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Mestras do bem

19 de Janeiro de 2017, por Regina Coelho

Cronologicamente, menos que uma geração distancia Mercês Azevedo Resende de sua colega Antônia Silva. Nascidas respectivamente em 1926 e 1940, a primeira em São João del-Rei, a segunda na Fazenda Canta Galo (município de Resende Costa), o magistério foi o destino profissional de ambas.

Na ativa por 25 anos, D. Mercês atuou em sua cidade natal (no G. E. Maria Teresa), em Resende Costa (no G. E. Assis Resende) e em Juiz de Fora, na Delegacia de Ensino, hoje SRE (Superintendência Regional de Ensino). Silvinha, “Sílvia” ou “Bem”, como também é conhecida, formou-se professora em 1961, depois de um longo período de estudos como aluna interna do antigo Colégio N. S. das Dores na vizinha São João. Iniciando seu trabalho em Prados, voltou para casa e passou a lecionar no mesmo Assis Resende, de onde saiu em 1964 com o propósito de integrar a primeira turma de profissionais do Conjurados, então recém-instalada escola, nela permanecendo até 1989.

Aposentadas e moradoras da cidade, elas são criaturas admiráveis. D. Mercês é viúva do resende-costense José de Alencar Resende e matriarca de uma família formada por 5 filhos: José de Alencar, Maurício, Anita, Regina e Raquel; 8 netos e 5 bisnetos. Silvinha compõe uma irmandade constituída exclusivamente de 9 mulheres, 5 delas já falecidas, como os pais. É solteira e muito ligada à família, tendo uma infinidade de sobrinhos.

A partir daqui, as histórias dessas duas mulheres se confundem. Para Marilene Ferreira, a Belle, 50, chamada para ficar uns dias com a D. Mercês, e isso já tem uns 26 anos, fica até difícil dizer o que mais admira na patroa. “Ela tem todas as qualidades: amiga, honesta, caridosa, mas sua generosidade é demais”, avalia ela. Fátima de Sousa, a Fatinha, 46, também é só elogios à Silvinha, para quem trabalha há 31 anos e a quem acompanha por toda parte. “Ela tem um astral muito bom, muita energia e tudo o que você faz pra ela tá bom”, afirma sua fiel escudeira.

“Tenho com Resende Costa uma relação de muito amor e gratidão. Aqui fiz amigos, posso conviver com a família do meu querido José e escolhi morar quando ele não estava mais conosco. Em Resende Costa, pela enorme bondade do seu povo, sou acolhida e me sinto em casa. Também por essa mesma bondade me tornei cidadã desta cidade e sou profundamente grata por tudo o que por ela é dado a mim e à minha família”, diz D. Mercês. E o que poderia ser uma mera figura de retórica quando ela menciona os maiores valores da vida – a própria vida, pela qual devemos agradecer a Deus cotidianamente, a união da família, a amizade, a fraternidade, a solidariedade, o respeito e o amor a Deus – vindo de D. Mercês, tudo isso se confirma por sua natural postura de amor aos seus e aos outros, especialmente aos assistidos por seu coração caridoso.

Silvinha classifica como “total” sua ligação com Resende Costa. Com seu característico sorriso maroto, afirma conhecer todo mundo. Nesse momento, Fatinha intervém para dizer que a casa onde trabalha é movimentada, frequentada por muita gente daqui mesmo e por quem vem de Jacarandira, da Micaela, da Boa Vista, um entra e sai constante. É gente que, muitas vezes, pede pouso, almoço, café e até dinheiro. Enquanto isso, a dona da casa apenas ri, para dizer depois que já era assim no tempo de sua mãe. Natural que eleja como valores maiores da vida a caridade, a solidariedade e a religiosidade.

E o que deixa nossas entrevistadas principais mais felizes?

“Sua felicidade depende muito mais da felicidade dos outros” – Belle sobre D. Mercês.

“Andar pela cidade fazendo visitas, ir ao cemitério (onde se sente em paz), conversar com as pessoas, fazer novenas” - Fatinha sobre Silvinha.

Com o frescor deste iniciante 2017, nada parece mais inspirador do que o sentimento de compaixão pelo próximo que as protagonistas da presente matéria sabem transformar em boas, possíveis e necessárias ações humanitárias. Bondade pura em forma de gente em perfeita combinação com o “Bem” e a D. Mercês, cujo nome significa piedade, graça, proteção.

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