Uma viagem de passeio feita em julho deste ano me levou a observar a interessante relação que se estabelece entre a pessoa que está fazendo turismo e a sua máquina fotográfica. Um dos primeiros itens a ser incluído na bagagem (na minha, inclusive), esse acessório de viagem turística deveria deixar de ser assim considerado porque, na verdade, ele é indispensável para quase todo mundo nessa situação.
Antes de mais nada, preciso dizer que até eu, que nunca morri de amores por fotografias que tiravam de mim ou que eu mesma tirava, tomei um certo gosto pela coisa. Para quem tinha verdadeira aversão ao clique da máquina apontada para mim, mudei muito. Ou era mesmo falta de jeito para o “olha o passarinho!”, sei lá! Sei é que enquanto durou a minha fase, digamos assim, fotofóbica, dei conta de fugir de muitas fotos, até de algumas em que deveria aparecer. Reconheço isso hoje. Em razão desse antigo comportamento, não tenho o registro em foto de certos momentos propícios a isso, alguns até muito importantes para mim. Acontecia que na hora da pose não sabia simplesmente o que fazer. Onde coloco as mãos, meu Deus? Deixo o cabelo para trás ou é melhor jogá-lo para frente? Convém mostrar um leve sorriso ou não? Era um problema, agora felizmente superado.
Dito isto, voltemos ao turista e sua sempre presente câmera fotográfica, o que, de cara, já o identifica como tal. E tome fotografia! É incrível como praticamente tudo pode lhe servir de motivo para uma clicada a mais. Fotos em frente a fachadas ou monumentos famosos, ah, isso todo mundo faz. Mas já vi gente fotografando, por exemplo, uma fruta exótica exposta em banca, vitrine de rua ou no café da manhã, isso quando não é fotografada a própria mesa do café. Uma determinada porta diferente de hotel, uma espreguiçadeira bem prática da praia ou mesmo aquela fontezinha luminosa toda charmosa merecem uma foto. É que a gente pode querer fazer igual alguma delas um dia. Tem aquele tipo que não perde a oportunidade de registrar toda e qualquer manifestação popular. Pode ser uma banda passando, um sujeito vestido em trajes extravagantes ou um garoto escalando um coqueiro altíssimo.
Nesse afã todo em busca da melhor imagem, vale quase tudo, desde esticar o braço até as alturas para alcançar o objeto a ser fotografado, deitar-se no chão e captar determinado teto maravilhoso, até escalar um ponto bem alto e perigoso e de lá conseguir o lugar ideal para mais uma fotografia digna talvez de premiação. Se possível, é preciso tirar várias fotos do alvo escolhido, sob todos os ângulos. Vai que a pessoa perde algum detalhe e aí... É melhor se garantir com mais um clique.
Passado o momento da viagem, vem a ansiedade para mostrar aos mais próximos (ou não, quando o material é jogado no computador) o que foi o passeio. Nessa hora, fica claro que certas fotos ou quase todas simplesmente não interessam a eles. Francamente falando, algumas delas não fazem tanto sentido nem para o seu próprio dono. A propósito, minha amiga Popó tem uma teoria bacana sobre isso. Segundo ela, vale o sentimento da gente na hora da foto. O que a gente teve vontade de expressar através daquela imagem. Concordo inteiramente com ela.
Outro aspecto que me chama a atenção nessa ligação do turista com a sua câmera é a maneira como ele se posiciona para as fotos. É engraçado observar como cada um se comporta. Os mais jovens, normalmente, gostam de mostrar a irreverência típica da idade. Aparecem sempre muito alegres, mostram dentes, às vezes língua, aparelho ortodôntico, piercings e tatuagens. Fazem gestos largos e, se a foto é de turma, é difícil saber quem é o mais animado, a julgar pela expressão facial. Entre as meninas, parece que é tendência atual ficar de perfil. Já as pessoas mais maduras são mais contidas. Algumas se mostram até travadas, parecendo estátuas. Há quem fique com semblante até triste naquele instante só de alegria.
Drama mesmo acontece quando o turista perde a sua quase inseparável companheira de viagem num raro momento de distração em relação a ela. Isso pode significar o fim para ele. Voltar para casa sem ela e, consequentemente, sem o material produzido com tanto empenho e satisfação deve ser muito desagradável.
Uma observação final: não usei o termo “retrato” uma única vez. Hoje tiramos fotos, não mais retratos, não é mesmo? Seja lá como for, o importante é poder guardar com a gente os bons momentos dos passeios. Do dia a dia também, que eles podem ser igualmente inesquecíveis.
Olha o passarinho
11 de Outubro de 2011, por Regina Coelho