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Segundo tempo esportivo

11 de Janeiro de 2009, por Regina Coelho

Alcebíades de Magalhães Dias, árbitro mineiro nas décadas de 40 e 50, entrou para a galeria dos tipos inesquecíveis do futebol brasileiro em virtude de um episódio pitoresco ocorrido em uma das inúmeras partidas em que atuou. Jogavam Atlético Mineiro e Botafogo, até que a bola saiu pela lateral. Foram dois jogadores, um de cada time, perguntar ao juiz de quem era a posse de bola. Prontamente, ele respondeu ao zagueiro do Galo, então chamado de beque:

- É nossa, Afonso, é bola nossa!

Essa frase o acompanhou pelo resto da vida e virou extensão de seu nome, fazendo nascer o folclórico Cidinho Bola Nossa, um atleticano ‘‘autêntico, mas não fanático’‘, como ele mesmo se definiu.

O caso narrado acima e tantos outros compõem um anedotário digno de figurar em intermináveis conversas envolvendo os apaixonados pelo esporte número 1 do país. Acompanhem esta outra história:

Numa viagem aérea do time do Flamengo, Renato Gaúcho, muito gozador, diz para Fábio Baiano:

- A aeromoça, além de bonita, fala inglês e espanhol, porque é ‘‘troglodita’‘.

Muito galanteador, Fábio Baiano chega-se à aeromoça e cheio de sorrisos lhe diz:

- A senhora, além de bonita, é uma troglodita muito inteligente.

Ainda seguindo a linha da troca de palavras, recordo Joel Santana, quando técnico do Botafogo, ao afirmar:

- Afastei o Alexandre porque resolvi ‘‘privatizar’‘ a disciplina.

E tem aquela explicação de um dirigente do Santos:

- Não vamos trazer mais nenhum jogador. Acabou o ‘‘circo’‘ de contratações.

Em se tratando do que disse um desses repórteres de gramado, só pode ter sido o sol escaldante o culpado pela ligeira confusão:

- Está fazendo um calor ‘‘ensurdecedor’‘.

Não posso cometer a injustiça de deixar de citar o lendário Vicente Matheus, que foi presidente do Corinthians por oito mandatos. Matheus produzia máximas (alguns dizem que propositadamente) carregadas de incorreções e que divertiam amigos e desafetos. Selecionei as seguintes:

- Vou dar uma ‘‘anestesia’‘ geral para os sócios com mensalidade atrasada.

- Jogador tem que ser completo, tem que ser como o pato, que é aquático e gramático.

- O Sócrates é invendável e imprestável.

- O difícil, como todos sabem, não é fácil.

Todos nós, os amantes do futebol, também sabemos que ‘‘Clássico não tem favorito’‘; ‘‘Todo grande time começa com um grande goleiro’‘; ‘‘Treino é treino, jogo é jogo’‘; ‘‘Em time que está ganhando não se mexe’‘ e o máximo das máximas: ‘‘O FUTEBOL É UMA CAIXINHA DE SURPRESAS’‘.


UM CRAQUE NO FUTEBOL DE RESENDE COSTA

O que de certa forma prometi, na edição passada, penso ter cumprido no artigo acima. Tenho de reconhecer, porém, que ando inclinada a continuar falando das histórias sobre o futebol, agora tratando desse esporte em Resende Costa, envolvendo outras épocas.

Consultando a obra de Gentil Vale, o autor de ‘‘Visões Perdidas’‘ faz uma primeira referência ao Resendino, time que brilhou no campo do Alfredo Macedo (farmacêutico e meu tio-avô materno). O campo em questão é a área hoje ocupada pelo Lar São Camilo. Em seguida, ele cita o Operário. Segundo Gentil, foi ‘‘sem dúvida, o mais famoso e brilhante de todos. Seu campo ficava no Pau-de-Canela, perto do cruzeiro. (...) Este time muito raramente perdia dentro e fora de Resende Costa. Deu muita alegria ao povo’‘. Ainda de acordo com o nosso escritor, ‘‘outro que também teve sua trajetória brilhante e que muitos triunfos conquistou foi o Resende Costa Esporte Clube’‘. Os jogos do time tinham como cenário o campo do pasto do Mané Cassiano (pai da Nenega do Célio Ramos), porque o do Pau-de-Canela havia sido desativado. E mais: ‘‘Lá pelo início da década de 40 surgiu o Expedicionário Esporte Clube, sob a presidência do ‘Sô Bico’, como era popularmente conhecido o senhor Olinto Argamim de Freitas e cujo nome batiza, com justiça, o principal campo de futebol da cidade’‘.

Especificamente no que diz respeito a esse nosso antigo cartola, que era dentista de profissão, o mesmo Gentil, em sua obra ‘‘Estrelas Cadentes’‘, destaca o seguinte: ‘‘Seu esporte favorito era o futebol, e, por longo tempo, foi presidente das agremiações esportivas resende-costenses. Entregava-se de corpo e alma ao esporte bretão, para cujo sucesso gastava muito dinheiro de seu próprio bolso’‘. E também afirma que, entre os filhos, ‘‘Totonho, Ari, Hélio e Iraci foram verdadeiros craques de futebol’‘. E que ‘‘time de que faziam parte muito raramente perdia’‘.

Evidentemente, muitos outros nomes brilharam ao longo dos anos por nossos gramados e os das cidades vizinhas. Não tenho a pretensão de saber quem foi o nosso melhor jogador. Deixo isso para os mais entendidos no assunto e os mais vividos, quem sabe através de uma pesquisa popular? Nada disso me impede, no entanto, de apontar o Iraci da dona Olga como o nosso craque. Não o vi jogar e confesso que sou suspeitíssima para falar dele por uma razão de fundo sentimental: a bela amizade de uma vida inteira que o uniu a meu pai desde a infância de ambos, tornando o ‘‘compadre Iraci’‘ uma pessoa muito querida de todos na minha casa. Sentimentalismos à parte, recorri a algumas fontes fidedignas para que pudessem se manifestar sobre essa questão . Não deu outra. Obtive ainda a informação de que o Iraci teve a chance de jogar no Flamengo, mas como jogador de futebol, naquela época, não desfrutava do status que tem hoje e a profissão era vista com certa reserva pela sociedade, ‘‘Sô Bico’‘ decidiu que o filho não ficaria no Rio.

Nos dias atuais, como legítimo representante da novíssima geração da família Freitas, está aí o Vítor, filho da Ana Maria e neto do Iraci, revelando-se um garoto muito bom de bola. Com certeza, há outros meninos como ele. Precisamos descobri-los, dando-lhes oportunidade de construir novas e bonitas histórias ligadas ao futebol de Resende Costa.


PARA REFLETIR

VIDA
A vida são deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê já são seis horas! Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já terminou o ano... Quando se vê, passaram-se 50 anos!
Agora, é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dada, um dia, outra oportunidade, eu nem olharia o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho,
a casca dourada e inútil das horas...
Desta forma eu digo, não deixe de fazer
algo que gosta devido à falta de tempo,
a única falta que terá será desse tempo,
que infelizmente não voltará mais.
(Fragmentos)
Mário Quintana

Comentários

  • Author

    Sou palmeirense não praticante, mas devo tirar o chápeu para o inesquecível Vicente Matues - a desciclopédia, comento e acrescento, a mais conhecida de suas frases:
    Faca de dois legumes.
    e a outra:
    Nosso time estava na beira do abismo, mas tomou a decisão certa: deu um passo à frente.........

    abraços....


  • Author

    Belas escritas, professora!! Por isto mesmo você continua sendo minha referência como professora.Parabéns e saudades!!


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