Voltar a todos os posts

Sobre as Lajes

16 de Junho de 2021, por Regina Coelho

À citação do nome do município hoje conhecido também como cidade do artesanato, evocam-se as figuras de José de Resende Costa (Pai e Filho), cidadãos do então Arraial da Lage (assim mesmo, com g) e depois incorporados à Inconfidência Mineira. Nosso passado “inconfidente” e a tradição dos teares produzindo trabalho, beleza e movimento de turistas por estas bandas são especificidades que nos marcam como resende-costenses. No entanto, é preciso considerar que, na verdade, nossa identidade primeira tem origem nas Lajes, esse chão negro sobre o qual Resende Costa se eleva. E como testemunhas silenciosas desta e de outras épocas, guardam incontáveis histórias.

Basicamente, elas abrangem três espaços, assim denominados: Lajes de Cima ou da Matriz, Lajes de Baixo ou do Quartel e Lajes da Cadeia, atrás do Fórum (prédio usado anteriormente no térreo como cadeia) e de casas vizinhas a ele. Pela proximidade com o Assis Resende, esse último lugar era muito frequentado pelos alunos que matavam aula e o usavam como esconderijo, mesmo sob o risco do eventual aparecimento de algumas cobras-corais (imagino que da espécie inofensiva), da mesma forma que os meninos gazeteiros, escondidas por ali. Meu pai e seus ajudantes alfaiates costumavam levar os tecidos antes molhados na alfaiataria para que secassem sobre parte dessa grande pedra (hoje, casa que pertence à família da Iêda Melo) e pudessem ser cortados sem o perigo de encolhimento posterior das roupas. Esse pedaço de um símbolo de nossa cidade, já há algum tempo, se mantém fechado ao acesso público.

Das Lajes de Baixo tenho boas lembranças de infância. Como o imenso quintal da casa de minha avó Zezé chegava até lá, era fácil ir para aquele outro ambiente e participar de muitas brincadeiras entre a criançada que se juntava pensando nisso mesmo. Brincar de burrinha era uma delas. Do alto do lajedo, do lado que dá para o prédio da prefeitura, a gente se sentava sobre folhas de piteira e descia a bordo dos nossos tobogãs improvisados escorregando pela laje até parar naturalmente bem abaixo. Para subir depois e descer de novo. E mais e mais.

“Sobre sua superfície negra, formavam-se pequenas depressões circulares, que represavam as águas da chuva, assemelhando-se a pequeninas lagoas.” (Gentil Vale – O tempo, esse itinerante). A descrição do nosso escritor sobre esse ponto das Lajes suscita a memória em bonitas imagens. Como a da Amália e da Neném, filhas da Iana e tias da Nincéia (ainda moradora das Lajes), levando suas trouxas de roupa para lavação naquela abençoada represa natural. Ou como a dos meninos disputando com elas e alguns girinos o direito ao uso daquela imitação de piscina.

À entrada da Praça N. S. de Fátima, já se entreveem as Lajes da Matriz (ao lado direito da igreja) ou Lajes de Cima (no ponto mais alto da cidade), nosso maior, mais belo e mais famoso cenário natural, com suas tardes de esplêndido pôr do sol e animadas noites de serestas e luaus. Espaço para conversar, meditar, namorar. E brincar, como fazia em outros tempos a meninada ao se equilibrar andando sobre os canos grossos, pretos e suspensos da antiga caixa d’água municipal, ou em torno deles revirar o corpo em incontáveis cambalhotas, em local que conduz também até o Buraco do Inferno, uma caverna situada na base da imensa rocha.

Fala-se muito da necessidade de revitalização das nossas Lajes pela importância da proteção do nosso patrimônio, primeiramente, e do bom atrativo turístico que elas representam para a cidade. Alguns passos nesse sentido vêm sendo dados em intervenções, por exemplo, como o Mirante das Lajes (da Matriz), ponto de observação para mirar, de fato, imagens de grande beleza. Como novidade e no mesmo lugar, a instalação do logotipo “#EU    RESENDE COSTA”, inspirado no célebre “I love NY”, do designer gráfico americano Milton Glaser, é para nós uma declaração de amor a RC; um pano de fundo na fotos dos turistas marcando presença por esta terra.

Deixe um comentário

Faça o login e deixe seu comentário