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Irmã Maria Geralda – dez anos depois

15 de Setembro de 2021, por Regina Coelho

A resende-costense Irmã Maria Geralda celebrou 60 anos de vida religiosa (foto arquivo pessoal)

“Caminhar com humildade, amar com ternura, agir com justiça (Miqueias 6:8). Isso é o que eu tenho tentado viver”. Com essas belas e definitivas palavras de inspiração bíblica e uma singela declaração sobre seu plano de vida, Irmã Maria Geralda Resende, 82 anos, iniciou seu discurso durante a celebração de uma missa festiva em 15 de agosto último pelos seus 60 anos de uma existência dedicada ao serviço religioso. Presidida pelo bispo diocesano de Caraguatatuba (SP), Dom José Carlos Chacorowski, a cerimônia foi realizada na Matriz de São Sebastião, cidade onde Irmã Geralda, como é conhecida por lá, desenvolve importante trabalho de assistência às pessoas mais sofridas e marginalizadas.

Com voz firme e semblante tranquilo e diante de um público formado por familiares, representantes da comunidade sebastianense, amigos e religiosos (entre eles, Padre Alessandro Coelho, pároco da Matriz local, e irmãs do Bom Pastor), a religiosa resumiu desta forma os caminhos que trilhou no cumprimento do que ainda abraça como sua missão neste mundo.

“Muitos me ajudaram nessa caminhada. Meus irmãos, minha família, muitas irmãs nas comunidades por onde eu passei. No Rio de Janeiro (Ilha do Governador), Juiz de Fora, Ipiranga (em São Paulo), Penitenciária do Carandiru, Penitenciária Feminina de Tremembé, Zona de prostituição de Campinas, São Sebastião, Prelazia de São Félix do Araguaia, Alto da Poeira (em Goiânia) e novamente em São Sebastiao, onde os pobres foram e são meus amigos e meus mestres.”

Ainda naquele dia, em todas as merecidas homenagens prestadas à Irmã Geralda e vindas de tanta gente, alegria é o que não faltou por saberem todos da presença forte da homenageada na história de cada um. Declarações de muito carinho pela Irmã, também por vídeo, disseram muito sobre a mulher especial que ela é. Entre tantos testemunhos bonitos, destaco o do Padre Zezinho, conhecido sacerdote, autor e cantor de grandes sucessos religiosos. “O valor que Irmã Geralda atribui aos outros, esquecendo-se de si mesma, é qualquer coisa de franciscano, de... como é que eu vou dizer, de... Evangelho. Cada vez que penso na Irmã, eu penso no Evangelho. Gente que assumiu e não abre mão de cuidar dos mais abandonados (...)”, afirma ele sobre a amiga.

Há exatos dez anos, fiz para esta coluna uma matéria sobre as Bodas de Ouro religiosas da Maria Geralda, que é como costumamos chamar em família a filha da minha tia Vera (e do tio Alcindo) e primogênita neta do nosso avô, Alcides Lara. Hoje, quis trazer de volta aqui a figura incomparável dessa filha de Resende Costa. Em contato com a prima, solicitei-lhe um depoimento de vida, ao que ela me sugeriu que eu lhe fizesse perguntas, aqui subentendidas em razão da limitação física deste espaço.

  • “Depois de morar em Goiânia, novamente estou aqui (em São Sebastião) com os moradores de rua e mulheres da zona de prostituição do cais do porto (a morada atual).
  • Levanto, tomo café, faço meditação, rezo o ‘Ofício’, atendo as pessoas, rezo o terço, rezo ‘Vésperas’, vou para o trabalho na comunidade dos pobres, participo da missa, rezo ‘Completas’ e faço oração da noite (a rotina).
  • Minha maior realização é conviver com os mais pobres e fazer parte da comunidade com eles.
  • Que consigamos ter na cidade uma Casa de Passagem para os pobres e andarilhos (maior sonho).
  • Representa tudo. Aí nasci, cresci, aprendi. Aí estão minhas raízes, que são a base da minha vida (Resende Costa).
  • Quero dar graças a Deus por tudo o que d’Ele recebi. Da minha terra, da minha família e de todas as pessoas que fizeram de mim o que sou hoje. São Sebastião é o lugar para o qual Deus me chamou para exercer minha missão junto às pessoas mais sofridas e marginalizadas (palavras finais)”.

E ela se lembra ainda de dizer que participa do GEV (Grupo de Esperança Viva), que encaminha dependentes químicos para a Fazenda Esperança, em Guaratinguetá, perto de Aparecida.

“Caminhar com humildade, amar com ternura, agir com justiça”. Isso é o que Irmã Geralda tem feito por uma vida inteira.

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