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José

15 de Dezembro de 2016, por Regina Coelho

Ilustração Elimar do Carmo

De todos os apelidos usados no Brasil o mais comum talvez seja o de Zé. Como é de se presumir, ele resume o nome José, vindo daí também Zezé, Zeca e Zequinha. Nenhum deles, porém, ganha do popularíssimo Zé. É parar um instante e escutar alguém pronunciando por aí esse monossílabo. É olhar e dar de cara com um Zé. Em casa mesmo, entre os irmãos, temos o José Celso. Carinhosamente, Zé para nós.

Em carne e osso ou em caracterizações para os mais variados fins, a galeria de famosos Zés é vasta. Alguns deles: Zé Arigó (médium mineiro falecido em 1971); Zé do Caixão (personagem criado e vivido por José Mojica Marins); Zé Keti (cantor e compositor falecido em 1999, um dos autores de Máscara Negra, grande sucesso carnavalesco); Zé Ramalho (cantor e compositor). E Zé Bonitinho (personagem televisivo criado pelo ator Jorge Loredo); Zé Carioca (o papagaio José Carioca, criado no começo da década de 40 pelos Estúdios Disney); Zé do burro (de O pagador de promessas, peça de Dias Gomes) e Zé Gotinha (criação do artista plástico Darlan Rosa em 1986 para a campanha de vacinação contra a poliomielite realizada no país pelo Ministério da Saúde).

A lista dos notórios Josés compreende atores (Wilker, de Abreu, Mayer, Loreto, Lewgoy), políticos (Dirceu, Serra, Sarney), escritores (Alencar, Lins do Rego, Mauro de Vasconcelos, Ribamar Ferreira – o Ferreira Gullar (recém falecido), sem esquecer Monteiro Lobato e Saramago, este último um português ilustre no meio da brasileirada. E ainda José Mindlin, empresário paulistano que se definia como “vítima de uma loucura mansa”, referindo-se a seu amor extremo pelos livros.). José Aldo (lutador de MMA), José Padilha (cineasta), José Luís Datena (apresentador de TV), José Simão (colunista da Folha de S. Paulo e do portal UOL) e tantos outros. Cabe aqui até o espevitado boneco Louro José da TV.

E agora, José? Esse é o nome de um conhecido poema de Drummond com foco central na reflexão sobre a existência do homem comum que resiste a tudo e segue vivendo. O caráter genérico do nome José diz tudo em relação aos milhares de “Josés” espalhados por toda parte.

Para quebrar a hegemonia de nomes masculinos até aqui apresentados, lembro aqui duas mulheres particularmente especiais, ambas de mesmo nome – Maria José – que vêm a ser minhas saudosas avós: D. Zezé (materna) e D. Cotinha (paterna), assim conhecidas em Resende Costa.

Citar as duas enfatizando os apelidos pelos quais elas eram chamadas é uma boa oportunidade para sair em defesa dos hipocorísticos, que são vocábulos familiares carinhosos. Usá-los no dia a dia no tratamento com aqueles que são mais próximos da gente faz todo sentido, pois eles nascem espontaneamente, usados com perfeição em certas situações. Para outros momentos, aqueles que exigem uma certa formalidade, o modo afetuoso usado na intimidade fica reservado para tal. A opção por um ou outro depende das circunstâncias.

Em referência ao nome que dá título à presente matéria, é sabido que “José” significa “aquele que acrescenta”, “acréscimo do Senhor” ou “Deus multiplica”, tendo origem hebraica (Yosef). Chegado o período natalino, a menção a José de Nazaré é inevitável pela presença dele compondo a Sagrada Família com Maria e Jesus. José, o carpinteiro, é São José, que empresta seu nome a muitas igrejas e lugares pelo mundo, sendo figura de destaque na vida do Menino Jesus como seu pai adotivo e um homem “justo”, conforme o Evangelho.

Por razões religiosas, é certo, houve um tempo em que havia sempre um José e uma Maria em grande parte das famílias brasileiras, costume que, de certa forma, explica a popularidade desses nomes. Hoje eles estão em alta, novamente, como se pode observar, nem tanto pelas motivações do passado, acredito.

Na despedida de mais um ano, a coluna transfere aos leitores do JL um singelo mimo do novelista, jornalista e humorista americano Oren Arnold (1900-1980):

“Sugestões de presentes para o Natal: para seu inimigo, perdão. Para um oponente, tolerância. Para um amigo, seu coração. Para um cliente, serviço. Para tudo, caridade. Para toda criança, um exemplo bom. Para você, respeito.”

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