Voltar a todos os posts

Medo de quê?

21 de Janeiro de 2020, por Regina Coelho

o medo é um sentimento inerente ao ser humano. Em maior ou menor grau, é natural e compreensível sentir medo diante de muita coisa: da perda por morte ou afastamento de alguém querido, da própria morte, da velhice, da solidão, das doenças, da violência, do desemprego... O medo também traz em si algo de autodefensivo porque funciona como o reconhecimento de limites físicos e psicológicos, impedindo que a gente se arrisque excessivamente. Ainda que isso varie de indivíduo para indivíduo, é senso comum dizer que a virtude está no centro. Melhor é não desafiar todos os nossos medos, ao mesmo tempo, não permitir que aqueles que atrapalham nossa vida nos paralisem, impedindo-nos de viver boas situações e alcançar objetivos planejados.

Certos tipos de medo são específicos. Por exemplo, aquele que acomete os que não viajam de avião de jeito nenhum. Ou, quando são obrigados a isso, saem do ar, praticamente dopados, e não veem a viagem passar. Um outro tipo atinge os que não dão conta de dirigir um carro, mesmo tendo passado por essa experiência antes (só Deus sabe como!) e até conseguido carteira de habilitação. Daí sair dirigindo por aí, com tanto carro nas ruas, perigo de acidente... A pessoa trava. Falar em público costuma ser um pesadelo para muitos, com suadeira nas mãos (onde colocá-las nessa hora?), voz trêmula e rosto pegando fogo. Encarar um elevador é sinônimo de falta de ar e desespero total para outros. E se aquilo cai ou para no meio do trajeto? Ou o problema pode estar ao ar livre, nas alturas, e vem aquela vertigem toda. Olhar para baixo, nem pensar!

Fobia, radical de origem grega – 1- Designação comum às diversas espécies de medo mórbido. 2- Horror instintivo a alguma coisa, aversão irreprimível (Dicionário Aurélio). Eis aí o que sente boa parcela da população diante dessas e de outras situações do dia a dia. Entre os famosos, como quaisquer criaturas sujeitas a essa espécie de vulnerabilidade humana, algumas fobias são de conhecimento público. Madonna já revelou que sofre de astrofobia, isto é, medo de raios e trovões, tendo até ataques de pânico em dias de tempestade. O ator Keanu Reeves encara todos os vilões e perigos do cinema, mas é incapaz de entrar em um lugar escuro. Ele tem nictofobia. Sofrem do mesmo mal as cantoras Anitta e Kate Perry. Já Johnny Depp admite que fica apavorado tendo um palhaço por perto. O que esse ator tem se chama coulrofobia e, como se vê, uma fobia extensiva a adultos. A maquiagem exagerada dos palhaços parece funcionar como um disfarce que mistura um sorriso forçado com intenções ocultas. É o que andei lendo sobre o assunto. De outra natureza é o medo exacerbado que o ex-jogador de futebol inglês David Beckham, a atriz Renata Sorrah e a também atriz Scarlet Johansson têm de pássaros, ou seja, a ornitofobia. No caso da atriz Nicole Kidman, o pavor que a acompanha desde criança, quando ainda vivia na Austrália, tem o nome de motefobia, que é o medo de borboletas.

São relativamente comuns a acrofobia (medo de lugares elevados), a agorafobia (de lugares públicos e grandes espaços abertos) e a claustrofobia (de lugares fechados e apertados), as duas últimas modalidades, curiosamente opostas. Nos três casos, a sensação deve ser pior do que simplesmente ficar sem lugar.

Por tudo que passo quando se aproxima de mim um cachorro, devo ter cinofobia, o que muitas vezes é considerado uma “bobagem” ou “frescura”. Sou muito grata ao Tião Melo, então meu colega de trabalho e vice-diretor da E.E. Assis Resende, por ter entendido minha aflição diante de um “inimigo” que, certa noite, achando aberto o portão da escola, veio correndo justamente em minha direção. Ao me dizer que o medo que eu sinto deve ser o mesmo que ele tem de dentista (odontofobia), o Tião me fez um bem enorme.

Não se deve tratar com deboche o medo alheio. Muito menos achar engraçada ou estranha a reação das pessoas perante esse sentimento negativo. Desafiar incômodos e desconfortos não é tarefa fácil. Submetê-los a análise ajuda a desvendar fantasmas que nos apavoram. Para tanto é preciso coragem.

Chega de falar em medo! Em 2020 coragem a todos!

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário