Voltar a todos os posts

Na berlinda eleitoral

13 de Setembro de 2010, por Regina Coelho

Dizem por aí que “uma imagem vale por mil palavras”, certo? Em se tratando dos atuais candidatos às eleições de outubro, a máxima parece ser verdadeira. É lógico que “as aparências enganam”, levando-se em conta ainda as possíveis edições e montagens de imagens. Quanto à pessoa propriamente dita, a aparência que ela tem nem sempre revela o que ela é, mas uma “boa estampa” (eta expressão polêmica!) pode ajudar. Isso é fato comprovado e explorado pelos profissionais que coordenam as campanhas políticas. E a julgar pelo visual dos três principais concorrentes à cadeira de Lula, a ação dos marqueteiros já começou há um bom tempo.

Exemplo bem claro disso é o trabalho de transformação física pelo qual passou a candidata Dilma Rousseff ao longo, talvez, de um ano. O que foi feito com ela parece um daqueles famosos quadros de alguns programas de televisão em que a pessoa passa por uma metamorfose estética radical, tudo graças à intervenção de especialistas da beleza e da saúde. Quase sempre o resultado é altamente positivo. No caso da petista Dilma, quanta mudança! E para melhor, justiça seja feita. Cirurgia plástica e realinhamento dos dentes efetuados anteriormente, sem os pesados óculos de grau, produzidíssima, ela é hoje pura elegância. Os terninhos que usa atualmente são muito bem cortados, a maquiagem e os cabelos, impecáveis.

E não me venham dizer que isso é coisa de mulher. Conhecem o José Serra, agora chamado na propaganda eleitoral do rádio e da tevê de Zé? É aquele sujeito carrancudo? Não, isso é coisa do passado. O hoje sorridente candidato tucano arrisca até algumas brincadeiras com os repórteres que o abordam informalmente. Parece uma tentativa de obter uma imagem menos formal, mais descontraída. Quanto à silhueta, nada mudou. Serra continua magro. Nada de especial nas roupas, com uma forte preferência por ternos escuros e de ombros mais largos.

O trio se completa com Marina Silva. Simplesmente não dá para deixar de reparar na sua figura mirrada, de longos cabelos, geralmente presos em coque, e sobrancelhas fartas. O estilo despojado é mantido com as já tradicionais saias longas e batas ou casaquinhos mais sóbrios. Uma marca característica de Marina são os colares, os mais variados, sempre grandes, feitos com sementes ou materiais de artesanato, o que é facilmente associado à sua principal bandeira, a defesa do meio ambiente. Dos três, parece ser a que se produz de modo mais genuíno, menos sujeito aos palpites dos assessores de campanha.

Está tudo muito bom, muito bonito, mas ... e o discurso dos candidatos, as propostas de cada um? E como chegar até o povo e se fazer entender por ele? Aí a situação pode se complicar porque ninguém vive só de imagem, muito menos na conquista pelo voto dos eleitores. Os tropeços, nesse aspecto, costumam ser inevitáveis.

Em suas viagens pelo Brasil, principalmente por Minas, Goiás e Pernambuco, o candidato do PSDB não tem conseguido ouvir ou compreender o que dizem jornalistas da imprensa desses estados. A alegação? Segundo ele, o problema está no sotaque. Será? “Essa fala de vocês, eu não entendo. Eu tenho que prestar atenção”, chegou a afirmar publicamente Serra, em ato de campanha na capital dos mineiros. Uai, sô, e agora?

Quem também enfrenta dificuldades linguísticas é a representante do PT. Provavelmente, por inexperiência em falar de improviso publicamente, Dilma costuma usar frases desconexas ou incompletas. E tome ainda o achismo: “Eu acho que o Brasil...” “Eu acho que os cargos da administração pública...” “Eu acho que conseguimos...” Isso enfraquece o enunciado.

Do ponto de vista da clareza e da eficiência, sinal verde (com o perdão do trocadilho) para a candidata do PV. Sem muito jogo de cintura para brincadeirinhas com a imprensa e com alguns escorregões na gramática, Marina apresenta desempenho satisfatório no quesito comunicação.

Não se cobra, é óbvio, que os candidatos aqui superficialmente analisados e os demais postulantes a todos os cargos eletivos mostrem uma bela estampa aos olhos dos eleitores ou sejam exímios articulistas da palavra. Espera-se, acima de tudo e entre outras condições, que tenham postura e compostura compatíveis com o trato da missão pública.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário