda microempresa, a logística é um pouco diferente. Mas temos um showroom em Belo Horizonte, que atende somente ao atacado, ou seja, vendemos só para lojistas. E temos várias lojas que nos representam, espalhadas por Minas Gerais, tais como Uberlândia, Montes Claros, Ouro Branco, Conselheiro Lafaiete e em outros estados, como Amazonas, Piauí e Goiás.

A que você atribui o sucesso de suas criações, principalmente entre mulheres famosas que aparecem na tevê usando peças da Atalena?
Várias celebridades já apareceram em novelas usando Atalena, e isso se deve a um importante trabalho de assessoria de imprensa, que oferece nossas roupas aos produtores de figurino da Globo, que escolhem aquelas que mais se adaptam a um personagem ou outro. Assim, Vera Fisher, Débora Secco, Adriana Colin, Marjorie Estiano, além de jornalistas da Globo Minas já apareceram usando uma criação da Atalena.

O que significa para você fazer moda no Brasil hoje, lembrando ainda que vivemos um momento de crise econômica mundial?
Quem opta por trabalhar no ramo da confecção, de um modo geral, precisa ter o pé bem no chão, pois são muitas as armadilhas. Muitas são as fábricas que não conseguem sobreviver nesses tempos de instabilidade econômica, quando os riscos são maiores. A Atalena começou suas operações em 2008, um ano de reviravoltas econômicas, mas, como estamos em um período de adaptação ao mercado, não podemos ainda falar sobre os efeitos da crise. Tenho consciência também de que fazer moda é uma atividade que demanda muito cuidado, e por isso se deve ter toda cautela nas compras de matéria-prima e no controle de estoque, para que a empresa não passe por nenhuma dificuldade. Lembro-me sempre de uma frase cujo autor desconheço, que diz: “Em tempos de dificuldades e crise, temos a oportunidade de mostrarmos que somos fortes”.

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