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Lilia Lara

16 de Abril de 2013, por Regina Coelho

Filha caçula da dona Zezé e do Alcides Lara, Lilia foi uma criança feliz e encantadora. Ainda pequena, começou a se destacar em apresentações escolares e religiosas, graças principalmente ao talento demonstrado pelo canto, uma de suas paixões pela vida toda. Já adolescente, alta e sempre bonita, teve a prática do vôlei e a atuação em encenações teatrais que aconteciam na cidade como algumas de suas distrações preferidas. Ao chegar à fase adulta, tornou-se provavelmente uma das primeiras cabeleireiras de Resende Costa. Foi aluna do então Grupo Escolar Assis Resende e do antigo Ginásio Nossa Senhora da Penha. Com o objetivo de cursar o magistério, mudou-se para Barbacena, onde, a exemplo do que fizera como cantora do nosso Coro Paroquial, passou a integrar o Coro Orfeônico da escola em que se formou.

Professora formada e de volta à sua cidade, foi trabalhar no então Grupo Escolar Conjurados Resende Costa, mas por breve período, pois casou-se em 1968, indo morar em Sete Lagoas.

Distante da terra natal, manteve-se atuante como profissional da educação e deu à luz seus dois primeiros filhos. Transferida para Lavras, cursou Pedagogia. E regressou finalmente a Resende Costa em 1978, ao assumir a direção da Escola Estadual Conjurados Resende Costa, hoje municipalizada. Era a volta para casa. Aqui teve seu filho caçula. Ao mesmo tempo, iniciou uma bela etapa de vida marcada por inúmeras e importantes realizações. À frente do Conjurados por 13 inesquecíveis anos, fez a escola crescer substancialmente, tornando-a referência de bom ensino e de sólidos princípios humanitários. Paralelamente, reassumiu seu posto de cantora no Coral Opus Mater Dei e passou a chamar para si a responsabilidade de novas funções.

Totalmente devotada às causas cristãs, atuou na Pastoral Carcerária, em cursos de preparação para crismandos e na coordenação das atividades dos coroinhas da Paróquia de Nossa Senhora da Penha. Inspirada no movimento católico da Renovação Carismática, buscou na força do Espírito Santo a própria força para estimular, liderar e sobretudo vivenciar ações condizentes com os ensinamentos de Jesus. Dessa forma, foi presença iluminada no Apostolado da Oração, na Legião de Maria, no Cerco de Jericó e na Adoração noturna, na capela da matriz, encontro com companheiros para reza de hora marcada, muitas vezes alcançando a madrugada.

No centro de tudo, a ação poderosa do terço. A reza semanal no Lar São Camilo, o terço mensal da família junto aos vizinhos e o momento aos domingos antes da missa das oito. Em casa, o rosário de quatro terços instituído pelo Papa João Paulo II é rezado diariamente.

E como se já não bastasse tanta dedicação, era preciso coordenar as visitas da Mãe Rainha, preparar com carinho as coroações de maio e enfeitar cuidadosamente as janelas de uma certa casa da Praça Dr. Costa Pinto para as procissões festivas que por ali passam. Era preciso também apoiar a vocação sacerdotal de seminaristas encorajados e amparados por ela. E olhar o mundo com o coração para prover proteção providencial aos mais necessitados.

Em família, era o referencial na forma de quem guardava com desvelo a casa e as histórias outrora ali vividas por ela, pelos pais e irmãos. Era ainda a tia querida de um incontável número de sobrinhos, cada um deles lembrado nominalmente todos os dias ao ser contemplado em suas orações e, hoje, todos órfãos dela.

No dia a dia doméstico, o gosto pelos trabalhos manuais e pelos livros lidos, estudados e emprestados aos montes por aí. Os cuidados com o marido, o trabalho indispensável de sua dedicada ajudante e a alegria pela chegada dos filhos, netos, noras, genro e de quem mais aparecesse. Casa sempre aberta, também para receber os amigos seresteiros em memoráveis cantorias. É a bela voz que agora se cala destacando-se naturalmente entre as outras.

Nas andanças pela cidade e nos passeios que adorava fazer, a elegância em pessoa e a saudável vaidade, coisas de quem se gostava, sem jamais ser fútil ou deixar de cultivar as coisas do espírito, sendo suave, humilde e bondosa.

Não por acaso batizada como Maria, devotava amor extremado a Nossa Senhora, fortaleza de todos os momentos e a quem agora pedimos que interceda por nós junto a seu filho, em razão da dor pela ausência de alguém que soube se fazer muito amada. E se na vida lhe foram dadas a força para combater o bom combate e a perseverança para ter guardado a fé, conforta-nos a todos acreditar que Deus a recebeu em Sua morada.

Lilia Lara, seu outro nome é SAUDADE.

 

P.S. "Recebi a incumbência de escrever o texto acima, que foi lido ao final da missa de sétimo dia de minha tia Lilia. Resolvi publicá-lo neste espaço porque uma tão bonita história de vida merece ser contada de novo. Nela me incluo para dizer que desde sempre estivemos muito próximas afetivamente. Em casa, crescemos todos amparados também por seus cuidados. Sem ela agora, que vazio!”

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