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Os nomes

12 de Agosto de 2008, por Regina Coelho

A escolha do nome para a criança que, muitas vezes, ainda não nasceu ou nem mesmo foi concebida quase sempre é feita com carinho por aqueles que podem consumir grande tempo na busca da melhor opção. Mas tudo isso é pessoal, envolvendo, portanto, gosto ou falta dele, vai se saber. Os critérios são muitos e vão do uso de um nome de família como homenagem a um ascendente querido ou ilustre, passando pela preferência por nome de santo, de artista ou de atleta de fama. Pode-se optar também por um nome estrangeiro ou aquele resultante da combinação de parte do nome da mãe e parte do nome do pai. Ainda há casos que são verdadeiras aberrações. Observe estas pérolas: “Oceano Atlântico Linhares”, “Na Ida Na Vinda Na Volta Pereira” ou “Restos Mortais de Catarina”.

Sobre isso bastante já se falou, mas o assunto é amplo, apresenta variáveis, o que pode render muita prosa interessante.

A existência dos homônimos, por exemplo, pode trazer embaraços para os seus donos. Afinal de contas, ter um nome igual a de um sujeito enrolado com a Justiça ou com outro tipo de problema pode levar a pessoa a ser confundida com o seu homônimo. E até que ela prove que não é a outra... Ainda que se trate de confusão envolvendo a identidade de alguém com a de um indivíduo “gente fina”, é confusão do mesmo jeito.

Uma outra curiosidade referente aos nomes das pessoas diz respeito a um grupo de anônimos carregando o peso de pessoas famosas. John Kennedy, Grace Kelly, Rui Barbosa, Marta Rocha e mesmo Adolf Hitler são alguns deles. Tive uma colega de faculdade com o “modestíssimo” nome de Elizabeth Taylor. Imagine só estar associada à imagem da hoje quase esquecida e septuagenária atriz inglesa, outrora famosa pela beleza, em que se destacavam os olhos violeta e a cabeleira negra. Os amantes do cinema, na certa, já puderam ver Liz Taylor vivendo papéis inesquecíveis como o de Cleópatra, poderosa rainha do Egito.

Voltando à questão onomástica, é interessante observar que há também casos de famosos que ganharam apelidos ou nomes de registro inspirados em criaturas igualmente famosas. Assim, o ex-nadador profissional brasileiro Fernando Scherer virou o Xuxa, provavelmente por sua semelhança física com a apresentadora da Globo. Já o lateral-esquerdo Roberto Carlos, que hoje atua no futebol turco, recebeu o nome que o consagrou nos gramados como uma homenagem do pai ao cantor homônimo, de quem ambos são fãs.

No reino animal, a situação é digna de algumas considerações. Começando pelos cães ferozes de grande porte, é quase inevitável que sejam chamados de Saddan, Nero, Átila e nomes de outros líderes que entraram para a História não exatamente por seus métodos pacifistas. Mas justiça seja feita. O simpático gorila Idi Amin, do Zoológico de Belo Horizonte, deve ter sido assim “batizado” só por causa de seu tipo físico avantajado, o que faz lembrar o sanguinário ex-presidente de Uganda. Impossível não citar o nome Napoleão, um dos preferidos para chamar aquele que dizem ser, com a minha discordante opinião, o melhor amigo do homem. Será que todo Napoleão é valente e audacioso como foi Napoleão Bonaparte? E como explicar a singeleza de nomes como Mimosa, Estrela, Esmeralda para tantas vacas que existem por aí?

Sejam óbvios, criativos, simples ou complicados, os nomes com os quais nos reconhecemos como pessoas são mesmo uma necessidade, mesmo nos dias de hoje, quando, infelizmente, somos cada vez mais identificados por números, senhas, certas combinações de signos e outras impessoalidades.


O NOME

Podemos gostar ou não do nome que escolheram para nós. Fato é que ele nos distingue tão logo nascemos e nos acompanha ao longo da vida, transformando-se em marca fortíssima. Tanto isso é verdade que a simples menção dele já nos aproxima de quem o chama.

Ninguém precisa ser psicólogo para saber que as pessoas gostam de ser tratadas pelo nome. Isso pessoaliza, valoriza a criatura que simplesmente cumprimentamos ou com quem convivemos. É claro que não somos obrigados a conhecer todo mundo pelo nome. Muito menos precisamos agir como alguns que nunca viram a cara da gente e perguntam “- Qual é o seu nome mesmo?” - e a pretexto de nos oferecer algum serviço, forçam uma intimidade que não existe e irrita, repetindo nosso nome exaustivamente.

Quanto aos apelidos, há quem os prefira aos verdadeiros nomes ou seja bem mais conhecido por eles. Não é mesmo Márcio Daniel de Souza, Geraldo Maia de Oliveira e José Geraldo de Oliveira? Ou melhor: Brizola, Pimpa e Menguele, três de nossos muitos resende-costenses cujos apelidos sufocam seus respectivos nomes.


OS NOMES

(Manuel Bandeira)

Duas vezes se morre:
Primeiro na carne, depois no nome.
A carne desaparece, o nome persiste mas
Esvaziando-se de seu casto conteúdo
__ Tantos gestos, palavras, silêncios __
Até que um dia sentimos,
Com uma pancada de espanto (ou de remorso?)
Que o nome querido já nos soa como os outros.

Santinha nunca foi para mim o diminutivo de Santa.
Nem Santa nunca foi para mim a mulher sem pecado.
Santinha eram dois olhos míopes, quatro incisivos claros à flor da boca.
Era a intuição rápida, o medo de tudo, um certo modo de dizer “ Meu Deus,
[valei-me”.

Adelaide não foi para mim Adelaide somente
Mas Cabeleira de Berenice, Inominata, Cassiopéia.
Adelaide hoje apenas substantivo próprio feminino.
Os epitáfios também se apagam, bem sei.
Mais lentamente, porém, do que as reminiscências
Na carne, menos inviolável do que a pedra dos túmulos.

Petrópolis, 28/02/1953

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