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Só na harmonia

10 de Agosto de 2017, por Regina Coelho

de passagem por Maringá (PR) no início de maio deste ano para um show, Anitta acabou criando uma grande polêmica com os moradores da cidade. A confusão começou quando ela publicou vídeos em seu Instagram Stories chamando a atenção dos internautas para os erros de inglês das placas de avisos da suíte do hotel onde estava hospedada. Nos posts, Anitta grifou os deslizes linguísticos e aparece usando orelhas e focinho de burro.

“Please, DO NOT CHANCE MY BEDSHEETS TODAY.”

(Por favor, não troque (change) meus lençóis hoje.)

YOY BEDSHEETS ARE CHANGED DAILY.”

(Seus (your) lençóis são trocados diariamente.)

Transcritas acima (aqui traduzidas e corrigidas por mim), as frases em questão e a imagem da “professora” Anitta devidamente caracterizada de asno provocaram muitos comentários nas redes sociais, a maioria deles reprovando a atitude da cantora.

Episódios não tão agradáveis envolvendo artistas e seu público são relativamente comuns. Nessa relação de duas partes que se completam numa autêntica simbiose, em algum momento, de lado a lado, essa harmonia pode se quebrar. Fala-se muito, por exemplo, do artista afetado pela fama, o famoso “mascarado”, aquele que passa a ignorar quem o acompanha ou o admira. Fala-se pouco, no entanto, do fã abusado, aquele que passa a perseguir seu ídolo insolentemente a qualquer hora, em qualquer lugar. Em ambos os casos, o estresse é certo, como acontece em outras circunstâncias também.

Mas nada supera o que ocorre nos shows ao vivo em se tratando de tudo o que pode causar estranhamento entre os lados envolvidos nesse tipo de evento. No topo da lista de problemas aparecem as bebedeiras não controladas no palco, situação que continua rendendo, não só literalmente, muita dor de cabeça a certos cantores por este país afora. Recentemente, precisamente no dia 28 de maio deste ano, em apresentação na Festa Nacional do Milho (Fenamilho), em Patos de Minas (MG), o cantor Bruno, parceiro de Marrone na dupla que leva o nome dos dois, extrapolou na bebida, deu vexame e desculpou-se depois pelo ocorrido. Caso parecido se deu em 2015 protagonizado pela também dupla sertaneja Jads e Jadson. Alegando problemas de saúde, Jadson não compareceu em um show deles que aconteceria no Parque de Exposições de Entre Rios (MG) e fez com que o irmão fosse vaiado pela plateia ao tentar explicar a ausência do parceiro, que teria tomado todas e ficado sem condições de se apresentar profissionalmente no local. E claro! É quase obrigatório completar essa trinca de etílicos fiascos públicos vindos dos palcos lembrando uma certa noite em Resende Costa. Nos idos anos 90, o público presente no Parque do Campo viveu momentos inesquecíveis em mais uma edição da nossa Exposição Agropecuária. Naquele dia, quem roubou a cena, não exatamente por seus atributos artísticos, foi a cantora Nalva Aguiar. Visivelmente embriagada, portanto incapaz de cantar decentemente, ela teve de ser retirada do palco sob vaias e xingamentos quase gerais. Espetáculo patético aquele!

Existem muitas outras situações em que essa relação artista/público pode ficar estremecida. Em se tratando, por exemplo, de pequenas cidades do interior, há registros de casos de artistas que nem se dão ao trabalho de guardar e citar publicamente o nome do lugar onde se apresentam. Ou pior, trocam o nome da cidade. Pode parecer bobagem, mas todo mundo gosta de ser tratado com o que o identifica corretamente. Os atrasos monumentais para o início de um show costumam também incitar, no mínimo, muitas vaias aos astros retardatários. Mas verdade seja dita. Muitas vezes é a plateia que “desafina” com brigas incontornáveis, insultos gratuitos dirigidos a quem está se apresentando, objetos perigosos atirados ao palco ou mesmo invasão do local.

Show de verdade tem protagonismo certo: o artista e seu público, mesmo reconhecendo o anônimo trabalho coletivo dos que atuam em favor do bom espetáculo. Sem conflitos. Encontro feliz dos dois lados.

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