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Política

18 de Novembro de 2020, por Regina Coelho

durante a implementação do Plano Real, o economista Edmar Bacha, que fazia parte da equipe de FHC, então ministro da Fazenda, ia diariamente ao Congresso convencer os parlamentares de que o novo programa teria sucesso. Essa informação consta da entrevista dele à Veja (Páginas Amarelas – 7/10/2020). À pergunta de que lições teria tirado do relacionamento que manteve com os congressistas naquela época, foi direto ao dizer:

“Guardei algumas frases que os políticos me diziam. Um dizia: ‘Ô, Bacha, você é Ph.D e tudo mais, mas não vai achando que vai enganar alguém, não. Aqui, o mais bobo foi eleito’. Um outro virava e falava: ‘A gente gosta de verba, mas o que a gente quer mesmo é palanque e prestígio’. E um terceiro disparava: ‘Em negociação política, o relógio zera todo dia, nunca dê hoje para pegar amanhã’.”

Também guardei essas frases sentindo e compartilhando com o entrevistado tal desconforto em relação ao funcionamento dessa engrenagem política de bastidores, mesmo não havendo nisso novidade alguma. Ocorre que estamos em época de eleições municipais pelo país. Fala-se muito nas candidaturas ligadas ao Poder Executivo, talvez pelo número mais reduzido de candidatos e/ou pelo destaque dado a alguém a ser eleito para ocupar uma cadeira única em qualquer uma das esferas desse poder. No entanto, é no Legislativo que tudo começa, basicamente com a criação das leis e a fiscalização ao Executivo.

E candidato a vereador é o que não falta, em Resende Costa também. Em ano de pandemia, a campanha política é atípica, mas a disputa pelas 9 vagas do nosso Legislativo é a de sempre, envolvendo 72 postulantes. Uma breve análise sobre a relação de nomes dos candidatos e seus respectivos partidos revela que o número de candidaturas femininas no município apenas atinge o percentual de 30% a ser cumprido por partido em conformidade com a atual legislação eleitoral. Esse quadro local reflete uma tendência geral, ainda sem apresentar aumento expressivo no número de mulheres candidatas. “Mas podemos perceber uma mudança qualitativa de ter candidaturas reais, com condições materiais, por conta da cota financeira”, (vinda dos Fundos Partidário e Eleitoral e repassada pelos partidos a suas candidatas), avalia Polianna Santos, advogada, professora da PUC-Minas e diretora-presidente da Associação Visibilidade Feminina. “Existe uma questão cultural de achar que lugar da mulher é dentro de casa, e não ocupando espaço de poder na política. Então ela é cantada, menosprezada, objeto de chacota. Quando é eleita, falam de sua roupa, do seu corpo”, diz ela. O que não acontece com os homens.

Eis aí mais uma desigualdade de gênero a ser combatida. A reserva de cotas (numérica e passo adiante agora, financeira) se propõe a isso como começo para candidaturas viáveis e não de fachada ou “laranjas”, artifício este que desacredita a luta e a competência das mulheres também no campo político. No corpo a corpo eleitoral deste 2020, aqui entendido como mera figura de retórica devido ao recomendado distanciamento social, que as candidatas de verdade (e candidatos idem) se apresentem para o bom jogo político fazendo valer suas ideias.

Com mulheres candidatas somente à Câmara na cidade, mesmo assim em número menor, é oportuno lembrar que o vereador é a figura mais próxima do cidadão, condição que o habilita a conhecer melhor a sociedade e a representá-la em suas demandas. No entanto, é bom também desconfiar de quem promete o que não pode cumprir, seja em campanha ou já eleito (haverá uma outra eleição e aí...).

Em retomada à resposta de Bacha, não obstante o decurso de quase 27 anos em que teriam sido proferidas as falas ali contidas e atribuídas a membros do Legislativo Federal da época, elas soam ainda hoje e soam mal porque configuram práticas estranhas, para dizer o mínimo, e reincidentes ao longo do tempo. Nada que possa servir de exemplo positivo aos que anseiam por ingressar na política com propostas voltadas para a busca do bem comum, sem tamanhas espertezas, certas vaidades tolas e o famoso toma lá dá cá, entre outros desvios.

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