Um estudo americano põe por terra um velho clichê segundo o qual as mulheres não são boas motoristas, ao revelar que elas dirigem melhor que os homens e arriscam menos a vida na direção. De acordo com cálculo baseado no número de quilômetros percorridos e que consta dessa pesquisa, os homens motoristas correm 78% mais riscos que as mulheres de morrerem quando estão dirigindo. Estudos semelhantes a esse, que foi realizado pela Universidade Carnegie Mellon (conceituada instituição privada de ensino e pesquisa, localizada em Pittsburgh, no estado da Pensilvânia, Estados Unidos), já haviam provado por estatísticas a melhor conduta feminina ao volante.
No Brasil, a Braspress, empresa pioneira na abertura do mercado de trabalho do transporte de carga à mão de obra da mulher, prefere adotar a acertada filosofia de que “competência não tem sexo”. Daí a presença das mulheres também nesse competitivo ramo dos negócios. E que não se fale em privilégios, uma vez que a empresa realiza programa de treinamento específico para que elas se transformem em profissionais do volante, respeitadas em suas características próprias, mas sujeitas ao que é determinado a todos.
Os controles internos da Braspress mostram que as motoristas mulheres têm maiores cuidados operacionais com os veículos, colaborando para a conservação e, consequentemente, manutenção dos caminhões. Sabem ser educadas no relacionamento com os clientes e mantêm com eles um diálogo muito mais eficaz. No trânsito, são pacientes, o que levou à redução de batidas e de custos de manutenção dos carros, incluindo funilaria.
Em Resende Costa, como não poderia deixar de ser, mulheres em número bastante expressivo podem ser vistas na condução de grande parte da crescente frota de veículos da cidade. Dados do Centro de Formação de Condutores Lara comprovam o que já é visto na prática. Assim, em relação às matrículas de primeira habilitação, em 2008, 31% delas foram de mulheres; em 2009, 35% e em 2010, 40%. No exame de legislação, elas têm desempenho melhor, pois 95% são aprovadas de primeira (serão mais estudiosas?). No entanto, no exame de rua, os homens estão em vantagem, uma vez que levam menos tempo para tirar a carteira de habilitação.
Ao afirmar que 90% das mulheres chegam à autoescola para aprender a dirigir, Alexandre Lara Rodrigues, instrutor de legislação e proprietário da Autoescola Lara, esclarece que o mesmo não acontece com os rapazes. Segundo ele, a maioria deles chega sabendo alguma coisa ou quase tudo sobre como dirigir. Coisas da nossa cultura. É aquela velha história de que menino gosta é de carrinho, e logo, logo vai se interessar pelo carro do pai ou da mãe. E vai começar aprender a dirigir a partir daí. Isso talvez explique o fato de os homens serem mais rápidos na obtenção da tão sonhada habilitação.
Se, de um modo geral, a mulherada chega para aprender dirigir a partir dos 20 anos, muitos meninos mal aguentam esperar a idade mínima exigida por lei (18 anos) e cumprir o que é obrigatório, incluindo o que já é por eles dominado, isto é, as aulas práticas de direção.
Curiosamente, quando se trata de efetuar os pagamentos devidos à autoescola, as mulheres são mais rápidas, afirma Alexandre. Em bom e popular português, isso quer dizer que elas são “boas de conta”. Que os candidatos a motorista não se sintam ofendidos com essa constatação. Como sempre, há exceções, também entre as mulheres.
Uma informação final fornecida pelo CFC Lara dá bem a ideia de como as coisas mudaram, considerando-se o número de mulheres motoristas em Resende Costa até a década passada. Para o Curso Obrigatório de Reciclagem de motoristas habilitados em Minas antes de 1994 e em outros estados antes de 1998, as matrículas aqui na cidade não passaram de 10% entre as motoristas.
Como se pode ver, a realidade hoje é outra em Resende Costa e no Brasil todo, que tem, de acordo com o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN), 33% de motoristas do sexo feminino, ou seja, 1/3 dos motoristas habilitados do país.
Trata-se de um contingente expressivo de brasileiras menos propensas à prática da conduta perigosa álcool e volante ou ao “esquecimento” no uso do cinto de segurança. E quanto à expressão que certas pessoas aplicam às mulheres: “mulheres ao volante, perigo constante”, evocando o conhecido ditado popular, seria mais verdadeiro chamar de necessária prudência o jeito feminino de dirigir (só faltou a rima).
Em tempo: na próxima edição, os leitores vão conhecer um pouco da história de algumas das primeiras mulheres motoristas de Resende Costa.
Mulheres ao volante (1)
12 de Novembro de 2010, por Regina Coelho