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“Ouviram do Ipiranga as marens plácidas...”

16 de Setembro de 2009, por Regina Coelho

Não há como negar. A execução do hino nacional mexe mesmo com a emoção da maioria das pessoas. No nosso específico caso, ainda que haja uma geral dificuldade na memorização dos versos do Hino Nacional Brasileiro e um certo preconceito por parte de alguns em cantá-lo (associação aos tempos da ditadura?), nosso sentimento de brasilidade costuma falar mais alto, ou melhor, cantar mais alto quando o ouvimos. No esporte, então, quando nossos atletas conquistam pódios ou medalhas, a identificação povo-Hino Nacional Brasileiro é imediata. E quando se trata do futebol, que é o Brasil vencedor, aquele que dá certo, confundimos tudo. Chegamos a exagerar dizendo que “o Brasil é o país de chuteiras”. É só lembrar os dias de Copa do Mundo e a nação tomada por uma onda verde-amarela de “patriotismo”. Tudo embalado pelos acordes do hino nacional. Seleção brasileira em campo, jogadores perfilados fingindo que cantam, alguns levando a mão ao peito. Torcedores brasileiros devidamente paramentados ou pintados com as cores do escrete canarinho e dominados por uma comoção sem precedentes.

Toda essa introdução vem a propósito da comemoração, em outubro próximo, dos 100 anos de composição da letra desse nosso símbolo nacional, que tem como autor Joaquim Osório Duque Estrada. É bom lembrar que durante quase um século só a melodia (de Francisco Manuel da Silva) foi executada sem ter oficialmente um texto.

Como curiosidade, veja abaixo o que o jornalista Aldo Pereira, autor de um livro sobre o Hino Nacional, propõe: a letra da música lida na ordem direta para uma melhor compreensão da mesma. De quebra, ele apresenta também um glossário com os termos menos conhecidos. Confira!

HINO NACIONAL
As margens plácidas do Ipiranga ouviram
O brado retumbante de um povo heroico,
E, nesse instante, o sol da Liberdade
Brilhou, em raios fulgidos, no céu da Pátria. Se conseguimos conquistar com braço forte
O penhor desta igualdade,
Em teu seio, ó Liberdade, o nosso peito
Desafia a própria morte!

Ó Pátria amada,
Idolatrada,
Salve! Salve! Brasil, se a imagem do Cruzeiro resplandece II
Ó Brasil, florão da América,
Deitado eternamente em berço esplêndido,
Ao som do mar e à luz do céu profundo,
Fulguras iluminado ao sol do Novo Mundo! Teus campos lindos, risonhos, têm mais flores
Do que a terra mais garrida; [e assim como]
“nossos bosques têm mais vida,” [também]
“nossa vida” no teu seio [tem] “mais amores”.
Em teu céu formoso, risonho e límpido,
Um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança desce à terra. És belo, és forte, impávido colosso,
Gigante pela própria natureza,
E o teu futuro espelha essa grandeza. Ó Pátria amada,
Brasil, [apenas] tu,
Entre outras mil [terras],
És terra adorada! Pátria amada, Brasil,
És mãe gentil dos filhos deste solo! Ó Pátria amada... Brasil, o lábaro estrelado que ostentas
Seja símbolo de amor eterno,
E o verde-louro dessa flâmula diga:
Paz no futuro e glória no passado. Mas, se ergues a clava forte da justiça,
Verás que um filho teu não foge à luta,
Quem te adora não teme nem a própria morte. Terra adorada...


Margens plácidas: “plácida” significa serena, calma. Esse é o tom desses versos. Ao contrário do hino de outras nações, o nosso não fala em guerras.
Ipiranga: é o riacho junto ao qual D. Pedro I teria proclamado a independência.
Brado retumbante: grito forte, que provoca eco.
Penhor: usado de maneira figurada, “penhor desta igualdade” é a garantia, a segurança de que haverá liberdade.
Imagem do Cruzeiro resplandece: o “Cruzeiro” é a constelação do Cruzeiro do Sul, que brilha, ou resplandece, no céu.
Impávido colosso: “Colosso” é o nome de uma estátua de enormes dimensões. Estar “impávido” é estar tranquilo, calmo.
Mãe gentil: a “mãe gentil” é a pátria. Um país que ama e defende seus “filhos”, os brasileiros, como qualquer mãe.
Florão: “Florão” é um ornato em forma de flor usado nas abóbadas de construções grandiosas. O Brasil seria o ponto mais importante e vistoso da América.
Garrida: enfeitada, que chama a atenção pela beleza.
Lábaro: “lábaro” era um antigo estandarte usado pelos romanos. Aqui é sinônimo de bandeira.
Clava forte: clava é um grande porrete, usado no combate corpo-a-corpo. No verso, significa mobilizar um exército, entrar em guerra.

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