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Mais uma copa do mundo

15 de Junho de 2010, por Regina Coelho

Não tem jeito. O clima de Copa do Mundo paira por toda parte. As atenções se voltam para a África do Sul, o primeiro país do continente africano a sediar uma Copa. Também aqui no Brasil o espetáculo está montado. A mobilização da torcida em torno da performance da seleção brasileira é quase total. A economia vive momentos de pura satisfação com o aquecimento do mercado de trabalho. É muita gente consumindo, é muita gente faturando, e o Brasil se vestindo de verde-amarelo. Apenas uma minoria consegue se manter alheia ou pouco interessada em relação ao destino do país no mais importante torneio de futebol do mundo. E claro, há o pessoal do contra, aqueles que acham um absurdo tanto oba-oba por causa desse ou de outro esporte qualquer.
 
A bola começa a rolar. Os comandados, ou melhor, os guerreiros de Dunga estão prontos para o combate. Epa, mas isso é uma guerra? A julgar pelo técnico brasileiro e um dos patrocinadores da seleção, parece que sim. Que pena! E onde fica o fair play, o tal espírito esportivo? Bobagem! E a tão decantada confraternização entre os povos? Esquece!
 
No meio desse turbilhão de emoções e de nervos à flor da pele, destaca-se a figura do treinador da seleção brasileira. Seja ele quem for, como sofre o coitado! Quanta cobrança! E os palpites, então? Surgem de todos os lados. As críticas e as tiradas de humor também. Dunga, o alvo da vez, não consegue, evidentemente, passar incólume a tudo isso. Fico com o lado da brincadeira. As mais engraçadas se inspiram na história da Branca de Neve. Aqui vão duas delas:
 
 “Não consigo entender por que estão criticando tanto as escolhas do Dunga. Afinal, pra convocar a seleção ele ouviu demoradamente sua principal conselheira: a Branca de Neve”. (Gerson Menezes)
 
“Será o Dengoso Dunga um Mestre em transformar o Feliz povo brasileiro em Zangado? Tenho medo de tirar uma Soneca ao ver a seleção ou de dar um espirro: Atchim!” (Rui Santos Paes)
 
Sem perder o embalo, selecionei pequenos textos relacionados ao mundo do futebol, a maioria deles objeto de legítima reflexão.
 
Armando Nogueira(jornalista e cronista esportivo)
Se Pelé não tivesse nascido homem, teria nascido bola.
Para Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio.
Os momentos de violência, os momentos de brutalidade são invariavelmente superados pelo gosto artístico de uma linda jogada (quando questionado sobre como encontrar beleza num esporte por vezes violento).
 
Garrincha(jogador brasileiro nas Copas de 58 e 62)
Eu não sou a alegria do povo, o povo é que a minha alegria.
Fui como Cristo, na vida particular e também no futebol. Já sei que, quando os dirigentes tentam passar os jogadores para trás, eles chiam e dizem: “vocês pensam que eu sou um Garrincha?” É isso aí, gente boa, virei um símbolo do que não se deve ser na vida (famoso por seus dribles desconcertantes, vida pessoal atribulada e fim de vida precoce).
Campeonatinho mixuruca, não tem nem segundo turno (durante a comemoração pela conquista da Copa do Mundo na Suécia, primeiro título mundial do Brasil/1958).
 
João Saldanha(jornalista e técnico de futebol)
Todo treinador de juvenis é meio homossexual. E todo treinador de qualquer categoria que defende a concentração é candidato a corno.
Se concentração ganhasse jogo, o time da penitenciária seria imbatível.
 
Millôr Fernandes(escritor e desenhista)
O futebol é o ópio do povo e o narcotráfico da mídia.
 
Nelson Rodrigues(jornalista e dramaturgo)
A conquista do Mundial de 1958 representa o fim do complexo de vira-lata do homem brasileiro.
 
Pelé(maior jogador da história)
A sensação de parar é péssima. Ainda sonho que estou driblando, fazendo gols (em 2001, referindo-se à sua despedida do futebol).
Se eu pudesse, me chamaria Edson Arantes do Nascimento Bola. Seria a única maneira de agradecer o que ela fez por mim.
 
Telê Santana(técnico brasileiro)
Decidiremos o jogo indo à frente, sem recuar nossa equipe. Somos melhores (explicando a tática que usaria contra a Itália, na Copa do Mundo de 1982).
Em Copa do Mundo, mais importante do que vencer é apresentar o melhor futebol. O que vale é o espetáculo.
 
Telmo Zanini(jornalista esportivo)
O dia mais duro na vida de todo atleta é quando ele percebe – ou é obrigado a perceber – que não tem mais condições para praticar a sua profissão, para jogar bola, encantar as plateias, levantar multidão nos estádios.
 
Torcida
Nem sempre vencem os melhores (faixa colocada no saguão do hotel da seleção brasileira, após a derrota para a Itália, na Copa de 1982).
 
Wanderley Luxemburgo(técnico)
O medo de perder tira a vontade de ganhar.

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